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O investimento que faz bem à comunidade
Por Kei Marcos Tanaami - Revista Exame   15 de maio de 2003
O administrador de empresas paulista Roberto Yoshino, de 45 anos, procurava
no mês passado um fundo de investimento para depositar parte de suas
economias. A princípio, ele só queria diversificar suas aplicações, como
recomendam os manuais de finanças pessoais. Pouco tempo depois, por
indicação de um conhecido, Yoshino ficou sabendo do fundo Ação Social, do
banco HSBC. Além de ser um fundo referenciado DI como os muitos à disposição
do investidor -- uma aplicação de baixo risco que tem por objetivo oferecer
as taxas de juro do mercado interbancário --, o Ação Social destina parte de
sua arrecadação para instituições do Terceiro Setor. "Com ele posso atingir
dois objetivos de uma vez só", diz Yoshino. "Tenho rentabilidade e ainda
colaboro com entidades beneficentes."
O fundo é o decano de uma leva de investimentos recentes no Brasil, a das aplicações socialmente responsáveis. Seu objetivo declarado é dar apoio financeiro a ações de cidadania e de sustentabilidade espalhadas Brasil afora. São oito os principais fundos éticos atualmente em operação. Por se tratar de uma categoria recente, com menos de dois anos de existência, seu patrimônio ainda é pouco expressivo: os recursos administrados mal chegam a 90 milhões de reais. No entanto, esse é considerado um dos segmentos mais promissores no longo prazo. Nos Estados Unidos, investimentos com responsabilidade social receberam 1,6 bilhão de dólares em recursos novos no ano passado. A aposta do mercado é que mais e mais pessoas como Yoshino vão querer não só ganhar dinheiro mas também contribuir para o bem-estar da comunidade, ainda que indiretamente.
Como o brasileiro é conservador com suas finanças, a maioria dos fundos socialmente responsáveis pertence à categoria DI e renda fixa, que oferecem baixo risco. Somente o banco ABN Amro, com seus fundos Ethical, trabalha nos mesmos moldes do mercado americano, ou seja, investindo o patrimônio em ações de empresas comprometidas com causas sociais, ambientais ou com a governança corporativa (veja tabela). Nesses fundos, o incentivo social está na escolha dos pa péis. Tudo o que vier de lucro (ou prejuízo) decorrente da oscilação das ações pertence ao investidor. Até agora, tem sido um bom negócio em comparação com os fundos de ações indexados tradicionais. Desde sua criação, em novembro de 2001, os fundos Ethical, do ABN, acumulam de 18% a 25% de valorização, enquanto o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) cresceu 12% nesse período.
Para escolher a melhor aplicação, o investidor precisa primeiro definir até onde vai sua disposição em ajudar o próximo. Os fundos socialmente responsáveis dividem-se em dois grupos: aqueles em que os bancos fazem caridade sozinhos (retirando uma parte de sua taxa de administração) e aqueles em que o investidor participa abrindo mão de uma parte de seu rendimento. Ao primeiro grupo pertencem o Ação Social, do HSBC, e o Pró Amem (Associação de Amigos do Menor pelo Esporte Maior), do Banco Santos. Ambos são destinados a clientes qualificados, que disponham de aplicação mínima de 30 000 a 50 000 reais. Sua rentabilidade é competitiva com o mercado. "Oferecemos perto de 100% dos Certificados de Depósito Interbancário para o investidor", diz Jorge Misumi, diretor de produtos da empresa de gestão de recursos do banco HSBC.
Ao segundo tipo de fundo, aquele em que o investidor abre mão de parte do rendimento, pertencem o Private de Investimento Social, do Unibanco, e o Princípio, uma parceria do Banco Santos, do banco mineiro Bonsucesso e da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). "Queremos abrir um canal de participação para nossos clientes", diz Celso Scaramuzza, vice-presidente de private banking do Unibanco.
Numa posição intermediária ficam os fundos da Caixa e do Banco do Brasil. Ambos cobram uma taxa de administração muito elevada, que compromete a rentabilidade para o investidor. Metade dessa receita ganha pelo banco vai para a caridade. A gestão do FIF Fome Zero (da Caixa) custa 5% ao ano sobre o patrimônio, e a do DI Básico (do BB), 4,5% ao ano. "Esse não é nosso fundo mais rentável", diz Fernando Barbosa, diretor de varejo do Banco do Brasil. "Mas sua taxa é compatível com a de outros fundos que permitem investimento de varejo a partir de 200 reais."
