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Pequena empresa. Atitude de bom gosto.

Por Camila Doretto / Diário do Comercio   26 de setembro de 2003
Foto de André Fossati/1º Plano As aulas na Maria Chocolate têm preço acessível e ajudam as donas-de-casa a criarem mais uma fonte de renda para a família
Para transformar, não é preciso ser grande ou ter de esperar uma eternidade por novos recursos. Basta ter iniciativa. A microempresária Vanessa Campos, de Belo Horizonte, é um exemplo dessa premissa.

Mesmo com uma pequena estrutura, investe na educação para o trabalho e no ensino tradicional de seus funcionários. A empresa de Vanessa, Maria Chocolate, existe há treze anos. Há seis, ela começou a investir na formação escolar dos empregados. "Nós crescemos e então eu tive condições de fazer algo que pudesse melhorar o funcionamento interno. A entidade empresarial pode ser um grande transformador, mas não há uma regra como uma receita de bolo. Cabe a cada empresário encontrar a melhor maneira de ser um agente social", diz Vanessa.

A Maria Chocolate costuma dar apoio aos funcionários pagando o ensino médio fundamental (supletivo) e a metade da mensalidade para os que ingressam na universidade.

A prática vem fazendo com que a empresa sobreviva às estatísticas. Segundo pesquisa realizada pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae) em 2001, mais de 70% dos empreendimentos tiveram as portas fechadas antes de concluírem o quinto ano de atividade.

Por ser uma empresa pequena, com dezessete empregados, Vanessa alerta que investe nessa iniciativa sempre que tem condições financeiras. "Há dois pólos que regem o negócio. O da maturidade do empreendimento e o da intenção do empresário. Eu faço, mas tenho de me adequar aos recursos disponíveis no momento. Em tempos melhores, a empresa chegou a ter quatro funcionários na faculdade. Hoje, temos apenas uma pessoa. Estamos passando por um período difícil e é preciso se adaptar".

Resultado - O sucesso da iniciativa também depende de que a pessoa beneficiada aproveite os recursos colocados à disposição. "Muitos não reconhecem a oportunidade. Nós oferecemos um carrinho cheio de ferramentas, é preciso querer usá-las", explica Vanessa. Jane Adélia da Silva, coordenadora de serviços da Maria Chocolate, é um dos exemplos de pessoas que tiraram proveito quando a chance apareceu. Hoje, ela cursa Comunicação Social em uma universidade de Minas Gerais, com especialização em Recursos Humanos. O objetivo só foi alcançado graças ao auxílio no pagamento da mensalidade.

"Eu já tinha um enorme desejo de fazer um curso superior, mas tinha a limitação financeira. Hoje, o que eu aprendo na faculdade eu aplico na empresa, pois fui transferida para uma área relacionada à que estou estudando", disse Jane.

Mônica Silva de Melo, gerente administrativa, é um outro exemplo. Ela já era formada em administração quando foi contratada. Mas aproveitou a abertura para o auxílio nos estudos e resolveu fazer pós-graduação em Recursos Humanos.

Contando com a bolsa-escola, "encerrei o curso com uma monografia baseada na iniciativa da Maria Chocolate em apoiar o desenvolvimento pessoal e profissional dos funcionários", conta ela.

Em paralelo ao incentivo à formação, a empresa também investe em palestras internas com profissionais como médicos, nutricionistas, psicólogos entre outros. No ano passado, por exemplo, um professor foi contratado para dar algumas aulas sobre os princípios básicos da matemática. "As ações são programadas de acordo com as necessidades da empresa ou de seus funcionários e com as condições financeiras", explicou Vanessa Campos. Simbiose - Além da loja, a Maria Chocolate também oferece uma escola de culinária.

Os preços dos cursos são bastante acessíveis. O que possibilita a muitas donas-de-casa, que representam a maior parte desse público, terem na confecção de produtos de chocolate uma ajuda financeira ou até mesmo toda a renda familiar.

"A relação entre a loja e a escola já virou uma simbiose. A pessoa vem em busca de uma alternativa de renda, nós ensinamos a técnica e ela volta para comprar os nossos artigos que serão usados na sua própria produção", explica Vanessa. Pelo visto, a parceria que vem dando certo para ambos os lados.

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