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A ordem é fazer o bem e olhar para quem

Por Instituto Ethos - Denise Pires Basto Costa   6 de novembro de 2002
São Paulo - A crescente atenção ao tema responsabilidade social e cidadania empresarial estimula um número cada vez maior de empresas a buscar desenvolver ações neste sentido. No Brasil, ainda é pouca a literatura disponível na área. Em busca de caminhos, as empresas deparam-se com a dificuldade inicial de determinar quais as práticas que seriam importantes desenvolver. As ações voltam-se muito mais para a filantropia, baseadas no `sentir-se bem` de quem doa, segundo aponta pesquisa recente realizada pelo Ipea com mais de 88 mil empresas em todo o Brasil. Segundo a pesquisa, cerca de 70% diz que o principal resultado percebido das ações é a satisfação pessoal. A grande motivação é `fazer o bem sem olhar a quem` e reflete-se até mesmo no baixo índice de divulgação destas ações pela empresa (segundo o Ipea, o percentual dos que não divulgam é de 93% no Sul, 91% no Sudeste e 86% no Nordeste).

Apesar da discussão recente no Brasil, nos EUA o tema começou a ser debatido no período de enriquecimento pós-Guerra e teve seu debate ampliado na década de 70, com uma abordagem mais orientada para a ação. A demanda da comunidade corporativa era a de saber `como`, ao invés de simplesmente `o que fazer`. Em busca de respostas para esta pergunta, surge o conceito de Performance Social das Empresas (PSE), baseado no tripé: legitimidade institucional, responsabilidade pública das organizações e arbítrio individual do gestor. A análise da PSE ganha um cunho relacional sobrepondo-se à análise pontual. É em meio a esta discussão que emerge a noção de stakeholders.

Surgido por volta dos anos 70, o conceito de stakeholders assume status de teoria, ganhando nova força no Canadá, a partir de uma série de conferências realizadas sobre o tema. De difícil tradução literal, a palavra stakeholder é na realidade uma composição de duas palavras: stake (significando interesse) e hold (segurar, possuir, reter). Assim os stakeholders seriam representados por grupos de interesse na organização.

O conceito mais difundido de stakeholder, proposto por Freeman, significa o `conjunto de partes que afetam ou são afetadas pela organização`. Alguns estudos ampliam esta noção de tal forma que até mesmo terroristas podem ser incluídos nestes grupos. Um exemplo interessante de como agentes, não necessariamente vistos como importantes pela organização, podem afetar o negócio, está na matéria `A natureza na empresa` (revista Exame, 6/3/2002, pág 125), que relata o caso da Cemig e o pássaro João-Teneném, que ao alojar seus ninhos no topo dos transformadores fabricados pela empresa, provoca com seu peso o desligamento do equipamento. A questão foi debatida nos ciclos sobre qualidade - e a empresa desenvolveu um dispositivo que permite que o pássaro continue morando no poste.

No esteio de teorias ecológicas, pensamento sistêmico e organizações de aprendizagem, a teoria dos stakeholders propõe, em essência, que pensar sobre a relação da empresa com o seu meio é fundamental. Ao invés de uma série de prescrições sobre o que deve ou não ser feito pela empresa, em termos de agir de forma socialmente responsável, assumindo um forte caráter normativo, a proposta é responder à pergunta: responsável para quem?

Desenvolver a capacidade de identificar e agir de acordo com as `partes interessadas` passa, portanto, pela capacidade gerencial de assumir uma visão mais ampla da organização, compreendendo seu papel na sociedade.

* Denise Pires Basto Costa é professora da Faculdade Integrada do Ceará (FIC) e mestranda em Administração de Empresas pela Universidade Estadual do Ceará (Uece)

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