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Moradores de rua inspiram jovens
Por O Estado de São Paulo    10 de julho de 2003
O dia-a-dia dos 'sem-casa' foi ponto de partida da montagem de 'Osvaldo
Raspado no Asfalto'
Beth Néspoli
Há muitas e muitas escolas de teatro na cidade. Todas realizam espetáculos ao fim de cada semestre cursado. De vez em quando, algum se destaca. Em geral, isso ocorre quando cumprem o que deveria ser a função de montagens escolares: aproveitar a inexistência de compromisso com o mercado, com resultados estéticos ou um possível gosto de público, para arriscar, para experimentar novas formas de criar, para ousar no aprimoramento da arte teatral.
Esse foi o pensamento norteador da criação de Osvaldo Raspado no Asfalto, peça de formatura de uma das turmas da Escola Livre de Santo André que estréia hoje no Tusp, depois de ter ficado quatro meses em cartaz no Teatro Conchita de Moraes, em Santo André. Talvez não seja mesmo uma peça para o público em geral. Mas para aqueles espectadores interessados em saber o que está interessando a jovens atores. De que forma eles estão olhando para o mundo que os cerca. Até porque foi exatamente isso que eles fizeram antes de subir ao palco. Saíram em campo para entender a vida dos moradores de rua.
Um ponto de partida - há muitos outros - para entender o mundo que os cerca, com seus miseráveis, seus ameaçadores acampamentos. Um ponto de partida, como outros, para entender o ser humano.
Antes de mais nada, causa certo estranhamento cinco diretores assinando uma mesma montagem. "Na Escola Livre, há uma forte sinergia entre núcleos - de direção, dramaturgia, interpretação, música, preparação corporal", explica a diretora Georgete Fadel. Assim, a turma vem pesquisando o universo dos moradores de rua já há algum tempo. E trabalhando sobre o tema nos diversos núcleos de criação da escola. Mas se o resultado é fruto de trabalho coletivo, as funções são distintas: o dramaturgo Rogério Toscana assina o roteiro; Gustavo Kurlat é diretor musical; Cláudia Schapira e Juliana são preparadoras corporais, um trabalho fundamental em Osvaldo.
Se o tema já estava na peça anterior da turma, chamada Léo não Pode Mudar o Mundo, para o trabalho final os alunos/atores resolveram radicalizar. E decidiram acompanhar o dia-a-dia de moradores de rua do centro de São Paulo.
"A idéia inicial era pesquisar 'o dia anterior', aquele dia, aquele momento, em que a pessoa saiu de casa para começar a vida na rua. Mas as entrevistas acabaram se revelando muito mais ricas e mudaram o rumo do espetáculo."
De início, os atores mergulharam sem medo no exercício da mimese (imitação) dos 'personagens' reais. "Mas, aos poucos, começamos a mexer nas proporções, nos ritmos, e o trabalho foi se transformando", comenta Georgete. "Num dos semestres, nós estudamos as máscaras da Commedia dell'Arte. No semestre seguinte, o naturalismo mais puro. De certa forma, essa montagem final sintetiza essas linguagens."
Músicas intercalam os depoimentos dos personagens. Algumas das histórias colhidas beiram o realismo fantástico. E são justamente as mais coladas à realidade. Quase falsa na sua crua miséria.
Beth Néspoli
Há muitas e muitas escolas de teatro na cidade. Todas realizam espetáculos ao fim de cada semestre cursado. De vez em quando, algum se destaca. Em geral, isso ocorre quando cumprem o que deveria ser a função de montagens escolares: aproveitar a inexistência de compromisso com o mercado, com resultados estéticos ou um possível gosto de público, para arriscar, para experimentar novas formas de criar, para ousar no aprimoramento da arte teatral.
Esse foi o pensamento norteador da criação de Osvaldo Raspado no Asfalto, peça de formatura de uma das turmas da Escola Livre de Santo André que estréia hoje no Tusp, depois de ter ficado quatro meses em cartaz no Teatro Conchita de Moraes, em Santo André. Talvez não seja mesmo uma peça para o público em geral. Mas para aqueles espectadores interessados em saber o que está interessando a jovens atores. De que forma eles estão olhando para o mundo que os cerca. Até porque foi exatamente isso que eles fizeram antes de subir ao palco. Saíram em campo para entender a vida dos moradores de rua.
Um ponto de partida - há muitos outros - para entender o mundo que os cerca, com seus miseráveis, seus ameaçadores acampamentos. Um ponto de partida, como outros, para entender o ser humano.
Antes de mais nada, causa certo estranhamento cinco diretores assinando uma mesma montagem. "Na Escola Livre, há uma forte sinergia entre núcleos - de direção, dramaturgia, interpretação, música, preparação corporal", explica a diretora Georgete Fadel. Assim, a turma vem pesquisando o universo dos moradores de rua já há algum tempo. E trabalhando sobre o tema nos diversos núcleos de criação da escola. Mas se o resultado é fruto de trabalho coletivo, as funções são distintas: o dramaturgo Rogério Toscana assina o roteiro; Gustavo Kurlat é diretor musical; Cláudia Schapira e Juliana são preparadoras corporais, um trabalho fundamental em Osvaldo.
Se o tema já estava na peça anterior da turma, chamada Léo não Pode Mudar o Mundo, para o trabalho final os alunos/atores resolveram radicalizar. E decidiram acompanhar o dia-a-dia de moradores de rua do centro de São Paulo.
"A idéia inicial era pesquisar 'o dia anterior', aquele dia, aquele momento, em que a pessoa saiu de casa para começar a vida na rua. Mas as entrevistas acabaram se revelando muito mais ricas e mudaram o rumo do espetáculo."
De início, os atores mergulharam sem medo no exercício da mimese (imitação) dos 'personagens' reais. "Mas, aos poucos, começamos a mexer nas proporções, nos ritmos, e o trabalho foi se transformando", comenta Georgete. "Num dos semestres, nós estudamos as máscaras da Commedia dell'Arte. No semestre seguinte, o naturalismo mais puro. De certa forma, essa montagem final sintetiza essas linguagens."
Músicas intercalam os depoimentos dos personagens. Algumas das histórias colhidas beiram o realismo fantástico. E são justamente as mais coladas à realidade. Quase falsa na sua crua miséria.