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Brincadeiras melhoram rendimento escolar e ajudam a resgatar a cidadania
O primeiro Bornal nasceu da necessidade de ajudar crianças e adolescentes, de 7 a 14 anos, que participavam do Projeto Ser Criança, do CPCD. “Percebemos que as crianças tinham dificuldades de aprendizado e não conseguiam fazer os deveres da escola. Queríamos ajudá-las da nossa maneira, com a nossa metodologia. Estava claro que a ajuda tinha que ser brincando”, lembra a diretora do CPCD. Para isso, os educadores da organização não-governamental começaram a adaptar jogos conhecidos no mercado e usá-los com as crianças atendidas. “Transformamos o jogo de damas, por exemplo, em ‘damática’, pra ensinar matemática”, lembra Doralice.
Um certo dia, em meados de 1995, um garoto de 11 anos que cursava a 1a série do 1o grau chamou a atenção da professora da escola por ter conseguido fazer o dever de casa sozinho. “O menino contou para a professora que tinha aprendido com um jogo do Projeto e ela pediu para conhecer a brincadeira”, diz Doralice. O menino levou o jogo e ensinou a professora a brincar com ele. Passados alguns dias a professora pediu para conhecer outros jogos utilizados pelo Projeto Ser Criança. “O aluno encheu um saco com os jogos que tínhamos criado e levou para a escola. Nasceu aí o primeiro Bornal de Jogos”, conta a diretora.
Bornal entra nas escolas pela porta da frente
A aceitação dos jogos aconteceu de forma imediata nas escolas de Curvelo, em Minas Gerais. Para atender a demanda que surgiu, o CPCD realizou oficinas de capacitação para os professores da rede pública de ensino. “Durante as oficinas ensinamos a construir e a utilizar os jogos que já tínhamos criado, e também incentivamos os professores a criarem jogos de acordo com as dificuldades dos seus alunos”, explica Doralice.
Destas experiências com os professores, e também com a ajuda das próprias crianças, nasceram mais de 300 jogos diferentes, que foram testados pelos professores em sala de aula. Hoje o Bornal tem 90 jogos testados e aprovados pelos professores e alunos, sendo 30 jogos de matemática, 15 de língua portuguesa, 15 de conhecimentos gerais, 15 de estimulação e 15 para multiuso. “Todos os jogos são feitos artesanalmente, através da reciclagem de diversos materiais. Boa parte deles é voltada para a realidade local e trabalha a cultura popular, mas muitos podem ser usados em todo o País”, afirma Doralice.
Resultados para alunos e professores
O uso destes jogos nas escolas tem possibilitado, entre outros benefícios, a melhora do desempenho escolar e da relação entre aluno e professor. “Em cada comunidade percebemos benefícios diferentes. Em algumas escolas, por exemplo, os jogos ajudaram a melhorar a relação entre os próprios alunos, em outras aproximou os pais da escola”, conta Doralice.
Através do Bornal, o CPCD também interage com as escolas públicas e contribui para que os seus professores cumpram sua missão com eficiência e alegria, de forma a equilibrar prazer, criatividade e desenvolvimento. “Estamos formando professores mais ousados no inovar, criar e buscar formas alternativas para melhorar suas aulas. Assim, alcançamos nosso objetivo de fazer da escola um lugar mais alegre, onde se aprende de forma prazerosa”, comemora a diretora da ONG.
Atualmente o Bornal de Jogos de Aprendizagem está sendo utilizado em 95 escolas de Curvelo e 16 de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, também em Minas Gerais. Ao todo são 488 professores e mais de 11.600 alunos beneficiados. “Por serem confeccionados com material simples e fácil de se encontrar, os jogos perderam o caráter formal e passaram a fazer parte do dia-a-dia das crianças, das rodinhas de amigos, transformando a aprendizagem numa grande brincadeira”, comemora Doralice.
Desdobramentos de uma tecnologia
Depois dos bons resultados obtidos com o Bornal de Jogos de Curvelo e do Bornal de Jogos de Araçuaí, o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento resolveu ampliar suas ações. “Destas experiências surgiram o Bornalzinho, voltado para crianças de 4 a 6 anos, e o Bornal de Jogos da Paz”, conta Doralice.
“As crianças estão muito acostumadas a ver e a ouvir coisas negativas, optamos por trabalhar o lado positivo das coisas”, explica Doralice. O Bornal de Jogos da Paz trabalha assuntos como amizade, solidariedade e afetividade. “Eles aumentam a satisfação de ensinar e aprender e construir uma cultura de paz e não-violência”, diz a diretora do CPCD. “A proposta é transformar este Bornal em um instrumento eficaz de construção da cidadania e paz nas escolas”, completa.
O Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento - uma organização não governamental, sem fins lucrativos, fundada em 1984, em Belo Horizonte - faz o acompanhamento do uso dos bornais através da elaboração de planos de trabalho e de avaliação, do acompanhamento de processos e observação de impactos, da elaboração de indicadores de êxito, da avaliação e sistematização de resultados, e pela produção de relatórios técnicos e fotográficos do projeto.
Conheça mais sobre a tecnologia Bornal de Jogos no site do Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil (www.tecnologiasocial.org.br) ou no site do CPCD (www.cpcd.org.br).