Segundo pesquisas feitas com clientes, a rentabilidade não é o principal critério usado na hora de investir nos fundos éticos. "Na Caixa, 63% das aplicações foram movidas pelo sentimento de solidariedade", diz Wilson Risolia, vice-presidente de administração de recursos de terceiros. A praticidade do investimento também é lembrada nas pesquisas. Apesar da disposição do investidor de abrir mão de parte de seu ganho em prol de causas sociais ser louvável, é preciso tomar alguns cuidados. O investidor também tem de ver seu dinheiro crescer. Caso contrário, o investimento deixa de ser investimento.
O fundo é o decano de uma leva de investimentos recentes no Brasil, a das aplicações socialmente responsáveis. Seu objetivo declarado é dar apoio financeiro a ações de cidadania e de sustentabilidade espalhadas Brasil afora. São oito os principais fundos éticos atualmente em operação. Por se tratar de uma categoria recente, com menos de dois anos de existência, seu patrimônio ainda é pouco expressivo: os recursos administrados mal chegam a 90 milhões de reais. No entanto, esse é considerado um dos segmentos mais promissores no longo prazo. Nos Estados Unidos, investimentos com responsabilidade social receberam 1,6 bilhão de dólares em recursos novos no ano passado. A aposta do mercado é que mais e mais pessoas como Yoshino vão querer não só ganhar dinheiro mas também contribuir para o bem-estar da comunidade, ainda que indiretamente.
Como o brasileiro é conservador com suas finanças, a maioria dos fundos socialmente responsáveis pertence à categoria DI e renda fixa, que oferecem baixo risco. Somente o banco ABN Amro, com seus fundos Ethical, trabalha nos mesmos moldes do mercado americano, ou seja, investindo o patrimônio em ações de empresas comprometidas com causas sociais, ambientais ou com a governança corporativa (veja tabela). Nesses fundos, o incentivo social está na escolha dos pa péis. Tudo o que vier de lucro (ou prejuízo) decorrente da oscilação das ações pertence ao investidor. Até agora, tem sido um bom negócio em comparação com os fundos de ações indexados tradicionais. Desde sua criação, em novembro de 2001, os fundos Ethical, do ABN, acumulam de 18% a 25% de valorização, enquanto o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) cresceu 12% nesse período.
Para escolher a melhor aplicação, o investidor precisa primeiro definir até onde vai sua disposição em ajudar o próximo. Os fundos socialmente responsáveis dividem-se em dois grupos: aqueles em que os bancos fazem caridade sozinhos (retirando uma parte de sua taxa de administração) e aqueles em que o investidor participa abrindo mão de uma parte de seu rendimento. Ao primeiro grupo pertencem o Ação Social, do HSBC, e o Pró Amem (Associação de Amigos do Menor pelo Esporte Maior), do Banco Santos. Ambos são destinados a clientes qualificados, que disponham de aplicação mínima de 30 000 a 50 000 reais. Sua rentabilidade é competitiva com o mercado. "Oferecemos perto de 100% dos Certificados de Depósito Interbancário para o investidor", diz Jorge Misumi, diretor de produtos da empresa de gestão de recursos do banco HSBC.
Ao segundo tipo de fundo, aquele em que o investidor abre mão de parte do rendimento, pertencem o Private de Investimento Social, do Unibanco, e o Princípio, uma parceria do Banco Santos, do banco mineiro Bonsucesso e da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). "Queremos abrir um canal de participação para nossos clientes", diz Celso Scaramuzza, vice-presidente de private banking do Unibanco.
Numa posição intermediária ficam os fundos da Caixa e do Banco do Brasil. Ambos cobram uma taxa de administração muito elevada, que compromete a rentabilidade para o investidor. Metade dessa receita ganha pelo banco vai para a caridade. A gestão do FIF Fome Zero (da Caixa) custa 5% ao ano sobre o patrimônio, e a do DI Básico (do BB), 4,5% ao ano. "Esse não é nosso fundo mais rentável", diz Fernando Barbosa, diretor de varejo do Banco do Brasil. "Mas sua taxa é compatível com a de outros fundos que permitem investimento de varejo a partir de 200 reais."
Segundo pesquisas feitas com clientes, a rentabilidade não é o principal critério usado na hora de investir nos fundos éticos. "Na Caixa, 63% das aplicações foram movidas pelo sentimento de solidariedade", diz Wilson Risolia, vice-presidente de administração de recursos de terceiros. A praticidade do investimento também é lembrada nas pesquisas. Apesar da disposição do investidor de abrir mão de parte de seu ganho em prol de causas sociais ser louvável, é preciso tomar alguns cuidados. O investidor também tem de ver seu dinheiro crescer. Caso contrário, o investimento deixa de ser investimento.