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Tecnologia social promove educação diferenciada
A ALARME foi fundada em 1992, quando um internato que abrigava crianças da região foi desativado. O internato funcionava desde 1951 e era mantido por um consórcio de 13 Prefeituras. “Ele misturava crianças abandonadas, com adolescentes infratores e jovens com vícios”, conta a assistente social da Associação, Edimara Carrasco. Os voluntários que trabalhavam no abrigo questionavam esta situação e começaram a se organizar. “Descobrimos que muitas daquelas crianças e jovens possuíam família e não tinham porque ficar naquele lugar. Começamos a visitar os pais e, aos poucos, fomos realizando a reinserção dos jovens na família”, lembra Creusa Manzalli, que hoje faz parte do conselho consultivo da ALARME. Com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, o grupo ganhou força e o internato foi desativado.
A Associação Lar de Menores funciona no mesmo local que o antigo internato. A área havia sido doada por um fazendeiro para o consórcio de Prefeituras, que construiu a sede do abrigo. “Quando o abrigo foi fechado, o consórcio doou tudo para a Associação”, conta Edimara. Um novo estatuto e uma nova filosofia foram a base da nova entidade que, certificada pelo Conselho Nacional de Assistência Social, passou a atender crianças e adolescentes de sete a 17 anos em período integral.
Direitos básicos em tempo integral
No começo dos trabalhos da ALARME, as crianças iam para escolas da rede pública em um período e ficavam na instituição no outro. Mas, como as crianças atendidas pela Associação vêm, em sua grande maioria, de família carentes que vivem abaixo da linha de pobreza, elas sentiram dificuldades de se adaptar. Para resolver a situação, a ALARME criou em 1998, com o apoio da sociedade, uma escola dentro da própria entidade.
Hoje, a Associação proporciona condições de educação, alimentação, saúde, segurança e vestuário para 375 crianças e adolescentes, provenientes de 52 bairros da periferia de São José do Rio Preto, em situação de risco e exclusão social. Além de estudarem na escola de ensino fundamental da entidade, elas têm a sua disposição: laboratório de informática; oficinas esportivas, de artes e de música; acompanhamento médico e odontológico e atendimento social e psicológico; quatro refeições diárias; material escolar e vale transporte. “Tudo isso é oferecido sem nenhum custo para as crianças”, ressalta Edimara.
“Com a implantação da Nova Escola, em 1998, houve uma grande melhora no ensino e no aprendizado, pois podemos constatar os problemas enfrentados por cada aluno”, diz Edimara Carrasco. A assistente social conta que muitas crianças, apesar de estarem na 5a e 6a séries, mal sabiam escrever seus nomes. “Isto é resultado da velha cultura da progressão continuada. Este ano, por exemplo, retiramos 17 alunos, de nove a 17 anos, de suas turma e montamos uma turma de alfabetização. Em julho 14 destes alunos já estavam alfabetizados e voltaram muito mais capacitados para as suas séries”, diz Edimara. Segundo a entidade, este atendimento tem possibilitado um aprendizado de maior qualidade para os alunos da entidade.
O esporte como aliado
Outro destaque do trabalho realizado pela ALARME é o incentivo à prática de esportes. As oficinas e as atividades esportivas tem como objetivo desenvolver a coordenação motora, a criatividade e a socialização dos jovens. “É visível a mudança destas crianças. Elas ficam mais responsáveis, aprendem a noção de limite e aumentam sua socialização na escola e na família”, conta Edimara. Os alunos da ALARME também participam de campeonatos regionais, nos quais costumam obter bons resultados. “Nestes eventos eles conhecem realidades diferentes das delas e percebem o quanto são capazes. Eles são vitoriosos”, diz orgulhosa a assistente social.
Por ter solucionado problemas de desnutrição e evasão escolar, o trabalho da Associação esteve entre as 128 tecnologias sociais certificadas pelo Prêmio de Tecnologia Social 2001, da Fundação Banco do Brasil. O atendimento cresceu de 160 alunos em 1999, para 225 em 2000, 300 em 2001 e 375 em 2002. “Pretendemos atender cerca de 450 crianças e adolescentes no ano que vem”, diz Edimara. “A rotatividade aqui é alta. Apesar de termos alunos conosco a cinco, seis anos, muitos são transferidos para outras escolas porque a família muda de cidade atrás de emprego. Mas, como temos uma longa lista de espera, quando um aluno sai, imediatamente outro entra”, explica a assistente social.
“Valorizamos a criança não só no ler e escrever, mas nas atividades esportivas e culturais fora da sala de aula. O valorizamos como cidadão”, diz Creusa. “É muito gratificante acompanhar o desenvolvimento de uma criança. É muito bom ver ela aprender a ler e a escrever, e também levar o que aprende aqui para o seu âmbito familiar”, diz Edimara.