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Contar histórias : uma forma de alegrar e diminuir o sofrimento de crianças internadas

Por divulgaçao   3 de setembro de 2003
>Sao Paulo - É o que os voluntários contadores de histórias da Associação Viva e Deixe Viver procuram levar para crianças e adolescentes internados em hospitais. São 326 voluntários, entre fazedores e contadores de histórias, que trabalham em 19 hospitais de São Paulo, um de Campinas e um de São Caetano do Sul, dois de Salvador e um de Recife. Em seis anos de atuação, a associação já atendeu mais de 65 mil crianças. Além dos hospitais (públicos e privados), a instituição conta com o apoio de diversas editoras (que colaboram doando livros), entre outras empresas privadas, e de organizações não-governamentais.
Tudo começou em 1993, quando o publicitário Valdir Cimino começou a trabalhar como voluntário no Instituto de Infectologia Emilio Ribas, em São Paulo. Contar histórias foi uma das formas que ele encontrou para ajudar a amenizar o sofrimento vivido pelas crianças internadas. Através do boca-a-boca, surgiram outras pessoas interessadas em fazer o mesmo tipo de trabalho. O número de voluntários foi crescendo e, em agosto de 1997, Valdir fundou a Associação Viva e Deixe Viver. Com o decorrer dos anos, pessoas de outras regiões do país tomaram conhecimento da iniciativa, interessaram-se por ela e o projeto foi expandido para outras cidades.
Para ser voluntário da Associação Viva e Deixe Viver não é exigido nenhum tipo de formação acadêmica ou experiência, mas é preciso "voltar a ser criança", como informa Valdir. "A criança não quer um adulto muito severo nem um que finja ser criança. Mas os voluntários têm que ser interessados em entender o mundo da criança e do adolescente", afirma. A seleção dos voluntários é rigorosa e todos passam por uma capacitação com psicólogos e pedagogos, para aprenderem a arte de contar histórias, prepararem-se emocionalmente para trabalhar em ambiente hospitalar e lidarem com as crianças e os adolescentes internados, que se encontram numa situação de bastante fragilidade.
Para despertar o interesse das crianças pela leitura, os contadores utilizam desde jogos e brincadeiras (esconde-esconde etc.), até outros recursos, como origami, teatro e fotografia. "No Brasil a criança não é estimulada à leitura. Muitas vezes, não é incentivada pelos pais, que não querem investir em educação, principalmente nas classes menos favorecidas. Utilizamos as brincadeiras para vencer essa barreira", diz Valdir. Nas visitas, os voluntários levam livros, papel, lápis-de-cor e vestem um uniforme, que pode ser um dos dois modelos de aventais: um todo colorido para usar durante o dia ou outro que parece um pijama, para a noite. Eles lêem clássicos, como Branca de Neve e Cinderela, e autores brasileiros, como Monteiro Lobato, Ruth Rocha e Ziraldo, entre outros. Mas, assim como no mundo das histórias infantis, a criatividade impera e as histórias também podem ser criadas na hora, com as crianças. Através dessas narrativas, os contadores aproveitam para levar informações sobre alimentação, higiene, saúde bucal, cidadania e outros temas que são eleitos, junto com a equipe multidisciplinar do hospital, como os mais importantes para serem trabalhados junto às crianças.
Antes de despertar o interesse da criança pela leitura, os voluntários precisam conquistar a sua confiança. "Primeiro nós nos apresentamos e perguntamos às crianças se elas estão a fim de ouvir uma história. No início, muitas respondem que não. Em outro dia, outro contador fará uma nova tentativa de aproximação", conta Valdir. O processo de conquista pode ser difícil, mas vale a pena, pois o ânimo das crianças melhora visivelmente. "Quando a gente chega a criança está cabisbaixa, apática. Quando sai, é uma felicidade só vê-la conversando, desenhando. Algumas vezes deixamos o livro para os pais continuarem a leitura". Além da fragilidade provocada pela doença, muitas crianças são abandonadas pela família. Nesses casos, as visitas dos contadores podem ser alguns dos únicos momentos de atenção - externa à equipe do hospital - que elas recebem.
A Associação continua a sua história com muitos sonhos ainda para realizar. Em 2004, o projeto deve ser replicado em Porto Alegre e no Rio de Janeiro. E no próximo mês de outubro a instituição iniciará um projeto de sensibilização da equipe multidisciplinar da Santa Casa de São Paulo. O objetivo é capacitar enfermeiros e residentes para cantarem cantigas e contarem histórias de ninar para os bebês. "Se tivermos médicos e enfermeiros que não dêem só injeção, mas também contem histórias, nossa missão será cumprida", diz o fundador.

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