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Para descobrir um novo mundo

Por Ana Helena Paixão   3 de setembro de 2003
Brasília - Mãos ágeis. Tato, audição e olfato aguçados. Com a ajuda de projetos de inclusão socioeconômica, deficientes visuais de Brasília adquirem habilidades para compensar a perda da visão e ganham a oportunidade de emprego. A cidade é a primeira do país a desenvolver curso de gastronomia para cegos. E desenvolve outras atividades para oferecer um novo mundo a quem tem limites para enxergar.

A organização não-governamental Espaço às Claras está empenhada em preparar deficientes visuais para o mercado de trabalho. Em parceria com o chef de cozinha Dudu Camargo, a Ong abriu a primeira turma de gastronomia para cegos do Brasil. Sem data para concluir os estudos, quatro cegos tentam adaptar a rotina em uma cozinha industrial a suas necessidades.

O aprendizado começou com pizza e deve terminar com pratos elaborados e garantia de emprego na rede de restaurantes do chefe-professor. ''Nunca trabalhei porque não fui treinada. Agora, no mínimo, serei pizzaiola'', garante Érika Cerqueira, 21 anos, cega desde os três por causa de uma doença genética. ''Isso é uma oportunidade única.''

Os alunos adultos do Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais (CEEDV), fundado em 1973, também tiveram uma oportunidade única neste ano. Conseguiram fazer a primeira exposição de esculturas do CEEDV. Inspiradas no sucesso do projeto, as crianças montaram um zoológico, que será exposto no próximo dia 28, durante a Festa do Folclore.

Emprego fixo

As obras de arte são feitas nas aulas de escultura, um dos novos cursos da instituição. Hoje 170 cegos e pessoas com dificuldade para enxergar aprendem braile, matemática, informática e são reabilitadas no CEEDV. ''Ensinamos nossos alunos a levar uma vida independente'', resume a professora de artes, Mariangela Hermano de Brito.

Na busca de uma nova vida, Nilson do Carmo Nascimento, 38 anos, já descobriu seu lugar no mundo. Um convênio da Novacap garantiu-lhe um emprego fixo. Trabalha há 11 anos no setor de coleta e beneficiamento de sementes. Cego desde o primeiro ano de vida, ele é capaz de reconhecer instantaneamente a maioria das sementes que toca.

''Meu trabalho é separar as (sementes) boas das ruins. As ruins têm rachaduras, furos, são feias e vão para o lixo. As perfeitas são lisinhas, sem furos ou ranhuras'', ensina. Alisando as sementes uma a uma, Nilson identifica pelo tato todos os defeitos imperceptíveis aos olhos. ''Levo uma vida normal'', diz.

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