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Água: um recurso limitado
Por Tatiana Wittmann   10 de abril de 2003
O recém lançado Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento dos Recursos
Hídricos, da Organização das Nações Unidas (ONU), traz à tona uma reflexão
importante: a de que a água doce é um recurso limitado. Segundo o documento,
os recursos hídricos diminuirão continuamente em decorrência do crescimento
da população, da poluição e de uma esperada mudança climática, o que poderá
levar a crise mundial da água à proporções sem precedentes nos próximos
anos. Para evitar que isto aconteça, organizações não-governamentais
procuram conscientizar a população brasileira para que se evite o
desperdício e se faça uma gestão adequada dos recursos naturais.
O Relatório da ONU oferece uma visão completa e atualizada sobre o estado em que se encontram os recursos hídricos nos dias de hoje. Ele classifica mais de 180 países e territórios em função da quantidade de recursos hídricos renováveis disponíveis per capita, considerando toda água encontrada na superfície ou em lençóis freáticos mais profundos. "O trabalho contou com o envolvimento de 23 parceiros da ONU que participaram da criação do Programa Mundial de Avaliação dos Recursos Hídricos (WWAP)", conta o coordenador da área de Ciências e Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultura (Unesco) no Brasil, Celso Schenkel. Foram monitorados dados relacionados à água nos campos da saúde, alimentação, ecossistemas, cidades, indústria, energia, gestão de risco, avaliação econômica, divisão de recursos e governança.
Brasil é o 23o país com mais água per capita Os países e territórios mais pobres em termos de disponibilidade de água são: Kuwait (10 m³ disponíveis por pessoa a cada ano), Faixa de Gaza (52 m³), Emirados Árabes Unidos (58 m³) e Bahamas (66 m³). Já os mais ricos em água são: Guiana Francesa (812.121 m³), Islândia (609.319 m³), Guiana (316.689 m³), Suriname (292.566 m³) e Congo (275.679 m³). "O mínimo de água aceitável por pessoa, por ano, é de mil metros cúbicos", conta Celso Schenkel.
O Brasil aparece em 23o lugar, com 48.314 m³ de água disponível por pessoa ao ano. "É importante lembrar que esta quantidade de água não está disponível de forma homogênea. A Amazônia, por exemplo, possui muita oferta para pouca população, enquanto no semi-árido tem pouca água para muitas pessoas", alerta Schenkel. "Por este motivo é preciso que o governo e a sociedade se empenhem na boa gestão dos recursos hídricos", completa. "Cerca de 40% da água tratada e distribuída para o consumo urbano no mundo, é perdida antes de chegar às torneiras. Na agricultura, o índice de água extraída e desperdiçada é ainda maior. As tecnologias de irrigação devem ser melhoradas", aponta o coordenador.
Sete bilhões de pessoas podem enfrentar falta de água até 2050 Segundo o Relatório, fatores como o crescimento populacional, o desenvolvimento de políticas e mudanças climáticas, podem fazer com que sete bilhões de pessoas em 60 países enfrentem falta de água na metade deste século. Na melhor das hipóteses, dois bilhões de pessoas em 48 países estarão nesta situação. "De todas as crises sociais e naturais que nós humanos enfrentamos, a crise da água é a que mais afeta a nossa sobrevivência e a sobrevivência do nosso planeta Terra", afirmou o Diretor Geral da UNESCO, Koïchiro Matsuura, durante o lançamento da pesquisa.
A poluição também é um fator que preocupa. Aproximadamente dois bilhões de toneladas de lixo são jogados em rios, lagos e riachos todos os dias. Um litro de água residual polui, em média, oito litros de água doce. De acordo com cálculos do relatório, estima-se que haja 12.000 km3 de água poluída no mundo, mais do que a quantidade total de água contida nas dez maiores bacias hidrográficas do mundo. Se as taxas de poluição mantiverem o atual ritmo de crescimento, cerca de 18.000 km3 de água doce serão perdidos até 2050.
"A água doce é um recurso limitado e que não depende só da sua oferta, como também da demanda. Se a população continuar crescendo nos níveis atuais e for mantido o nível de consumo, haverá escassez muito em breve", alerta o coordenador da Unesco no Brasil.
Mudança de hábitos pode ajudar a evitar a escassez Com o objetivo de deixar a sociedade informada sobre os temas relacionados à água e, com isso, sensibilizá-la para evitar o desperdício e mudar atitudes cotidianas, a Unesco tem divulgado os resultados das suas pesquisas. No site da organização (www.unesco.org.br) é possível ter acesso, por exemplo, aos livros "A ética do uso da água doce: um levantamento" e "Gestão da água no Brasil". "O que se percebe é que os brasileiros estão mais conscientes, porém ainda não houve uma mudança significativa dos hábitos", acredita Schenkel. "É preciso não só deixar de desperdiçar água, mas ter consciência de que este desperdício está ligado ao limite de oferta para outras pessoas" , avalia.
