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ONG critica entrevista do iG
O Grupo pela Vidda combate a Aids e considera a reportagem sensacionalista. Nega que o entrevistado tenha participado da fundação da ONG, como enfatiza o texto de Darlan Alvarenga, e diz que não é a maior e mais importante ONG de combate à Aids da América Latina.
“Quanto ao conteúdo da entrevista, mesmo estando claro que trata-se de posição pessoal do entrevistado (que tem o direito a tal opção), o Grupo Pela Vidda/SP vem manifestar-se publicamente contrário e condenar a ‘propaganda’ e promoção da barebacking ou qualquer outra modalidade de sexo desprotegido”. A ONG conclui, no parágrafo que antecede a assinatura do presidente do grupo, Wilson Amaral Merege: “Lamentamos a alta dose de sensacionalismo da entrevista e esperamos que sua publicação possa pelo menos contribuir para a ampliação do debate sobre as falhas e as dificuldades da prevenção”.
Reafirmo, nesta Link SP, o que aqui escrevi na edição passada: o repórter conduziu a entrevista com correção. Poderia, como pede o sensacionalismo, se aproveitar de um tema underground para embutir preconceitos e baixar para as minúcias apelativas, para a curiosidade torpe, para as entrelinhas doentias. Não o fez. Questionou com sobriedade e buscou, em cada pergunta, alcançar as conseqüências dessa prática de lunáticos.
Ao contrário do que a elogiável ONG apregoa, a sociedade não pode empurrar a sujeira para baixo do tapete. Cada qual encare a divulgação como quiser: como propaganda, como “promoção da barebacking ou qualquer modalidade de sexo desprotegido”, ou, ainda, como uma oportunidade ímpar que todos nós temos de conhecer uma minoria que pode provocar danos sociais calcada, justamente, na distorção dos fatos - como o abrandamento da Aids - e na névoa subjetiva que privilegia as emoções e a individualidade irresponsável.
A luta contra a Aids é de toda a sociedade. Os meios de comunicação têm o dever de alertar para os movimentos que solapam o trabalho árduo na busca da prevenção e da cura da doença. Prefiro que os nossos pré-adolescentes, os nossos adolescentes, enfim, que toda a população se informe pelo Último Segundo, pela IstoÉ e outros veículos.
São reportagens sérias que explicam, sim, a real atmosfera da Aids no Brasil. No iG, na mesma edição da entrevista, o leitor também deparou com uma matéria que analisa o barebacking e reforça a realidade: a Aids mata, apesar dos coquetéis, e a sobrevida está longe de ser um conto de fadas.
O que devemos fazer? Esperar que esses grupos de ignorantes venham a se expandir na calada do instinto, no silêncio da inconsciência que leva à desestruturação, à perda de vidas e à desgraça de tantas famílias? Devemos, então, deixar a “informação” para os barebackers e seus endereços que se multiplicam na internet?
Criticar a divulgação responsável é atuar como o pai e a mãe que se obscurecem no tabu, recusando-se a falar de sexo e drogas com os filhos. Até o dia em que um traficante simpático aparece com suas “orientações”.
Quanto ao fato de o escritor ter ou não participado da fundação do Grupo pela Vidda, cabe ao Último Segundo esclarecer. Há pesos distintos entre uma entrevista de Lúcifer - o anjo caído - e um condenado comum dos infernos.
Outra coisa: o Grupo pela Vidda é ou não a maior e mais importante ONG de combate à Aids da América Latina? Como leitor, gostaria de saber. Encerro concordando com a ONG: a entrevista do iG pode, sim, “contribuir para a ampliação do debate sobre as falhas e as dificuldades da prevenção”.