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Acauã ganha cartão-alimentação do Fome Zero

Por Hoje em Dia   6 de fevereiro de 2003
ACAUÃ (PI) - O Governo federal aproveitou o lançamento do projeto-piloto do Cartão-Alimentação - uma das ações do Fome Zero -, ontem em Acauã (PI), para voltar a defender o programa e dizer que 'não quer improvisar". Em seu discurso para cerca de mil pessoas em frente à Câmara Municipal, o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) disse que o Governo não vai 'esperar para fazer modelo bonito. Vamos aprender fazendo". 'Quem nunca fez nada, quem nunca deu um prego em uma barra de sabão põe defeito com a maior facilidade naquilo que os outros estão tentando fazer para trabalhar. Isso já começou a acontecer. Mas nós não vamos deixar que esses que só sabem botar defeito destruam esse momento de comunhão entre o povo e seus governantes", afirmou. Ao lado de Ciro estavam os ministros José Graziano (Segurança Alimentar e Combate à Fome), Benedita da Silva (Assistência e Promoção Social) e Olívio Dutra (Cidades), além do governador Wellington Dias (PT-PI). O Fome Zero vem enfrentando críticas de especialistas e até de integrantes do PT em vários pontos. Entre eles a vinculação do uso do recurso do cartão à compra de alimentação, a exigência de comprovante do gasto e a falta de um modelo definido. 'Não vamos esperar. Vamos aprender fazendo, começando por aqui, e logo teremos mais de 1 milhão de famílias atendidas", disse Ciro. Mais tarde, na visita a uma cisterna no distrito de Baraúna (a 7 km de Acauã), o assessor especial da Presidência, Frei Betto, ao comentar sobre a escolha das duas cidades para o projeto-piloto - Acauã e Guaribas -, disse que querem divulgar um modelo a ser aplicado em outros locais. 'Queremos dar os passos certos para não improvisar, não ficar díspares. Não queremos que o programa seja só governamental, mas que a sociedade assuma esse protagonismo", disse. Segundo Frei Betto, devem ser atendidos 180 municípios do semi-árido até julho, com a meta de chegar a mil até o final do ano.

Também estão incluídos entre as prioridades de atendimento aldeias indígenas, acampamentos rurais e remanescentes de quilombos. O Governo ainda não divulgou os critérios de seleção dos municípios a serem atendidos. Ao falar sobre a escolha de Acauã, o assessor especial da Presidência reconheceu que o Piauí, além dos índices de pobreza, foi selecionado devido ao Governo estadual 'estar afinado com o federal". O governador é do PT. Além de ações já divulgadas ontem em Guaribas, como o programa para erradicar o analfabetismo, a construção de casas populares e de cisternas, o ministro Graziano disse que será feito um estudo da carência nutricional da população beneficiada no Piauí pelo Cartão-Alimentação. Em Acauã serão construídas apenas seis casas das 80 que seriam necessárias. Em relação às cisternas, estão em construção 70 e o Governo estadual autorizou outras 347. Segundo ele, outra prioridade é a criação de feiras nas duas cidades para que a população tenha acesso a alimentos produzidos na região. As mil famílias que serão atendidas com o Cartão-Alimentação começam a receber os R$ 50 mensais a partir do dia 27. Acauã tem 5.147 moradores, dos quais 2.485 não têm renda e outros 1.533 recebem apenas um salário mínimo, de acordo com dados de 2000 do IBGE. Famílias vão comprar alimentos em supermercados ACAUÃ - O ministro da Segurança Alimentar, José Graziano, disse ontem que as famílias beneficiadas pelo programa Fome Zero nas cidades grandes vão receber um cartão magnético que as permitirá comprar os alimentos diretamente nos supermercados. Segundo ele, o Governo está analisando mais de um modelo de cartão magnético, mas está decidido que nas regiões metropolitanas não haverá distribuição de cartão-alimentação como os que serão distribuídos em Guaribas e Acauã e outros mil pequenos municípios do semi-árido. Com essa diferença de metodologia, o Governo evitará que nas grandes cidades o benefício seja pago em dinheiro vivo. Assim, não haverá necessidade de formar comitês gestores para prestação de contas. O ministro confirmou que nas regiões metropolitanas o Fome Zero também fará restaurantes populares e bancos de alimentos para aproveitar as sobras de restaurantes e hotéis. Graziano disse também que nos próximos dias o Fome Zero anunciará um programa de atendimento às famílias sem-terra acampadas em todo o país, a índios e a negros que moram em quilombos. Os três grupos foram identificados como focos da fome no país. As medidas serão depois estendidas também aos assentados do programa de reforma agrária e aos beneficiados pelo programa de agricultura familiar. Mas os detalhes serão anunciados em conjunto com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto. Segundo Graziano, em Guaribas um quilombo com cerca de 60 famílias não foi cadastrado pelo programa, porque as pessoas não têm documentos de identificação. O Governo vai tirar certidões de nascimento e outros documentos para incluir os quilombolas no programa. Como já tinha feito em Guaribas, o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), fez um longo discurso repleto de promessas aos moradores de Acauã, entre elas a de construção de uma adutora para abastecer de água toda a cidade. No fim, pediu aos beneficiados pelo Fome Zero para erguer os braços e repetir, em coro: 'Eu assumo comigo mesmo o compromisso de que vou sair da pobreza'. O assessor especial da Presidência, Frei Betto, admitiu ontem que a escolha de Acauã e Guaribas (PI) para piloto do Fome Zero levou em conta o fato de o Estado ser governado por um petista, o governador Wellington Dias. 'Ter um Governo muito afinado com o Governo federal ajudava', disse, reconhecendo que há outras cidades com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Organização das Nações Unidas (ONU) mais baixo. 'Acontece que a gente quer dar os passos certos para não improvisar', justificou. Acauã e Guaribas têm renda per capita baixa, mortalidade infantil alta e muitos analfabetos. As duas cidades só se diferem na realidade visual. Ao contrário de Guaribas, cuja realidade é de vila rural com ruas e estradas de terra, animais soltos e casas sem numeração nem reboco, Acauã tem vias públicas pavimentadas, acesso por rodovia asfaltada e calçamento para pedestres. Enquanto Guaribas ostenta o terceiro pior lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Organização das Nações Unidas (ONU), Acauã ocupa posição um pouco melhor: está à frente de 117 municípios brasileiros nessa avaliação. Mas tem uma das rendas per capita mais baixas, segundo Dias: 96 reais por ano. 'Medir quem é mais pobre num Estado como o Piauí não é fácil', disse, informando que os 223 municípios piauienses estão enquadrados no Portal do Alvorada - conjunto de ações lançadas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para erradicar a pobreza.

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