Algumas organizações não-governamentais já abraçaram esta causa e vem tentando mobilizar a população para uma melhor gestão dos recursos hídricos. "As ONGs são parceiras importantes, pois pontuam suas ações de acordo com os temas que mais dominam. Uma ação local, por exemplo, pode ter reações enormes", diz Schenkel.
Uma das organizações que trabalham em parceria com a UNESCO é a WWF-Brasil (www.wwf.org.br). Desde 2001, a ONG vem desenvolvendo o Programa Água para a Vida, que envolve vários projetos com o objetivo de desenvolver modelos de manejo de bacias hidrográficas e trabalhar para a ampliação das áreas úmidas protegidas; gerar programas de educação ambiental e conscientizar o grande público, governos e o setor privado sobre a importância de conservar e gerir os recursos hídricos; e fortalecer as políticas públicas e instituições responsáveis pela gestão dos recursos hídricos. "Temos provocado várias discussões em nossas atividades. É preciso que as pessoas percebam que a água tem relação direta com as florestas, o ar que respiramos, nossa vida, o nosso dia-a-dia", aponta o coordenador do programa, Samuel Barreto. "A água não pode ser vista como produto de consumo, mas como recurso para a vida", completa.
Barreto concorda com Schenkel e diz que a população deve mudar os seus hábitos e evitar o desperdício, porém, alerta que é preciso ir além. "O tema tem que estar integrado em todas as áreas de desenvolvimento do Brasil. O meio ambiente não é obstáculo para o desenvolvimento e deve fazer parte de ações integradas do governo", acredita Barreto. "O mau uso do solo, a poluição, o desmatamento, os lixões e a mineração, por exemplo, degradam o os recursos hídricos. A sociedade e o governo podem reverter isso", alerta.
Outra organização não-governamental que está realizando programas para a conservação da quantidade e qualidade da água é o Instituto Sócio Ambiental (www.isa.org.br). A campanha Água Viva para São Paulo, por exemplo, procura informar, conscientizar e, principalmente, mobilizar a população para a proteção e recuperação dos mananciais da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), ajudando os cidadãos a compreenderem a origem desse problema e suas soluções. Já a Universidade da Água - Uniágua (www.uniagua.org.br), com sede em São Paulo, utiliza a educação ambiental para mobilizar a sociedade para a proteção, preservação e recuperação das reservas de água potável. E a ONG Água e Cidade (www.aguaecidade.org.br) desenvolve projetos como o "Água na Escola", que conscientiza jovens para o uso e a conservação dos recursos; o "Gestão de Água nas Organizações", que avalia o nível do comprometimento da organização para o uso racional da água através de indicadores definidos; e "Cidades Saudáveis e Sustentáveis", que mobiliza diferentes segmentos da sociedade para a necessidade do saneamento básico.
Mais informações sobre temas relacionados à água podem ser obtidos no site do Ano Internacional da Água Doce ( www.wateryear2003.org ), coordenado pela Unesco e pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas.
O Relatório da ONU oferece uma visão completa e atualizada sobre o estado em que se encontram os recursos hídricos nos dias de hoje. Ele classifica mais de 180 países e territórios em função da quantidade de recursos hídricos renováveis disponíveis per capita, considerando toda água encontrada na superfície ou em lençóis freáticos mais profundos. "O trabalho contou com o envolvimento de 23 parceiros da ONU que participaram da criação do Programa Mundial de Avaliação dos Recursos Hídricos (WWAP)", conta o coordenador da área de Ciências e Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultura (Unesco) no Brasil, Celso Schenkel. Foram monitorados dados relacionados à água nos campos da saúde, alimentação, ecossistemas, cidades, indústria, energia, gestão de risco, avaliação econômica, divisão de recursos e governança.
Brasil é o 23o país com mais água per capita Os países e territórios mais pobres em termos de disponibilidade de água são: Kuwait (10 m³ disponíveis por pessoa a cada ano), Faixa de Gaza (52 m³), Emirados Árabes Unidos (58 m³) e Bahamas (66 m³). Já os mais ricos em água são: Guiana Francesa (812.121 m³), Islândia (609.319 m³), Guiana (316.689 m³), Suriname (292.566 m³) e Congo (275.679 m³). "O mínimo de água aceitável por pessoa, por ano, é de mil metros cúbicos", conta Celso Schenkel.
O Brasil aparece em 23o lugar, com 48.314 m³ de água disponível por pessoa ao ano. "É importante lembrar que esta quantidade de água não está disponível de forma homogênea. A Amazônia, por exemplo, possui muita oferta para pouca população, enquanto no semi-árido tem pouca água para muitas pessoas", alerta Schenkel. "Por este motivo é preciso que o governo e a sociedade se empenhem na boa gestão dos recursos hídricos", completa. "Cerca de 40% da água tratada e distribuída para o consumo urbano no mundo, é perdida antes de chegar às torneiras. Na agricultura, o índice de água extraída e desperdiçada é ainda maior. As tecnologias de irrigação devem ser melhoradas", aponta o coordenador.
