Por Tsuli Narimatsu /Jornal do Comércio   30 de julho de 2003
Foto de Paulo Pampolin/Digna Imagem
A Arquias desenvolve persianas a partir de palmeiras e buriti
A era de vender produtos feitos por ONGs em bazares e feiras está
chegando ao fim. A cada dia surgem mais lojas de produtos solidários,
que acabam funcionando como vitrine dos trabalhos das entidades
As lojas que comercializam
itens solidários são a melhor
vitrine do Terceiro Setor. Ainda
não são muitas, mas a visibilidade
que proporcionam
aos produtos comunitários começa
a chamar atenção. Isto
porque, mais do que simplesmente
expor artigos, esse tipo
de comércio ajuda a difundir e
valorizar os trabalhos sociais
realizados, de preservação do
meio ambiente e da vida.
A divulgação das ações sociais
acontece de duas maneiras,
explica Ricardo Pedroso,
sócio do Projeto Terra, no
Shopping Villa Lobos. "As etiquetas
que acompanham os
produtos (onde o trabalho
executado é descrito) e as explicações
fornecidas por quem
trabalha na loja são fundamentais.
Numa peça não se vende
apenas funcionalidade e beleza
mas principalmente um conjunto
de valores embutidos".
Os produtos à disposição
nestes canais exclusivos passam
por análises rigorosas para
identificar a consistência de
sua história social ou ecológica.
O atributo é tratado como
item eliminatório. Em seguida
são avaliados quesitos como
design.
viabilidade comercial,
formas de produção empregadas,
potencial de produção e de
reprodução. Existe ainda uma
convenção para que os comerciantes
paguem o preço pedido
pelo produtor em respeito ao
valor do trabalho.
Antes das "world shops" tomarem
corpo no País (como
são conhecidas estas lojas na
Europa), muitos produtos solidários
eram apresentados ao
consumidor final através de
bazares, chás beneficentes ou
amigos. Felizmente a situação
mudou. Na Arquias, localizada
na Oscar Freire, as peças são
colocadas ao lado de móveis
finlandeses do famoso designer
Alvaro Alto que sempre
trabalhou com madeira certificada.
"A decoração procura
valorizar as peças e rivalizar
com as lojas de alto nível", justifica
Kelley White, diretor.
A preocupação em vender
produtos alinhados com a preservação
ambiental é outro foco.
A Tora Brasil, na Vila Madalena,
não pára de receber pedidos.
A loja comercializa móveis
exclusivos feitos em
madeira maciça proveniente
da Amazônia, recolhidas de
áreas de manejo ambiental,
aprovadas pelo Ibama. "Madeira
tem, mercado existe mas
ainda falta capacitar melhor as
comunidades de forma que
produzam itens economicamente
viáveis, com design",
lembra Cristiano Ribeiro do
Vale. Para garantir o resultado
final, ele se mudou para o Pará
e está treinando 15 pessoas.
Atitudes como a dele estão
sendo reproduzidas pelo Sebrae
e o Comunidade Solidária.
Estas entidades contratam
designers profissionais que
orientam a confecção de produtos.
O trabalho da Espírito
da Amazônia, pioneira no ramo,
levou 4 anos para amadurecer.
Davis Tenório, proprietário,
desbravou a Amazônia
Legal à procura de bons produtos.
Sua loja, na Vila Mariana já
completou 2 anos e acaba de
abrir sua filial na internet.