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Projeto da ONG Diaconia forma cidadãos através da arte

Por InterCidadania   15 de agosto de 2003
Jovens de baixa renda têm a oportunidade de participar de oficinas de teatro, dança, música, futebol e literatura no Morro da Conceição

Marta Telles

O Morro da Conceição, que fica no bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife, é conhecido pela imagem de Nossa Senhora da Conceição, que atrai durante todo o ano grande quantidade de devotos. Fora a religiosidade, o trabalho social desenvolvido pela ONG Diaconia - Sociedade Civil de Ação Social em parceria com os moradores também tem dado visibilidade ao morro. Cerca de 300 crianças e adolescentes de baixa renda estão tendo a oportunidade de participar de oficinas de teatro, dança, música, futebol e literatura.

As ações da Diaconia realizadas no morro fazem parte do Programa de Promoção da Criança e do Adolescente (PPCA), que também desenvolve trabalhos educativos no bairro de Peixinhos, em Olinda, e em Fortaleza. A equipe do PPCA desenvolveu junto com a comunidade o projeto Crescendo no Morro, que usa atividades artísticas e esportivas para ensinar cidadania. "As oficinas foram o meio que encontramos para tratar das questões da comunidade. As crianças têm aula de dança e, ao mesmo tempo, estão aprendendo outros valores e criando uma identidade", explica Cristiana Gomes, psicóloga da ONG e uma das organizadoras do projeto.

Para tornar o Crescendo no Morro viável e, principalmente, sustentável, a Diaconia se reuniu com os moradores do morro e criou uma espécie de conselho, que coordena o andamento do projeto e administra os recursos financeiros. Esse grupo gestor, como é denominado, é formado por lideranças da comunidade, profissionais de entidades sem fins lucrativos e agentes do PPCA - esses temporariamente, pois a idéia é que, com o passar de três anos (tempo de implantação e adaptação em que a ONG vai estar presente no morro), os moradores consigam dar continuidade ao projeto sozinhos.

Cristiana Gomes aponta outros pontos importantes para que a comunidade consiga dar continuidade ao projeto quando a ONG se retirar. A participação dos pais e a obrigatoriedade de os professores das oficinas morarem no morro é um deles. "Sabemos que a família tem um papel importante no crescimento das crianças e dos adolescentes e decidimos que para se inscrever nas oficinas é preciso a presença dos pais. Esse simples gesto requer um diálogo na família, o que já é um começo", analisa.

Quanto à necessidade do educador morar na comunidade, a psicóloga diz que facilita não só para a independência do projeto, como também no acompanhamento da vida das crianças em casa. "Quando alguém falta aula, o professor vai à casa do aluno saber o que aconteceu. Isso dá segurança à criança porque mostra que tem alguém se preocupando com ela", avalia.

A professora da oficina de dança, Salete Nascimento, já vivenciou um caso similar. "Eu notei que uma aluna estava diferente. Sempre muito falante e participativa, a menina estava calada e triste. No final da aula, falei com ela e fui à sua casa conversar com os pais. O problema foi resolvido", afirma. Para ela, o projeto, além de tirar as crianças das ruas, faz com que os moradores fiquem mais unidos. Membro do grupo gestor do Crescendo no Morro, Vilma Uchôa também concorda com a dançarina. "A minha relação com as crianças e suas famílias mudou. Agora, sou mais amiga das pessoas."

Os resultados de todo esse trabalho ainda são pequenos. "Começamos há pouco tempo e não há, por enquanto, uma estatística das mudanças. Mas já dá para perceber algumas coisas", diz o artista plástico e agente comunitário Eduardo Lopes. Segundo ele, as crianças estão mais tranqüilas e dão maior valor à cultura popular.

De acordo com Vilma Uchôa, um dos resultados já alcançados foi resgatar a capacidade de sonhar de crianças como Manoela Lima, de 11 anos, que decidiu por ser dançarina e escritora após a implantação do Crescendo no Morro. "Eu estou contribuindo para um mundo melhor", resume.

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