Notícias

De Nadai influencia na prática da responsabilidade social de seus fornecedores

Por Instituto Ethos   23 de setembro de 2002
São Paulo - Para a De Nadai, empresa de alimentação industrial localizada em Santo André, Grande ABC Paulista, a adoção de práticas de responsabilidade social é uma das razões para seu sucesso. A empresa foi a primeira do Brasil e também a primeira do ramo alimentício em todo mundo a receber a certificação pela norma SA 8000. `A SA 8000 criou um enorme diferencial em relação aos concorrentes, aumentou a confiança dos funcionários na empresa e promoveu o reconhecimento da De Nadai como uma empresa-cidadã perante os seus fornecedores e a comunidade`, conta o gerente de Desenvolvimento e Formação da De Nadai, Maurício Barros de Vasconcelos.

A SA 8000 é uma norma de certificação da responsabilidade social das empresas, bastante respeitada nacional e internacionalmente. Criada em 1997 pela Social Accountability International (SAI), uma ONG norte-americana, ela já foi concedida a cerca de 80 empresas em todo o mundo. Entre os principais tópicos da norma estão a proibição de utilização de mão-de-obra infantil, medidas de segurança e saúde do trabalhador, remuneração e liberdade de sindicalização.

Segundo Vasconcelos, o primeiro contato da De Nadai com a SA 8000 aconteceu enquanto a empresa se preparava para receber a ISO 14000, em 1999. `A própria empresa que cuidava do processo de certificação da ISO nos informou sobre um selo, até então pouco conhecido, que se aplicava às empresas que tinham compromissos com a responsabilidade social`, lembra.

A empresa Det Norske Veritas (DNV), responsável pela auditoria da ISO, percebeu que a De Nadai já cumpria internamente boa parte dos requisitos exigidos pela SA 8000 e que seria preciso pequenas adaptações para que a empresa recebesse o selo. `Eles perceberam que 90% do que era solicitado pela Social Accountability já era feito pela De Nadai – principalmente os itens referentes à saúde e à segurança`, conta Vasconcelos. Em fevereiro de 2000, pouco mais de sete meses do início da implantação da SA 8000 na companhia, a De Nadai se tornava a primeira empresa brasileira a conquistar a certificação.

Um grande diferencial

`No começo, achávamos que ia ser importante, mas não tínhamos noção do que esta norma representaria. Com ela, pudemos dizer ‘falo que faço, faço e sou auditado para mostrar como faço’`, avalia Vasconcelos. `Costumo dizer que hoje, os cartões de crédito, supermercados, etc – querem fidelizar os clientes e a SA 8000 quer fidelizar os colaboradores`, completa.

Para disseminar ao seu público interno os valores propostos pela norma, a De Nadai implantou um sistema de comunicação com quadros de avisos e distribuição de material explicativo. Seguindo os mesmos padrões de outras normas, como as ISO 9002 e 14000, os funcionários recebem todas as informações necessárias para a compreensão de suas atividades e do seu impacto na cadeia produtiva da companhia e, nesta certificação em especial, do seu papel como agente e objeto de uma conduta com responsabilidade social.

A De Nadai elaborou uma pesquisa entre os seus funcionários para saber quem era casado e/ou tinha filhos, qual a idade dos filhos e se eles trabalhavam. Feito isso, a empresa, que não contava com utilização direta da mão-de-obra infantil ou juvenil, passou a se mobilizar para conscientizar os seus funcionários que tinham filhos trabalhando, sobre os prejuízos que o emprego precoce acarreta. `Houve casos de pais que defendiam o trabalho de seus filhos afirmando que eles próprios haviam começado a trabalhar cedo. Foi preciso um grande esforço da nossa parte para convencê-los de que seus filhos precisavam mais de estudo e lazer do que de trabalho`. O cuidado, segundo Vasconcelos se explica na própria filosofia da empresa: `Tratamos como comunidade nossos funcionários e seus familiares`, afirma.