Sete bilhões de pessoas podem enfrentar falta de água até 2050 Segundo o Relatório, fatores como o crescimento populacional, o desenvolvimento de políticas e mudanças climáticas, podem fazer com que sete bilhões de pessoas em 60 países enfrentem falta de água na metade deste século. Na melhor das hipóteses, dois bilhões de pessoas em 48 países estarão nesta situação. "De todas as crises sociais e naturais que nós humanos enfrentamos, a crise da água é a que mais afeta a nossa sobrevivência e a sobrevivência do nosso planeta Terra", afirmou o Diretor Geral da UNESCO, Koïchiro Matsuura, durante o lançamento da pesquisa.
A poluição também é um fator que preocupa. Aproximadamente dois bilhões de toneladas de lixo são jogados em rios, lagos e riachos todos os dias. Um litro de água residual polui, em média, oito litros de água doce. De acordo com cálculos do relatório, estima-se que haja 12.000 km3 de água poluída no mundo, mais do que a quantidade total de água contida nas dez maiores bacias hidrográficas do mundo. Se as taxas de poluição mantiverem o atual ritmo de crescimento, cerca de 18.000 km3 de água doce serão perdidos até 2050.
"A água doce é um recurso limitado e que não depende só da sua oferta, como também da demanda. Se a população continuar crescendo nos níveis atuais e for mantido o nível de consumo, haverá escassez muito em breve", alerta o coordenador da Unesco no Brasil.
Mudança de hábitos pode ajudar a evitar a escassez Com o objetivo de deixar a sociedade informada sobre os temas relacionados à água e, com isso, sensibilizá-la para evitar o desperdício e mudar atitudes cotidianas, a Unesco tem divulgado os resultados das suas pesquisas. No site da organização (www.unesco.org.br) é possível ter acesso, por exemplo, aos livros "A ética do uso da água doce: um levantamento" e "Gestão da água no Brasil". "O que se percebe é que os brasileiros estão mais conscientes, porém ainda não houve uma mudança significativa dos hábitos", acredita Schenkel. "É preciso não só deixar de desperdiçar água, mas ter consciência de que este desperdício está ligado ao limite de oferta para outras pessoas" , avalia.
Algumas organizações não-governamentais já abraçaram esta causa e vem tentando mobilizar a população para uma melhor gestão dos recursos hídricos. "As ONGs são parceiras importantes, pois pontuam suas ações de acordo com os temas que mais dominam. Uma ação local, por exemplo, pode ter reações enormes", diz Schenkel.
Uma das organizações que trabalham em parceria com a UNESCO é a WWF-Brasil (www.wwf.org.br). Desde 2001, a ONG vem desenvolvendo o Programa Água para a Vida, que envolve vários projetos com o objetivo de desenvolver modelos de manejo de bacias hidrográficas e trabalhar para a ampliação das áreas úmidas protegidas; gerar programas de educação ambiental e conscientizar o grande público, governos e o setor privado sobre a importância de conservar e gerir os recursos hídricos; e fortalecer as políticas públicas e instituições responsáveis pela gestão dos recursos hídricos. "Temos provocado várias discussões em nossas atividades. É preciso que as pessoas percebam que a água tem relação direta com as florestas, o ar que respiramos, nossa vida, o nosso dia-a-dia", aponta o coordenador do programa, Samuel Barreto. "A água não pode ser vista como produto de consumo, mas como recurso para a vida", completa.
Barreto concorda com Schenkel e diz que a população deve mudar os seus hábitos e evitar o desperdício, porém, alerta que é preciso ir além. "O tema tem que estar integrado em todas as áreas de desenvolvimento do Brasil. O meio ambiente não é obstáculo para o desenvolvimento e deve fazer parte de ações integradas do governo", acredita Barreto. "O mau uso do solo, a poluição, o desmatamento, os lixões e a mineração, por exemplo, degradam o os recursos hídricos. A sociedade e o governo podem reverter isso", alerta.
Outra organização não-governamental que está realizando programas para a conservação da quantidade e qualidade da água é o Instituto Sócio Ambiental (www.isa.org.br). A campanha Água Viva para São Paulo, por exemplo, procura informar, conscientizar e, principalmente, mobilizar a população para a proteção e recuperação dos mananciais da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), ajudando os cidadãos a compreenderem a origem desse problema e suas soluções. Já a Universidade da Água - Uniágua (www.uniagua.org.br), com sede em São Paulo, utiliza a educação ambiental para mobilizar a sociedade para a proteção, preservação e recuperação das reservas de água potável. E a ONG Água e Cidade (www.aguaecidade.org.br) desenvolve projetos como o "Água na Escola", que conscientiza jovens para o uso e a conservação dos recursos; o "Gestão de Água nas Organizações", que avalia o nível do comprometimento da organização para o uso racional da água através de indicadores definidos; e "Cidades Saudáveis e Sustentáveis", que mobiliza diferentes segmentos da sociedade para a necessidade do saneamento básico.
Mais informações sobre temas relacionados à água podem ser obtidos no site do Ano Internacional da Água Doce ( www.wateryear2003.org ), coordenado pela Unesco e pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas.