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Onde o amor é a base
Por Alexandre Rodrigues de Paula - Faap/SP   25 de junho de 2003
O Hospital Fabiano de Cristo é uma instituição de retaguarda e tem como compromisso com a sociedade tratar de pacientes que não podem ter a ajuda da familia ou quando depois de operados em hospitais públicos e na não existência de leitos para ficar, eles podem ser dirigidos ao Hospital Fabiano de Cristo.
Muitos dos que lá se encontram estão desanimados. Margô, assim conhecida entre as enfermeiras, é uma mulher diferente dos demais pacientes do hospital. Apesar de saber que talvez não viverá muito tempo, ela irradia uma alegria incomensurável.
Mãe de quatro tesouros, assim chama os filhos, e viúva há 4 anos, Margô sempre foi uma mulher de batalhar e ir atrás do que quer, mas os últimos 4 meses de sua vida ela se encontra em rotina de hospitais.
Tudo começou quando estava tomando banho e sentiu uma dor horrível nos seios, e já sabendo da existência de pequenas “pedrinhas” no mesmo, ela não aguentava de dor e foi obrigada a ir ao médico, coisa que ela odiava fazer devido a ter que faltar no emprego, e sendo faxineira diarista deixava de ganhar. Até mesmo quando seu caçula ficava doente ela não faltava, e fazia com que a filha mais velha tomasse conta do irmãozinho.
Pobre Margaret, depois de tanto tempo de ter evitado faltar, hoje ela já “falta” há dois meses. Ela chegou a ficar entre a vida e a morte na espera de saber o que havia de errado em seu seio, apesar de não gostar de usar a palavra "câncer", esse foi o diagnóstico dado pelos médicos.
A quimioterapia e os caros remédios não adiantariam em seu caso, então a solução foi ter que tirar a mama. Segundo Margô, tudo aconteceu muito rápido, e até então o seu desespero aumentava em saber que seus tesouros não teriam o que comer, e com quem eles ficariam caso ela morresse?
Mas para tentar enfrentar a morte ela teve que passar pela cirurgia, mas logo depois, para onde ir? No hospital público não poderia ficar, e em casa, quem cuidaria dela? A filha mais velha não daria conta de tantos afazeres e o segundo teria que trabalhar para ajudar nas despesas. A partir dai que Margô começou a viver o seu grande problema.
Sua irmã, também mãe de quatro filhos pequenos, estava disposta a cuidar dela em partes, mas Margô necessitava de cuidados especiais, troca de curativos e certamente, um acompanhamento psicológico.
Não demorou muito e a solução, em partes apareceu, sua vizinha disse conhecer um hospital de retaguarda no qual hoje ela se encontra. Logo depois da cirurgia Margô foi transferida para o Hospital Fabiano de Cristo e já está bem recuperada.
Hoje ela se sente mais sadia e sabe que os seus filhos estão sendo assistidos pela irmã, mas todo final de semana quando eles a visitam, Margô chora copiosamente ao temer nunca mais vê-los.
Além dos cuidados de curativos e alimentação adequada que o hospital proporciona a Margô, ela também recebe um ótimo acompanhamento psicológico devido a retirada de um seio e ao medo de perder a vida e deixar os filhos. Ela confessa: “ - Aqui recebo o carinho e o amor de uma família, mas tenho certeza que sem isso eu já teria morrido.”
Ela não é a única paciente que recebe esses cuidados e principalmente o aconchego familiar oferecido em abundância pela entidade, mas cada paciente tem a sua história singular e única.
O caso de Netinho é bem parecido, depois de ter sofrido queimaduras na rua não tinha para onde ir receber cuidados a longo prazo, mas o que difere entre esses dois sujeitos é que se Netinho tivesse morrido ele não deixaria ninguém.
Disse ser uma pessoa bem sozinha, tão sozinha que quando a enfermeira do hospital público disse que ele deveria deixar o hospital pela falta de espaço e que o resto deveria ser feito em casa por familiares, ele se desesperou porque sabia que não tinha ninguém para fazer isso por ele, pois é um nordestino sem família no sudeste do país.
A base da história de todos os pacientes é a mesma, não tem para onde ir, talvez alguém para cuidar, falta de alimentação adequada em casa e muitas vezes falta de amor, mas todos carregam em seu coração algo único, uma história talvez jamais escutada.
Para Netinho a ida ao Hospital Fabiano de Cristo mudou sua vida, disse que nunca havia sido tão bem tratado por alguém em sua vida e que essa foi uma grande chance de conhecer o amor através da caridade do próximo. O amor é a base do tratamento no Hospital, onde todos têm a chance de viver.