Segundo o representante da SA 8000 junto aos funcionários da De Nadai, Gildésio Nunes da Silva, um dos principais benefícios da norma foi a criação de um canal direto de comunicação dos funcionários com a direção da empresa. Silva, que é encarregado de expedição, foi eleito pelos colaboradores para ser o ‘porta-voz’ da categoria. `No início, o pessoal não entendia muito bem como uma certificação poderia alterar o seu dia-a-dia, mas conforme eles foram entendendo o funcionamento, perceberam que tinham uma importante ferramenta em mãos`, conta Silva. `O pessoal passou a compreender melhor a importância na segurança do trabalho, a exigir um atendimento médico adequado e, principalmente, a apontar as falhas`, comemora.

Silva, que se orgulha de ser o primeiro representante de funcionários da SA 8000 do Brasil, é também um exemplo da boa relação da empresa com o sindicato da categoria: ele acaba de ser eleito o diretor do Sindicato dos Empregados de Empresas de Refeição Coletiva (SEERC) do ABC.

Política com os fornecedores

Com os fornecedores, o primeiro passo foi também a informação. A De Nadai elaborou um manual sobre a SA 8000 explicando todas as exigências da norma. Depois foi solicitado que os fornecedores enviassem uma carta à empresa alimentícia, comprometendo-se com o cumprimento das premissas básicas da SA 8000. `Discutimos juntos as formas de adequação desses fornecedores à norma e então, passamos a exigir o cumprimento das mesmas para a manutenção de nossos contratos de fornecimento`, explica Vasconcelos.

Na fase seguinte, a De Nadai montou um questionário de auto-avaliação, que foi enviado aos seus fornecedores. Com isso, a empresa verificou que entre as dificuldades para o cumprimento da norma por parte de seus fornecedores estavam a falta de direitos trabalhistas dos funcionários, o excesso de horas extras e em alguns casos, a utilização de trabalho juvenil.

Foi o que aconteceu com a Comercial Genesis Santo André, uma empresa gráfica que trabalha como fornecedora da De Nadai desde 1994. `Na época que recebi o questionário, tinha apenas uma adolescente no nosso quadro de funcionários. Por coincidência ela ficava exatamente dentro da De Nadai, trabalhando no almoxarifado, que fica sob a nossa responsabilidade`, conta Marco Antonio Aparecido Liberato, sócio-proprietário da empresa.

Segundo a SA 8000, a empresa que utiliza a mão-de-obra de adolescentes, não pode demitir e precisa adaptar um horário de expediente que garanta que o adolescente não gaste mais de dez horas diárias, entre a escola e o trabalho. Para cumprir a regra, a solução encontrada foi a redução do horário de funcionamento do almoxarifado, que era das 10 às 17 horas, para um período de cinco horas, com intervalo de uma hora. `O horário de funcionamento ficou estabelecido das 10 às 15 horas. Os dois lados cederam e ficaram satisfeitos`, relata Liberato. `Se toda as empresas tivesses a preocupação em fazer as coisas de forma responsável, seria ótimo e todos sairiam ganhando`, acredita.

A atuação da De Nadai junto aos seus fornecedores não obteve o mesmo sucesso em todos os casos. De acordo com Vasconcelos, a empresa havia elaborado uma classificação por ordem de volume de compras e usava esse argumento como forma de exigir o cumprimento de itens da SA 8000 de seus fornecedores. No entanto, em pouco tempo a empresa percebeu que este não era o melhor caminho. `Percebemos que tínhamos que agir diretamente com aqueles com os quais a nossa atuação é decisiva, faz diferença. A norma diz exatamente isso, que você use essa influência para mudar`, explica Vasconcelos.

A De Nadai elaborou então uma segunda classificação, onde é levada em consideração não o seu poder de compra, mas o seu poder de influência. Desta nova listagem, 60% das empresas já estão auditadas pela De Nadai. `Temos uma pessoa responsável pela auditoria, que verifica se o fornecedor está cumprindo as premissas básicas`, afirma Vasconcelos.

De acordo com gerente de Desenvolvimento e Formação, a SA 8000 fortaleceu ainda mais o relacionamento da empresa com seus fornecedores e ampliou o papel social da De Nadai na sua área de atuação. `A idéia é mesmo de parceria`, finaliza.

Comentários dos Leitores