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Ambientalistas dizem que SP vai ter escassez de água em 10 anos

Por Época   19 de março de 2003
Em menos de 10 anos, a Região Metropolitana de São Paulo começará a sofrer as conseqüências da escassez de água. O alerta é dos ambientalistas que nesta semana estão reunidos no Fórum Social das Águas, em Cotia (SP), para discutir a questão. Segundo os especialistas, a ocupação desordenada de áreas de mananciais, a poluição e o assoreamento dos reservatórios, as condições climáticas e o desperdício levarão o sistema de abastecimento ao colapso.

Com menos disponibilidade de água, a tendência é que esse bem natural se torne cada vez mais caro para o consumidor. A perda da capacidade de produção das represas que abastecem a Região Metropolitana de São Paulo é a principal preocupação dos ambientalistas.

A situação se agrava com o aumento populacional da região, que recebe mais de 250 mil pessoas por ano. "Usamos muito mais água do que temos disponível. Os reservatórios não recuperam a capacidade como antes, mesmo com as chuvas", afirmou Carlos Bocuhy, do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema).

Segundo Marússia Whately, coordenadora da Campanha Água Viva para São Paulo, do Instituto Socioambiental, há grande risco de a Região Metropolitana ficar sem água. "Não temos margem de manobra, porque os recursos existentes já estão sendo utilizados", explica Marússia.

Embora a Sabesp descarte a possibilidade de colapso, os reservatórios operam atualmente com 53% da capacidade e, com as chuvas, a expectativa é de chegar a, no máximo, 60%. "O sistema está trabalhando sem folga, no limite. Gradualmente, estaremos entrando em colapso", alerta Bocuhy.

A Sabesp admite a necessidade de buscar alternativas para aumentar a produção em regiões ainda não exploradas, como a dos rios Capivari e Monos (ao sul de São Paulo) e no Vale do Paraíba, já no próximo ano. "Na medida em que se esgotam os mananciais, vamos para os mais distantes", explicou Antonio Marsiglia, diretor de produção e tecnologia da Sabesp.

Para consumo na Região Metropolitana, com cerca de 18 milhões de habitantes, a empresa já busca água da Bacia do Rio Piracicaba, através do Sistema Cantareira, responsável por 47,8% do abastecimento.

Os sistemas Guarapiranga e Billings respondem por 22,8% do abastecimento, o sistema Alto Tietê abastece 13,3%, o Rio Claro, 6,1%, o Rio Grande, 7,3%, e o Alto Cotia, 1,2%. Juntos, esses reservatórios produzem 63 metros cúbicos de água por segundo.

Estima-se que cada habitante da região tenha 256 metros cúbicos de água disponíveis por ano, índice menor que o valor considerado crítico pela Organização das Nações Unidas (que é de 1.500 metros cúbicos de água por habitante/ano). Relatório divulgado pela ONU em 5 de março aponta que até 2050 a falta de água atingirá entre 2 bilhões e 7 bilhões de pessoas no mundo. "Em 10 anos, teremos cada vez menos acesso à água, tanto na quantidade quanto na qualidade. A água será o petróleo do futuro", prevê Leonardo Morelli, do Movimento Grito das Águas.

Área de mananciais precisam ser preservadas

Para salvar os reservatórios da crise de abastecimento, os ambientalistas são unânimes: é necessário fiscalizar os mananciais para garantir que haverá preservação das áreas que ainda não foram ocupadas. A população também pode colaborar, não desperdiçando. "Se a gente não mudar de atitude, a água vai acabar mesmo", prevê Aldo Rebouças, pesquisador de Recursos Hídricos do Instituto de Estudos Avançados da USP.

Carlos Bocuhy, do Consema, também acredita que o problema pode ser solucionado com investimentos em proteção destas áreas. "Devemos proteger o que restou dos mananciais e recuperar o que foi degradado. É preciso criar também mecanismos de uso racional da água."

A solução apresentada pela Sabesp (de transferir água de outras bacias para a Região Metropolitana) não é bem vista pelos especialistas. "Será um processo caro e vai ter de ser negociado com as bacias. E não basta buscar água limpa em outro lugar. Está na hora de resolver o problema aqui", defendeu Marússia Whately, do Instituto Socioambiental. A Agência Nacional de Águas (ANA) admite que a água deverá ficar mais cara para o consumidor. "Será mais cara, porque terá de se buscar cada vez mais longe", disse a diretora Dilma Pereira.

Os ambientalistas afirmam que 40% da água potável produzida é perdida, 20% dela em vazamentos na rede (perda física) e outros 20% em ligações clandestinas. A Sabesp diz que hoje perde 15% e que chegou a perder 43% em 1994 (23% só de perda física). A redução dos índices aconteceu graças à troca dos canos de ferro por tubos plástico, mas o maior desperdício, segundo a Sabesp, está dentro das casas. O uso irracional da água, afirma a empresa, provoca o desperdício de 70% da água que chega às torneiras.

Daiene Cardoso, do Diário de S.Paulo

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