Notícias

Fórum Social Mundial 2003

Por Correio Braziliense   24 de janeiro de 2003
Oded Grajew

Entre os dias 23 e 28 de janeiro de 2003, a 3ªedição do Fórum Social Mundial estará se realizando em Porto Alegre (RS). Diante da grandiosidade que já se pode prever para a reunião deste ano, lembro-me do início de 2000, quando representantes dos países mais poderosos do planeta se encontravam em Davos, em seu Fórum Econômico Mundial, como o fazem anualmente. O processo de globalização caminhava a passos largos, difundindo os parâmetros do neoliberalismo.

Foi nessa época que a idéia do Fórum Social começou a despontar em minha cabeça. Pensei então em viabilizar uma discussão que invertesse a lógica de Davos e colocasse a economia a serviço do social. Esse debate teria dimensão mundial, com a participação de todas as organizações que vinham se contrapondo à imposição do poderio econômico, num encontro que marcaria essa posição, realizando-se paralelamente ao encontro do Velho Mundo: o Fórum Social Mundial. Era um insight ambicioso. Na verdade, não sei se fui eu que tive a idéia ou se foi a idéia que me teve. Afinal, hoje fica claro que ela resultou de um longo acúmulo de persistentes idealistas e aguerridos grupos de militantes em dezenas de países.

O desafio de organizar o novo Fórum e mostrar que outro mundo era possível foi assumido inicialmente por 8 entidades brasileiras. Em 2001, somaram-se a elas entidades e redes internacionais, compondo assim o Conselho Internacional, que tem acompanhado e articulado os fóruns preparatórios, que se multiplicam mundo afora.

O Fórum Social Mundial já se consolidou como espaço democrático internacional de reflexão, elaboração e articulação de propostas que visam ao bem-estar da humanidade e à sustentabilidade do planeta. Seu caráter não deliberativo, não governamental e não partidário foi reafirmado na Carta de Princípios elaborada em 2001.

Neste terceiro ano, os números demonstram que o Fórum, mais do que um sucesso, reflete a ânsia de participação democrática de todos os países que, alijados pela globalização, desejam um mundo capaz de contemplar a diversidade, o respeito aos direitos humanos, a paz entre os povos. Em 2001, foram 4.700 delegados de 117 países. Em 2002, 12.300 delegados de 123 países. Em 2003, perto de 30 mil delegados, de 5 mil organizações de todos os continentes se inscreveram.

Dezenas de Fóruns Sociais Regionais estão precedendo o Fórum Social Mundial, como o europeu e o asiático, além dos Fóruns Sociais Temáticos, como o da Palestina. O Acampamento da Juventude, que em 2001 contou com 2 mil participantes, espera receber este ano entre 30 e 40 mil jovens. São mais de 60 mil pessoas participando de atividades em torno de 5 eixos de discussão: desenvolvimento democrático e sustentável; princípios e valores, direitos humanos, diversidade e igualdade; mídia, cultura e contra-hegemonia; poder político, sociedade civil e democracia; e ordem mundial democrática, luta contra a guerra e pela paz.

O crescimento do Fórum não se deve apenas ao desejo de discutir e produzir políticas alternativas à hegemonia do capital e seus mercados. O planeta tem vivido o despertar de uma consciência necessária para seu desenvolvimento e sustentabilidade, para a erradicação da fome, para a preservação do meio ambiente, para evitar o esgotamento da água e de outros recursos naturais. Vislumbra-se, principalmente, o caminho da democracia, da inclusão dos povos e dos países, da tolerância contrapondo-se à discriminação e da paz sobrepondo-se às guerras.

No Brasil, a eleição do presidente Lula, um ex-operário que assumiu como prioridade de seu governo o combate à fome e à miséria, também se perfila nessa trincheira. No mundo dos negócios, o crescente engajamento de empresários e executivos ao movimento pela responsabilidade social empresarial é outro sintoma desse progresso.

Então, remeto-me novamente a fevereiro de 2000 e penso que muitos já foram os avanços. Porém há mais ainda a ser feito. E muitos que podem ajudar a fazer. O Fórum Social Mundial, com quase 2 mil oficinas e seminários, conferências, palestras, nos mostra os muitos caminhos que empresas, cidadãos, entidades organizadas da sociedade civil e governos podem trilhar para construir um planeta onde os direitos de uma vida digna se sobreponham à imposição dos mercados.

Comentários dos Leitores