Notícias

Negros distante da ascensão social

Por Jornal do Commercio   5 de dezembro de 2002
Eles e os pardos correspondem a 77,1% dos brasileiros que ganham no máximo meio salário mínimo, segundo pesquisa divulgada ontem pelo IBGE As desigualdades econômicas e sociais entre brancos, pardos e negros, confirmadas no relatório divulgado ontem, no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são visíveis em Pernambuco. Uma visita às salas de aulas dos cursos universitários mais concorridos mostra que os alunos de cor preta são minoria. "Temos um ou outro colega negro", atesta Isaías Francisco de Souza Júnior, um dos coordenadores do Diretório Acadêmico de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O próprio Isaías é caso raro entre os 840 estudantes do curso, a maioria egressa de escolas particulares, filha das classes média e alta. Ele tem cor morena, é descendente de índio e veio do Interior. A menos de 500 metros do prédio de Medicina, Márcio Pereira da Silva, 22 anos, vive a realidade de uma grande maioria negra. Queria ser médico, mas tem que se contentar com o trabalho de capinação e jardinagem na UFPE. Teve que abandonar os estudos na oitava série, para trabalhar. "Ficava muito cansado e não conseguia estudar à noite", conta. Márcio é o sétimo filho de um metalúrgico com uma dona de casa. Ganha R$ 200 por mês. Segundo o IBGE, 77,1% das pessoas que vivem com no máximo meio salário mínimo se declaram pretas ou pardas. E são justamente esses mais pobres que têm menor escolaridade. Cerca de 92% dos jovens de 15 a 19 anos das famílias pobres terminam o primeiro ano do ensino básico, mas apenas metade completa a 5ª série, aponta relatório das Organizações das Nações Unidas (ONU) também divulgado ontem com dados fornecidos pelo IBGE. As mulheres pobres, chefes de família, também são, em sua maioria, pretas e pardas: representam 64% do universo brasileiro. As desigualdades são mais fortes no Nordeste. Chega a 51% da população a proporção de pessoas com renda de no máximo um salário mínimo. No Sudeste só representa 18%. Para o sociólogo Heraldo Souto Maior, professor de Ciências Sociais da UFPE, as desigualdades entre as raças, apontadas pelo IBGE, não surpreendem. "Grande parte dos atuais negros e pardos é descendente de escravos. O fim da escravidão, que ocorreu há mais de 100 anos, não foi acompanhado de medidas que apoiassem os negros. Eles foram deixados à sorte, entregues à pobreza", avalia. O sociólogo lembra que a ascensão social está ligada à educação. E é preciso facilitar o acesso do negro a uma maior escolaridade. "Precisamos de um boa escola pública para levar à universidade, projetos sociais e geração de emprego".

Comentários dos Leitores