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Ações educacionais ajudam na inclusão social

Por Tatiana Wittmann   21 de setembro de 2002
São Paulo - Num mundo em que algumas nações ostentam alto grau de desenvolvimento econômico e social, a marca registrada ainda é a exclusão da grande maioria das populações. Apesar de haver um consenso internacional de que é necessário reduzir as desigualdades na distribuição e usufruto das riquezas, ainda existem muitas divergências quanto à forma de operar essa transformação socioeconômica. Durante a Arena de Responsabilidade Social do 17o Congresso Mundial de Petróleo, que aconteceu no Rio de Janeiro de 2 a 5 de setembro, personalidades do terceiro setor chamaram a atenção para a importância da educação na busca pela inclusão social.

“A educação é um instrumento para alavancar outras áreas e atividades, sejam sociais ou empresariais. Melhorando a educação você melhora a qualidade de vida e as condições de acesso à renda e saúde”, disse a presidente da Fundação Banco do Brasil, Heloisa Helena de Oliveira, durante o debate Educação e Transformação Social, que aconteceu no dia 3 de setembro. Para Heloisa, uma educação continuada e de qualidade, corresponde a melhores condições de profissionalização, empregabilidade, rendimento e poder aquisitivo. Já para o representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil, Jorge Werthein, também é preciso que se façam outras mudanças nas estruturas do País. “A educação, por si só, não é capaz de acabar com a exclusão social. Mas, sem ela, isso se torna impossível”, falou Werthein.

Durante o debate, a antropóloga e presidente do Conselho da Comunidade Solidária, Ruth Cardoso, destacou a importância das parcerias, entre os diversos setores, na luta pela solução dos problemas sociais brasileiros. Ruth lembrou que, em 1995, quando criou o Comunidade Solidária, foi muito criticada por acreditar no potencial de parcerias entre os dois setores, o público e o privado. “Muitos disseram que o empresariado brasileiro não tinha tradição em participar de transformações sociais, só pensavam no lucro. Minha visão era outra. Hoje tenho a satisfação de dizer que tinha razão, e ver que o Comunidade Solidária provou isso”, disse.

A antropóloga também chamou a atenção de que o trabalho voluntário sempre existiu, mas não tinha o reconhecimento que tem hoje; e falou que o conceito de responsabilidade social fez as empresas mudarem o tipo de ações que realizavam. “A responsabilidade social substituiu completamente a idéia de filantropia e assistencialismo, oferecendo projetos mais consistentes”, apontou. “Hoje é consenso em todo o mundo que o Estado não pode, sozinho, dar conta de todas as instâncias de serviços sociais. Todos os setores da sociedade têm que trabalhar em parceria”, resumiu Ruth Cardoso.

Heloisa Helena, da Fundação Banco do Brasil, concordou com Ruth, mas acrescentou que tão importante quanto realização de projetos sociais, é a disseminação destas experiências. “Existem excelentes ações sendo realizadas no país, e elas podem surtir resultados positivos em outras regiões. O problema é que não são conhecidas fora do lugar onde são implementadas”, afirmou. Para reverter esta realidade, a Fundação Banco do Brasil criou o Banco de Tecnologias Sociais, que possui 129 ações cadastradas. “Através dele disseminamos experiências e conhecimentos capazes de gerar efetiva transformação social. As tecnologias sociais são idéias simples, testadas e aprovadas, capazes de resolver questões sociais das mais diversas áreas”, explicou.

Na tarde do mesmo dia, as entrevistas na Arena de Responsabilidade Social reuniram representantes de organizações não-governamentais (ONGs) e instituições que usam a educação como forma de inclusão social. Os participantes concordaram que o crescente engajamento de empresas no desenvolvimento social, já pode ser comemorado. “É possível realizar projetos de alta transformação social com baixo investimento financeiro”, disse o fundador e diretor do Comitê para a Democratização da Informática (CDI), Rodrigo Baggio. “Segundo uma pesquisa de impacto externa, 87% dos alunos que passaram por uma das nossas Escolas de Informática e Cidadania dizem ter tido sua vida transformada depois de fazer o curso. Esta capacitação os incentiva a voltar para a escola, facilita a entrada no mercado de trabalho, e é um fator que os leva a sair da criminalidade”, completou.

Cada participante falou dos projetos realizados pela sua entidade ou empresa, e destacou que a educação é uma das melhores formas de se realizar mudanças nas comunidades carentes espalhadas por todo o País. “Através da reciclagem do lixo transformamos a vida dos moradores Vila Pinto (comunidade que fica em um bolsão de pobreza em Porto Alegre/RS), que hoje são vistos com respeito, como trabalhadores. Muitas comunidades querem fazer esta transformação e isto é possível através da educação e da capacitação. Basta dar um pontapé inicial”, afirmou a presidente do Centro de Educação Ambiental Vila Pinto (CEA), Marli Medeiros.

Já a gerente geral do Canal Futura - canal de TV voltado exclusivamente para a promoção da educação e cidadania -, Lúcia Maria Araújo, falou dos trabalhos de ação comunitária, realizados com instituições de todo o Brasil. “Capacitamos as comunidades para criarem projetos baseados nos programas do canal. Muitos melhoraram sua renda aprendendo a fazer trabalhos artesanais ensinados nos nossos programas, por exemplo”, disse. Segundo Lúcia, o Canal Futura, tem o objetivo de ser uma vitrine do melhor que os brasileiros anônimos fazem.

A Arena de Responsabilidade Social aconteceu paralelamente ao 17o Congresso Mundial de Petróleo e comportou, além do Seminário, uma Exposição que reuniu cerca de 35 organizações governamentais, não-governamentais e do terceiro setor que desenvolvem ações nas áreas social e ambiental.

A exposição apresentou ações inovadoras no terceiro setor, com destaque para as de desenvolvimento sustentável, ética e educação ambiental, inclusive aqueles patrocinados por empresas de petróleo e gás. Entre as organizações presentes na mostra estiveram a Fundação Movimento Onda Azul, conhecida pela sua luta pelo uso racional da água e por seus móveis produzidos através da reciclagem de garrafas PETI e a Fundação Pró-Tamar, criada pelo Ibama em 1980 e que desenvolve ações de proteção e preservação das tartarugas marinhas.

Já o Seminário, além de abordar o tema Educação e Transformação social, também discutiu Responsabilidade Social e Ética, e Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente. “Este espaço foi uma oportunidade de mostrarmos, num evento internacional, como o Brasil está encarando a atuação social”, disse Heloisa Helena. A Fundação Banco do Brasil não se responsabiliza por opiniões manifestadas por terceiros.

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