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Um olhar sobre a ciência do futuro

Por Gabriela Mendonça - Diário do Comércio   22 de abril de 2003
O professor e engenheiro João Antônio Zuffo vive no futuro. Entre supercomputadores, caverna de realidade virtual e projetos avançados de tecnologia para medicina e multimídia, ele coordena, há quase trinta anos, o Laboratório de Sistemas Integráveis, LSI, da Universidade de São Paulo, USP, um laboratório multidisciplinar que desenvolve tecnologia de ponta no Brasil.

A partir de sua experiência, o professor acaba de lançar o segundo livro da série A Sociedade e a Economia no Novo Milênio (Editora Manole), dando seqüência à discussão iniciada no primeiro volume sobre as implicações das novas tecnologias nos mais variados campos da sociedade. O primeiro livro trata da evolução tecnológica e do desenvolvimento dos negócios eletrônicos, da moeda eletrônica e do dinheiro virtual. O novo volume trata da reestruturação dos empregos, da educação e das profissões na Era da Informática.

Em entrevista exclusiva para o Diário do Comércio, professor João Antônio Zuffo analisa e explica os impactos do desenvolvimento tecnológico no País e no mundo num futuro próximo.

Realidade e perspectivas

"É preciso ter estratégias bem definidas para gerenciar um laboratório como o de Sistemas Integráveis da USP. No Brasil, quem trabalha com pesquisa não pode errar, já que, se você erra uma vez, não consegue recursos para mais nada. Foi pensando nesses aspectos que decidi escrever os livros.

O primeiro deles faz uma projeção da evolução da tecnologia nos próximos 20 anos e das conseqüências sociais desta evolução. Eu conheço autores americanos que dizem que, em 10 anos, só irão usar papel moeda dois tipos de pessoas - os muitos pobres, porque não têm acesso à tecnologia da informação, e os ricos - que usarão por excentricidade.

O aumento do desenvolvimento de inteligência artificial para a gerência de recursos monetários e a velocidade de permuta das informações mudam todo o aspecto não só microeconômico, mas também macroeconômico da sociedade. E associado a isso, vem a mudança de comportamento social. O emprego para a toda vida desapareceu. Além disso, as tecnologias da informação são desconcentradoras de população. Com as novas tecnologias e a nova configuração do trabalho, as pessoas não precisam mais se aglomerarem nos grandes centros urbanos. Existe uma série de conseqüências muito graves e muito rápidas para a humanidade.

As modificações na concepção de emprego

Quando vemos este número grande de camelôs nas ruas, nada mais estamos observando do que a tendência mundial de transformação do trabalho formal em autônomo.

É preciso que haja regulamentação e controle social para organizar isso em cooperativas de trabalho. Todas as transformações se devem ao desenvolvimento tecnológico e ao aumento ultraveloz da disponibilização das informações. Isso muda nossa percepção do tempo e, com ela, a configuração do trabalho. A especialização e o conhecimento vertical da era industrial deve ser substituído por um indivíduo de conhecimento básico muito sólido e apto a se preparar rapidamente para resolução de eventuais novos problemas.

Não será mais um trabalho de funções, mas um trabalho de tarefas. É a nova estrutura que eu discuto nestes meus dois livros.

A exclusão social e a exclusão digital

As tendências sociais dependem de nós, de como nós vamos distribuir este conhecimento. Se houver um programa educacional voltado para isso, podemos incluir mais pessoas no processo tecnológico. O ser humano é muito adaptável e absorve conhecimento nas condições mais adversas. As pessoas criticam o comércio no Viaduto Santa Ifigênia por causa da pirataria. Eu olho por outro ângulo - fico admirado de ver pessoas semi-analfabetas falando de memória in e softwares, por exemplo. Estas pessoas estão se adaptando e, mais ainda, estão comprando e vendendo equipamentos usados a baixo custo.

Caminhos para inclusão

Precisamos aproveitar as tecnologias da informação para o ensino e a educação. Hoje seria possível ter educação para milhões de estudantes fora da escola clássica, mas isso não envolve só tecnologia, envolve também conteúdo. A tecnologia que temos é ainda a da aula expositiva, não temos tecnologia de ensino à distância de forma mais consolidada.

Na Universidade de Oxford, na Inglaterra, existem 200 mil alunos à distância, e na Universidade do Texas, nos Estados Unidos, 70% dos estudantes fazem cursos à distância.

Se a USP tivesse um sistema de informática muito mais sólido, se tivesse tecnologia de conteúdo para ensino à distância, poderíamos duplicar o atendimento, sem ocupar espaço físico na universidade. O custo do ensino cairia muito".

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