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Voluntário contra o analfabetismo

Por Belisa Ribeiro   3 de setembro de 2003
BRASÍLIA - Como o Estado não tem capacidade nem recursos para encarar a batalha que será alfabetizar 20 milhões de brasileiros, o governo pedirá apoio à sociedade. E vai pagar por isso - exatamente R$ 15 por aluno/mês para ONGs, Igrejas de todos os cultos, instituições privadas e empresas.Espera recrutar um exército de 100 mil alfabetizadores para ajudar esse contingente que não escreve sequer o próprio nome. Os chamados analfabetos funcionais - só capazes de assinar - somam 30 milhões no país.
Desde o início da gestão PT já são 750 mil os alfabetizandos. O ministério aguarda, para mês que vem, aprovação pela Câmara de projeto de lei que dará mais R$ 100 milhões para aumentar o número de beneficiados. O ministro antecipou ao JB as metas: 3 milhões de alfabetizados este ano, 6 milhões em 2004, 6 milhões em 2005 e 5 milhões em 2006.
- Vinte milhões de brasileiros não conseguem ler a própria bandeira.Alfabetizá-los é questão de decência, mas também econômica. O alfabetizado, está provado em pesquisas, ganha até 60% a mais do que o analfabeto. Vamos pagar a quem alfabetiza e a quem está se alfabetizando, mas esperamos muita participação voluntária. O jovem que atuar no programa será um profissional melhor.
A Secretaria Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo montou duas cartilhas - uma voltada ao público em geral e outra para empresas - para divulgar o programa e explicar como participar. Também está sendo lançada a apostila Reflexões Práticas para o Alfabetizador Voluntário, com distribuição gratuita. A remuneração será repassada por instituições conveniadas com o ministério, que aconselha turmas de, no máximo, 25 alunos.Isso poderá render ao voluntário R$ 375 mensais.
O material de apoio inclui livros reescritos em linguagem adaptada para quem acabou de aprender a ler. Já estão editados Garibaldi e Manoela, de Josué Guimarães, Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, e Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, que serão emprestados aos alfabetizadores.
O MEC já conta com mais de 200 instituições cadastradas e, com uma crítica ao governo anterior, o secretário de Erradicação do Analfabetismo, João Homem de Carvalho, explica a diferença de atuação.
- Estamos fazendo o primeiro censo de alfabetizadores do país. O governo anterior só trabalhava com uma instituição, a Alfabetização Solidária, parte de um programa de Ruth Cardoso. Queremos usar todas.
Partidário do ''nem oito nem oitenta'', lembra o exemplo da Guatemala para afirmar que, no Brasil, o governo será incentivador, mas não impositivo.
- Lá, quando assumiu o atual governo, havia uma taxa de 40% de analfabetismo. Foi sancionada lei que obriga os alunos do segundo grau a alfabetizar pelo menos cinco pessoas para ter direito ao diploma. A taxa já baixou para 10%. Aqui, pretendemos atrair 100 mil alfabetizadores na base da motivação, não da imposição.
O discurso politicamente correto que norteia o programa aborda as vantagens da alfabetização para o cidadão e para o país. Termina com uma citação em latim, elemento que pode fazer a proposta dar certo: volutas. A palavra quer dizer vontade e dela deriva voluntariado.
30 milhões de analfabetos funcionais
Consulte a lista das instituições credenciadas. O alfabetizador interessado em participar do projeto tem uma linha telefônica (0800-616161) para tirar dúvidas.

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