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ONG de Carlinhos Brown mobiliza comunidade

Por www.cidadania-e.com.br   6 de novembro de 2002
Salvador - Ba - - Pobreza, exclusão social, o crescente índice de violência, o tráfico de drogas e o baixo nível educacional. Estes problemas - comuns em favelas brasileiras - incentivaram o músico Carlinhos Brown a fundar, em 1994, a Associação Pracatum - Ação Social, no bairro Candeal Pequeno de Brotas, em Salvador (BA). Entre os programas criados com o objetivo de garantir a auto-gestão da comunidade de baixo poder aquisitivo, está o Programa de Desenvolvimento Comunitário Tá Rebocado, que busca realizar a urbanização do Candeal, gerar trabalho e renda, promover educação, cultura e a organização da comunidade, além de trabalhar com temas como saúde e meio-ambiente.

O Tá Rebocado surgiu com base na demanda apontada pela própria comunidade do Candeal, bairro onde Carlinhos Brown nasceu e cresceu. Para a criação da organização não-governamental, um grupo de líderes comunitários locais e profissionais já envolvidos com o trabalho social desenvolvido no Candeal foi articulado para compor o Conselho Deliberativo do Pracatum. “A partir do momento em que a comunidade é convocada, ela passa a se organizar e fazer as suas solicitações”, explica a diretora do Programa Tá Rebocado, Patrícia Marchesini.

Com base nestas solicitações e com a contratação de técnicos especializados, foram institucionalizados dois programas principais: a Escola Profissionalizante de Música e Tecnologia e o Tá Rebocado. “As prioridades desses programas foram norteadas pela visão de que somente através da cultura, da educação e da articulação comunitária, o Candeal erradicaria a pobreza e promoveria a inclusão social de seus filhos”, completa Patrícia.

A comunidade faz valer sua vontade

A metodologia desenvolvida pelo Tá Rebocado baseia-se na construção comunitária e participativa. Em um fórum democrático, a comunidade discute suas demandas e as propostas de resolução dos problemas apresentados. Aos técnicos e executivos da instituição é delegada a formalização de propostas em projetos que, por sua vez, são implantados com a participação da comunidade. “Levantadas as propostas, passamos a adequá-las à nossa capacidade e às linhas de financiamento que conseguimos”, explica a diretora do Tá Rebocado.

“Uma das primeiras ações foi a realização de um senso com os moradores para identificar as maiores demandas. A comunidade apontou como principais problemas o enorme déficit habitacional e a falta de infra-estrutura da região, como saneamento, transporte, habitação”, conta Patrícia. Assim nasceu o Programa Tá Rebocado. Para solucionar as demandas da comunidade, o projeto passou a contar com uma equipe de arquitetos, urbanistas e engenheiros sanitários.

O projeto, como o próprio nome diz, iniciou com o objetivo de rebocar e pintar todas as casas do Candeal. Além disso, se propôs a melhorar as condições sanitárias da comunidade, com implantação de esgotos e água encanada, além da realização de ações preventivas na área de saúde e higiene. “Depois, começamos a trabalhar no sentido de identificar quais eram as demandas da comunidade com relação às associações de bairro, à construção de um posto de saúde e de creches. Outra solicitação foi com relação às hortas comunitárias, que são usadas na produção de ervas para medicamentos caseiros”, lembra Patrícia. Através de parcerias com o Comitê para Democratização da Informática, a Associação de Apoio ao Programa Capacitação Profissional e as associações de moradores locais, por exemplo, o programa também vem implantando diversos cursos de capacitação profissional e alfabetização de adultos. Resultados da união

O trabalho da ONG, em parceria com a comunidade e com o apoio com a Caixa Econômica Federal e o Governo do Estado da Bahia, tem alcançado bons resultados. “As ações, por serem promovidas pela própria comunidade, já estão legitimadas. Os impactos são significativos”, diz Patrícia.

A ONG aponta várias metas atingidas, como: a urbanização da comunidade, que durante quase trezentos anos fora caracterizada como uma favela; a transformação da antiga "favela" em ponto turístico de Salvador, através do desenvolvimento econômico da comunidade, e o fortalecimento de lideranças, resgate de valores e disseminação de novas regras de convivência baseadas em princípios democráticos e construção da cidadania.

Entres alguns resultados concretos podemos destacar a ampliação das redes de esgoto sanitário, construção de 122 unidades habitacionais, melhoria de 338 unidades habitacionais, construção de um centro comunitário, o atendimento semanal a 126 crianças através do Programa Saúde Bucal, capacitação de 28 agentes comunitários de saúde e a alfabetização de 90 jovens e adultos.

“É importante lembrar que o Tá Rebocado foi desenvolvido em um processo onde a comunidade aprendeu a ser ativa e as suas intervenções urbanísticas sempre buscaram preservar ao máximo as características culturais da comunidade. Todo o trabalho foi pautado em cima do conceito de cidadania. Hoje, esta é uma comunidade consciente de seus direitos e deveres”, conclui a diretora do projeto.

Por estes e outros resultados o Tá Rebocado recebeu, em novembro de 2001, o Prêmio Melhores Práticas em Gestão Local, da Caixa Econômica Federal, e o reconhecimento como tecnologia social, pela Fundação Banco do Brasil. Já neste ano o Programa de Assentamentos Humanos das Nações Unidas (UN-Habitat) conferiu ao projeto o certificado de Best Practice (Melhor Prática), entregue pessoalmente a Carlinhos Brown pelo diretor geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), que tem sede em Paris.

O futuro sonhado

Uma das atuais preocupações da Associação Pracatum - Ação Social é desenvolver uma metodologia para promover a sistematização da tecnologia social para que ela possa ser reaplicada em outras comunidades. A organização também está começando a construir uma creche e está preste a inaugurar o posto de saúde, que receberá acompanhamento do programa Médico de Família e também integrará o programa do governo estadual Conselho de Saúde, no qual a comunidade é parte integrante do conselho de saúde que cuida da comunidade.

“Para a gente, a Associação tem que se tornar uma espécie de pequeno núcleo de consultoria para orientar a comunidade, que, cada vez mais forte e consciente, vai se tornando também independente. Queremos uma comunidade satisfeita e atuante”, diz Patrícia Marchesini.

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