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Ong propõe reforma das penitenciárias femininas

Por Ana Carolina Barbosa, Jairo Morelli e Nathalia Hein   1 de outubro de 2002
Sâo Paulo-O Instituto Grupo Cidadania, organização não-governamental (ONG) criada por Regina Célia Pedroso, professora de Ciências Sociais na Anhembi Morumbi, está propondo uma reformulação geral do sistema penitenciário feminino no estado de São Paulo. As propostas, que enfocam desde melhoria da infra-estrutura predial até programas de recuperação das detentas, foram elaboradas a partir de pesquisa realizada pela própria entidade há um ano nos presídios do Tatuapé e do Tremembé - duas das quatro instituições femininas existentes no estado.

O estudo revela que quase metade das condenações das detentas está relacionada ao tráfico de drogas e que, na maioria desses casos, as mulheres sentem-se injustiçadas. "Muitas entraram no mundo das drogas porque viram nisso a única possibilidade de ganhar dinheiro para o sustento da família ou por estarem envolvidas com traficantes", explica Regina Célia, referindo-se às mulheres usadas como "mulas" (intermediárias) para o transporte da droga.

Ainda de acordo com a pesquisa, o índice de reincidência é muito alto: mais de 50% das detentas voltam à criminalidade e são presas novamente. Isso se deve à falta de trabalhos profissionalizantes dentro dos presídios, informa Regina. "Todo o trabalho delas é braçal, não há preparo para o mercado ou qualquer especialização profissional. Sem perspectiva de emprego, elas acabam voltando ao mundo do crime", justifica a professora, que coordenou os trabalhos.

Um questionário respondido por mais de 300 presidiárias apontou os principais problemas nas áreas de infra-estrutura, higiene, atendimento médico e dentário, etc. Segundo os dados, a maior reclamação está no descuido das autoridades com as necessidades básicas das detentas. "Muitas das presas revelaram que têm de usar miolo de pão como absorventes higiênicos, tal é a falta de recursos", afirma Regina. Além disso, a pesquisa confirmou a superlotação nas celas, o que favorece o aumento de doenças e brigas entre as presas, que ficam violentas e deprimidas.

A constituição brasileira prevê igualdade de direitos entre homens e mulheres. Mas, segundo a ONG, não é o que acontece no sistema carcerário. "A mulher não tem direito a visitas íntimas durante o período de reclusão, enquanto os homens têm", diz a ativista, ressaltando que 80% das presas tornam-se homossexuais. "Esse índice deve-se certamente à necessidade de sexo."

O projeto de reestruturação do sistema penitenciário apresentado pelo Instituto Grupo Cidadania já foi aprovado pelo Governo Estadual, que não liberou, contudo, a verba para sua execução. "Nós elaboramos a pesquisa e detectamos os problemas, mas cabe ao Estado resolvê-los", finaliza Regina.

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