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Tecnologia social usa energia solar para levar água a comunidades

Por Tatiana Wittmann   26 de março de 2003
A realidade era igual a de muitas regiões do País: comunidades inteiras viviam sem energia elétrica e sem abastecimento de água em Belém, no Pará. Para atender esta demanda, a Prefeitura, através do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAEB), foi atrás de uma solução. E ela foi encontrada em uma tecnologia social desenvolvida por um grupo de professores da Universidade Federal do Pará (UFPA). Hoje, três sistemas de captação de água subterrânea através de energia solar fotovoltaica atendem comunidades que vivem nas ilhas de Cutijuba e de Mosqueiro.

O abastecimento de água foi apontado, durante reuniões entre a prefeitura e a comunidade, como uma das principais demandas de cinco localidades de Belém. "Estes encontros fazem parte do sistema de Orçamento Participativo adotado pela Prefeitura e neles são definidas as ações a serem tomadas", explica o diretor de operação e manutenção da SAAEB, João Neto. "As comunidades que vivem nas ilhas se abasteciam da água de rio, uma água barrenta. As crianças sofriam com diferentes doenças causadas pela má qualidade da água, que muitas vezes recebe resíduos tóxicos de indústrias da região", conta Neto.

Para atender estas comunidades foram estudadas várias possibilidades, como a instalação de motobombas a diesel. "Mostramos ao SAAEB que apesar de custar um pouco mais caro, o sistema de captação de água subterrânea através de energia solar fotovoltaica se paga em oito anos de uso e têm muitas vantagens", lembra o professor João Tavares Pinho, fundador e coordenador do Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Alternativas Energéticas da UFPA. Segundo Pinho, além de não agredir o meio ambiente, o sistema é automático e não exige muita manutenção. "Ele não utiliza combustível, não faz barulho e nem fumaça, não emite gases poluentes e tem uma vida útil de aproximadamente 30 anos, o dobro da motobomba", completa.

Células transformam luz solar em energia elétrica

O sistema criado pelos professores de engenharia da UFPA é modular. O módulo fotovoltaico possui células que transformam a luz solar em energia elétrica. "Esta energia passa por uma caixa de controle e ativa o funcionamento da bomba, que capta água do subsolo", conta Pinho. Segundo o professor, quanto mais luz solar, mais forte é o bombeamento e, conseqüentemente, a vazão de água. "O sistema é automático. O bombeamento pára quando a caixa d´água está cheia e volta a funcionar quando baixa do nível especificado", explica. "Como o sistema é modular, pode-se acoplar novas caixas d´água, trocar a bomba por uma de maior capacidade ou ampliar o sistema, sem perder o que já se tem", completa.

O SAAEB já implantou três sistemas criados pelos professores do GEDAE. Dois estão na Ilha de Cutijuba e um na Ilha do Mosqueiro. Os sistemas da comunidade da Baia de Santo Antônio, na Ilha do Mosqueiro, e de Pedra Branca, na Ilha de Cutijuba, têm capacidade para bombear 15 mil litros de água por dia, enquanto o de Poção, também em Cutijuba, tem capacidade para 20 mil litros. "Ao todo estão sendo beneficiadas cerca de 40 famílias naquele Estado, num total de aproximadamente 150 pessoas que vivem do extrativismo, pesca e agricultura", conta o professor João Pinho. "E já estamos com os equipamentos necessários para implantar mais dois sistemas na Ilha Jutuba", completa o diretor da SAAEB, João Neto.

"O acesso à água potável tem melhorado a saúde destas pessoas e ajudado na fixação do homem na área de sua residência. Antes eles viajavam atrás de água", conta Neto. "Além de levar água potável para estas comunidades, a implantação dos sistemas é muito importante para baratear esta tecnologia. Quanto mais disseminada ela for, mais conhecida fica e, conseqüentemente, seu custo é reduzido", acredita Pinho. "Sem contar que ela conscientiza para uma forma mais limpa de geração de energia", completa.

Mais informações sobre esta tecnologia estão disponíveis no Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil ( www.cidadania-e.com.br ).

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