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Pedra no meio do caminho

Por Flávia Mattar/Ibasenet   17 de setembro de 2002
Rio de Janeiro - Éuma situação difícil para jovens e adultos não saber assinar o próprio nome. Surgem constrangimentos, dificuldades de arrumar emprego, problemas de auto-estima. Agora, tente imaginar por quantas situações de exclusão uma pessoa com 60 anos ou mais, analfabeta, já passou no decorrer da vida. É incontável.

Segundo pesquisa do IBGE - O Perfil dos Idosos Responsáveis pelos Domicílios no Brasil - existem 5,1 milhões de idosos(as) que não aprenderam a ler e escrever. Trata-se de um número alto, já que o país apresenta um total de 15 milhões de pessoas com mais de 60 anos, ou seja, 8,6% da população.

Apesar dos números divulgados pelo IBGE revelarem uma triste face da terceira idade, já são observados sinais de melhora da situação, ainda que insuficientes. Em 1991, 55,8% de idosos(as) disseram saber ler e escrever ao menos um bilhete simples. Nove anos depois foi constatado um aumento de 16,1%.

"Esse é um retrato de uma época, mais precisamente das décadas de 30, 40 e 50. Não fazia parte dos hábitos da sociedade a questão da leitura, da cultura. Ainda mais se pensarmos que a maior proporção de iletrados está entre mulheres, que ficavam responsáveis pelas tarefas domésticas. Em 2010, 2020 essas estatísticas estarão bem melhores", explica Renato Veraz, diretor da Universidade Aberta da Terceira Idade da Uerj (Unati).

Os homens idosos (67,7%) são, realmente, mais alfabetizados do que as mulheres (62,6%). O Censo 2000 revela uma média muito baixa na avaliação do número de anos de estudo de idosos(as) responsáveis pelo domicílio - 3,4 anos, sendo 3,5 anos para o sexo masculino e 3,1 para o feminino. Porém, ao serem comparados esses dados com os de 1991, foi constatado um crescimento, sendo que a média das mulheres (29,2%) foi maior do que a dos homens (25%).

"Essa será uma tendência crescente. A mulher, com relação ao mercado de trabalho, está em fase de ascensão. É requerido dela a educação. Em um mundo globalizado, sua participação será cada vez mais ativa", acredita Renato.

Mapa da educação

Entre os estados, a média de anos de estudo de idosos(as) responsáveis por domicílio demonstra grande variação (6 anos no Distrito Federal a 1,5 ano no Maranhão). Nos estados do Nordeste e Norte, onde a população rural é mais expressiva, a média de anos de estudo nas capitais é bastante superior. No Maranhão (1,5), a escolaridade média é inferior à média em São Luís (4,7), sua capital.

Niterói (8,2), no Rio, e Águas de São Pedro (7,3), em São Paulo, têm a maior média de anos de estudo de idosos(as) no país e Novo Santo Antônio e Barra D'Alcântara, localizados no Piauí, empataram com a menor média (0,2).

"Uma explicação para o grau de escolaridade de idosos em Niterói poderia ser o fato de que muitas pessoas que tiveram acesso à educação, pertencentes a uma classe social com mais recursos, ao se aposentar, resolveram ir morar no município, principalmente no litoral, em busca de uma vida mais tranqüila. Mas são inúmeras as alternativas para explicar o fato. Essa é apenas uma delas."

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