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Comércio justo começa a ganhar espaço no Brasil
O comércio justo também promove a participação dos produtores no processo de planejamento, execução e avaliação dos resultados do trabalho; respeita a originalidade e a identidade culturas dos produtos; garante a ausência de trabalho forçado, trabalho infantil ou de qualquer tipo de discriminação; e promove o respeito ao meio ambiente. Ao todo, são vendidos no Espaço Mundaréu produtos de 26 associações e cooperativas de todo Brasil que respeitam esses princípios.
Sem fins lucrativos, a loja é o primeiro projeto da ONG Associação Mundaréu, voltada para o incentivo do comércio justo. “O intermediário muitas vezes fica com grande parte do lucro. Queremos fazer com que o comércio beneficie o produtor”, explica a coordenadora geral da Associação Mundaréu, Lizete Prata.
Lizete resolveu fundar a Mundaréu quando percebeu que iniciativas governamentais e privadas que tinham como meta o fim da miséria no País ficavam no meio do caminho. "Havia capacitação profissional, mas nenhum auxílio para colocar esse novo profissional no mercado e ajudá-lo a vender. A loja Mundaréu surge como a etapa final desse processo, aproximando o produtor do consumidor, que passa a conhecer o trabalho e tem a chance de adquirir a mercadoria não somente pela qualidade do produto, mas também pela qualidade do processo em que foi produzido", afirma a coordenadora geral.
O conceito de comércio justo
Apesar de só agora estar sendo difundido no Brasil, o conceito de comércio justo não é novo. Ele surgiu na Europa por volta dos anos 60, através de grupos que tinham interesse em ajudar os países em desenvolvimento. A idéia era mostrar ao público europeu as injustiças e o desequilíbrio social causados pelo comércio internacional. Assim, em 1969 foi inaugurada na Holanda a primeira “loja solidária”, que vendia produtos do Terceiro Mundo cuja entrada no mercado europeu era prejudica pelas barreiras comerciais. O movimento logo se espalhou por todo o continente europeu e mais tarde chegou aos Estados Unidos, Canadá e Japão.
Hoje, dezenas de organizações internacionais promovem o comércio justo, como a Federação Internacional do Comércio Alternativo (IFAT, na sigla em inglês), a Associação Européia de Comércio Justo (EFTA) e a Federação do Comércio Justo (FTF). Existem selos que certificam as mercadorias produzidas através do comércio justo e cerca de 3 mil lojas espalhadas pelo mundo que comercializam esses produtos. A coordenadora geral da Associação Mundaréu visitou algumas dessas lojas antes de iniciar o projeto no Brasil. “Estas organizações trabalham principalmente com a comercialização de produtos alimentícios, como café, chá e mel. O Brasil, por exemplo, já vende castanha-do-pará e suco de laranja através do comércio justo”, conta Lizete.
A Associação Mundaréu optou por focar seu trabalho na venda de produtos artesanais. “Vimos que no Brasil existiam muitos projetos sociais para incentivar a produção de artesanato, mas não havia meios para o escoamento da produção”, diz Lizete. A Associação também decidiu investir no desenvolvimento das habilidades das cooperativas produtoras, ajudando na organização da produção. Através de uma parceria com a Fundação Telefônica ela ajuda a estruturar os grupos produtores, promover uma divisão de trabalho, e criar marcas e embalagens mais competitivas.
Outro objetivo do projeto é difundir o conceito de comércio justo no País. Por isso, o Espaço Mundaréu é, além de um ponto de venda, um espaço cultural para a troca de experiências entre os produtores, realização de palestras e workshops. “Para que possamos criar um selo no Brasil, a questão do comércio justo ainda precisa ser mais discutida e valorizada, pois só assim uma certificação será reconhecida”, afirma Lizete. Ela acredita que existe uma grande abertura do consumidor brasileiro para este tipo de produto.
Comércio justo X comércio com justiça
Enquanto a Associação Mundaréu trabalha para difundir o conceito de comércio justo entre os consumidores brasileiros, em abril de 2002 a ONG britânica Oxfam lançou uma campanha mundial para promover o comércio com justiça. “Também trabalhamos com o comércio justo, mas agora estamos tratando de uma tema mais amplo, que é o comércio com justiça”, explica a assessora de mídia e advocacy da Oxfam no Brasil, Kátia Maia.
A Oxfam pretende ir além da abertura de lojas que comercializam produtos do comércio justo. A entidade quer promover uma discussão das regras do comércio mundial. Ela defende que as regras e relações comerciais atuais são injustas e aumentam a situação de exclusão e pobreza no planeta. A campanha da Oxfam pretende levar para o cidadão comum temas complexos como a manipulação do comércio internacional pelos países ricos, a questão da propriedade intelectual, das commodities, entre outros assuntos diretamente relacionados ao comércio.
Junto com o lançamento da campanha, a ONG apresentou o relatório “Mudar as regras – Comércio, Globalização e Luta contra a Pobreza”. “O estudo mostra, entre outros números, que milhões de pessoas poderiam sair da pobreza se a África, América Latina, Sudeste Asiático e Extremo Oriente tivessem sua participação nas exportações mundiais aumentadas em apenas 1%”, afirma Kátia.
Para saber mais sobre a Mundaréu, acesse o endereço www.mundareu.org.br e sobre a Oxfam, www.oxfam.org.