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Jovens excluídos falam sobre as eleições

Por BBC Brasil - Edson Porto, de São Paulo   28 de outubro de 2002
Os problemas dos jovens excluídos no Brasil são um dos grandes temas das eleições presidenciais deste ano. Mas o que pensam esses jovens?

"Os políticos fazem campanha na periferia porque acham que o povo é burro", diz um. "É preciso conhecer bem em quem se vai votar, para não jogar o voto fora", afirma outra.

Os depoimentos apresentados pela BBC Brasil foram recolhidos por jovens da periferia de São Paulo que fazem parte dos projetos Vale Viver e Novo Olhar.

Eles entrevistaram jovens da mesma faixa etária - entre 16 e 21 anos - que participam de um outro projeto social da cidade, a Aldeia do Futuro, e mostraram, com suas perguntas e respostas, um pouco do que pensam.



Em risco

Os projetos sociais de que fazem parte esses adolescentes desenvolvem cursos na área de comunicação e "descobriram que o primeiro passo dos adolescentes para o conhecimento é saber questionar e não ter vergonha de perguntar", diz a coordenadora do Vale Viver, Gisele Poletto.

Clique aqui para ler: "ONGs tentam suprir carências da periferia"

Os alunos dos cursos são chamados de "jovens em risco", porque moram em locais pobres e perigosos da cidade, onde o tráfico e a violência fazem parte da rotina.

Alguns dos que participaram da reportagem já cometeram infrações, para sobreviver, para conseguir o tênis da moda ou drogas. Todos têm uma coisa comum: são indignados com a injustiça social do país e ansiosos por serem ouvidos.

Na opinião da coordenadora do Vale Viver, "os meios de comunicação oferecem poucas oportunidades para que a população jovem e de baixa renda mostre o que pensa e como é a sua realidade, e os cursos desenvolvem nos alunos a capacidade de comunicar idéias, sonhos, projetos e propostas".

As entrevistas foram feitas depois que os alunos das entidades realizaram uma reunião de pauta e definiram as perguntas, que, junto com as respostas, mostram um pouco de suas ideais:

Cirillo, 17 anos - Porque os políticos fazem a maior parte de sua campanha centralizada em comunidades pobres?

Adriano, 17 anos - Para chamar a atenção do povo, porque os políticos, sei lá, conseguem fazer a cabeça do povo, dos pobres, facilmente. Eles acham que o povo é burro.

Cirillo - E você, o que acha?

Adriano - Sei lá...é que eu não entendo muito de política.

Cirillo - Qual foi a proposta que mais te chamou a atenção nesta campanha política?

Adriano - Nessa campanha o que mais me chamou a atenção foi uma muito cabeluda...foi aquele negócio que o Garotinho (candidato Anthony Garotinho - PSB) falou: que a cada quantidade de dinheiro aplicado (no banco) ia dar um emprego. Eu acho impossível.

Leomar, 16 anos - Por que as crianças nas eleições são (usadas como) apelo?

Liliane, 17 anos - Eu acho que hoje tudo que é mais frágil é apelo. Então eles usam as crianças, as minorias, os negros, os homossexuais, porque, se você conseguir calar a boca da minoria e conseguir fazer com que as pessoas se comovam, você vai ganhar votos.

Horace, 15 anos - Quando você vota é só por votar ou é para mudar o Brasil?

Liliane - Apesar da minha idade - tenho 17 anos-, eu já voto. Com certeza eu voto para mudar o Brasil. Eu acho que o voto não pode ser banalizado. A gente não pode votar por votar, para não ter nenhuma pendência com o Tribunal Regional ou Tribunal Superior Eleitoral. Eu acho que todo o brasileiro deveria votar para mudar. Então, por isso, acho que a gente tem que pesquisar o nosso candidato para fazer o voto consciente, porque a gente está votando no cara que vai administrar o nosso país.

Horace - Você estuda a história do seu candidato?

Liliane - Eu estudo o máximo possível. Com a facilidade da internet, como a Aldeia do Futuro agora possibilita o acesso à internet, eu procuro alguma coisa na internet, ou procuro nos jornais...para saber o que esse candidato já fez, se já não se envolveu em falcatruas, porque, às vezes, o pessoal acaba esquecendo o que o cara fez alguns anos atrás no próprio meio político e acaba votando. E o cara continua roubando, administrando mal. Eu faço o máximo possível para conhecer não só a vida pública dele, mas também um pouco da vida pessoal, porque ela fala um pouco de quem ele é.

Caroline, 15 anos - O que você acha da política?

Edimilson, 18 anos - Eu acho que ela está muito bagunçada, com todos os políticos. Todos acabam roubando. Eles acabam se candidatando pensando em si. Você não vê um que queira fazer para ajudar mesmo, para mudar a periferia. Eles acabam fazendo pelo salário e pelo poder público que eles vão ter.

Caroline - Se você fosse o presidente da República, o que você mudaria e faria de melhor?

Edimilson - Atualmente, o emprego, que está faltando para todos os jovens - eu mesmo sou um. Acho que o emprego é a parte principal. Mas tem muitas coisas que precisariam mudar. Abaixar os juros, também, que tão muito altos. Ninguém consegue ter nada. O pouco que a pessoa ganha, já vai tudo...quando aumenta o salário também aumentam os preços.

Liliane, 17 anos - Como os jovens podem ser educados na política, já que muitos têm aversão à política?

Wellinson, 18 anos - O Brasil tem muitos problemas na educação. O sistema de educação está praticamente desmantelado. Eu acho que antes de se fazer a inserção da política na educação deveria se fazer uma reforma geral da educação. Acho que se a pessoa for educada desde de cedo, quando ela chegar na adolescência, na fase adulta, que é a hora de ela exercitar seus pensamentos sobre a política, acho que ela não vai ter tanta aversão à política. Porque todo o brasileiro fala que odeia política, mas por ele estar falando que não gosta de política ele está fazendo a sua política.

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