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A pequena doceria Beijinho Doce é grande quando o assunto é responsabilidade social
Desde que assumiu a doceria em 1991, Carlos Alberto Amaro tem buscado aliar a ampliação do seu negócio com práticas sociais. `A empresa existe desde 1980. Quando meu sócio e eu compramos a Beijinho Doce percebemos que era preciso mudar o foco de trabalho em todos os níveis, desde a matéria-prima utilizada, o atendimento ao cliente até o tratamento dispensado aos funcionários`, lembra Amaro. `Queríamos um novo perfil, mais agradável e ético`.
Com a empresa melhor estruturada, Amaro passou para a etapa seguinte de seu projeto: dar oportunidade para jovens em conflito com a lei. `Nossa idéia era priorizar a formação de adolescentes em situação de risco. A Fundação do Bem Estar do Menor (Febem) já era nossa cliente e começamos um trabalho conjunto`, conta. A primeira experiência não foi como esperada. A psicóloga da instituição selecionou dois adolescentes que ficaram poucos meses na empresa. `Tivemos diversos problemas. Percebemos que a Febem não preparava os jovens para a condição que estávamos propondo e fomos obrigados a aceitar o fato de que não dispúnhamos de pessoal interno especializado ou experiência para lidar com as situações que se apresentaram`, reconhece Amaro.
A solução encontrada foi a parceria com o Instituto Criança Cidadã, uma entidade mantida por empresas de energia elétrica que atende crianças e adolescentes carentes. `O Instituto dá a assistência necessária. Os jovens que vêm para cá passam pelo Centro de Iniciação ao Trabalho do Instituto, que os prepara para a situação do mercado de trabalho. Além disso, o Criança Cidadã faz um acompanhamento dos jovens, de suas família e de suas realidades`, explica Amaro. Atualmente dos 30 funcionários da Beijinho Doce, 15 vieram do Instituto. `Todos começam do mesmo modo, pelos serviços de apoio como limpeza e colaboração na cozinha`, afirma o proprietário.
Segundo Amaro, os jovens têm a oportunidade de ir se aperfeiçoando em uma área da empresa. `Depois dos serviços de apoio, os jovens entram num programa de formação que vai do nível 3, mais geral, ao nível 1, mais especializado`, diz. `Atualmente não contratamos ninguém com experiência. Sempre que há uma vaga priorizamos alguém do Instituto`, garante.
Colaboração é fundamental Amaro conta que no início houve resistência de alguns funcionários mais antigos. `Eles não encaravam bem o fato de que ao invés de ter alguém pronto para ajudá-los, eles deveriam ajudar primeiro`. Aos poucos, conta Amaro, os colaboradores perceberam que aquela era uma oportunidade de eles crescerem como pessoas também. `Hoje estão organizados para treinar os jovens que chegam e fazem isso com prazer`, ressalta.
Em setembro de 2001, a Beijinho Doce realizou um evento onde reuniu entidades do terceiro setor, fornecedores e alguns clientes para discutir responsabilidade e apresentar os dez passos da ’Empresa Amiga da Criança’. `Somos parceiros da Fundação Abrinq e quisemos apresentar os compromissos exigidos de uma empresa para que ela seja considerada ‘Amiga da Criança’`, explica Amaro. Durante o evento, batizado de Beijinho Social, os funcionários da doceria propuseram a realização de um curso para levar mais jovens a formação que eles davam aos funcionários recém-contratados. `Aqueles que vieram do Instituto Criança Cidadã queriam retribuir a oportunidade que tiveram`, acredita Amaro.
Foi elaborada uma apostila sobre preparação de doces e salgados e, durante quatro tardes de sábado entre maio e junho deste ano, funcionários voluntários da Beijinho Doce ensinaram a dez jovens os seus ofícios. `Este foi um projeto-piloto realizado na sede do Instituto. Para 2003 queremos transportar mais jovens para a sede da doceria, pois aqui tem uma cozinha industrial e ficará mais fácil e prático dar as aulas`, diz com entusiasmo o proprietário.
Para José Antônio Noronha, de 18 anos, o curso dado pela Beijinho Doce foi a oportunidade de buscar novas possibilidades e ingressar no mercado de trabalho. Aluno do projeto-piloto, Noronha conta que quando foi chamado para integrar a equipe da doceria ficou surpreso e feliz. `Eu não esperava. Este é meu primeiro emprego e não podia estar mais satisfeito. A gente pensa que vai ser um ‘bicho de sete cabeças’, mas aqui todo mundo é tratado igual, com o mesmo respeito`, diz.
Noronha, que começou como todos os outros – pelos serviços de apoio -, faz questão de dizer que a empresa incentiva o estudo e também o apóia em seu curso de teatro. `Todo mundo aqui me estimulou a voltar a estudar e são meus fãs`, brinca. `Estou muito feliz e tenho interesse em continuar nesta área de alimentos, de preferência na Beijinho Doce mesmo`, planeja.
Ações pequenas, mas sólidas Além da contratação e formação de jovens carentes, a Beijinho Doce desenvolve uma série de ações sociais e comunitárias. `Temos a Bolodoação. Através dela, mensalmente, um sabor de bolo é escolhido para ter uma parte de suas vendas revertidas para a Fundação Abrinq`, explica Amaro. A cada quilo do bolo selecionado, R$ 1 é doado à Fundação. `A doação não é alta, gira em torno de R$ 100 por mês`. Segundo Amaro, eles esperavam um retorno maior desta iniciativa. `Achávamos que as pessoas iriam consumir mais do bolo que fosse destinado à Bolodoação, mas ao que parece, os consumidores ainda não priorizam esse tipo de ação`, lamenta o proprietário.
O cuidado com o público interno também faz parte da gestão da empresa. `Anualmente fazemos um cadastro detalhado para saber como está a situação familiar dos nossos funcionários. Se há uma funcionária lactente, queremos saber se ela está amamentando seu bebê e se os filhos dos funcionários estão freqüentando a escola`, exemplifica Amaro.
A doceria também disponibiliza em sua instalação um ‘Mural da Comunidade’, que serve para a troca de informações e serviços na comunidade ao redor da empresa, tem um espaço para a divulgação de quadros de artistas amadores da região, realiza feiras do livro e participa do conselho de segurança do bairro. `Os moradores e empresários da comunidade buscam soluções como a integração dos moradores de rua e não a sua exclusão`, garante Amaro.
`Não é preciso ser uma grande empresa ou ter um grande capital. Todos podem ter uma iniciativa em seus bairros, nas suas comunidades e ser socialmente responsável. Além disso, há a satisfação pessoal e o crescimento que você proporciona para os seus funcionários e para o negócio, como uma empresa cidadã`, finaliza Amaro.
Empresa: Doceira Beijinho Doce Ltda Nome do contato: Carlos Alberto Amaro Cargo: sócio-diretor Endereço: Rua Augusta, 748 – São Paulo/SP Telefone: (11) 3255-9726 E-mail: falecom@beijinhodoce.com.br Site: www.beijinhodoce.com.br