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Cooperativa: novo modelo de inclusão

Por Tsuli Narimatsu / Diário do Comércio   23 de outubro de 2003
Foto de Newton Santos / Digna Imagem A Cooperfest, que organiza festas, é formada por jovens do Jardim Educandário
Além de garantir renda, o sistema mostra o que é o mercado de trabalho, ensina a trabalhar em grupo, a respeitar as diferenças e a crescer em conjunto

O sistema cooperativista é uma ferramenta interessante para garantir a autogestão de trabalhos sociais desenvolvidos por ONGs. Ao reunir objetivos comuns, como a expansão de práticas solidárias e ecológicas em projetos que geram e distribuem renda para comunidades carentes, cumpre também um papel fundamental no combate ao desemprego.

Os 24 jovens que fazem parte da Cooperfest, cooperativa paulista que organiza festas, formada por jovens do Educandário Dom Duarte, na periferia de São Paulo, não teriam a mesma sorte se não fosse a opção pelo sistema.

"Eu fiquei esperto e aprendi mais do que se estivesse num emprego com carteira assinada desempenhando apenas uma função. Aqui eu faço de tudo, do plano de marketing ao serviço nas mesas. Somos sócios e donos", conta Amauri Furtado de Araújo, 19 anos. Ele retira em média, mais do que um salário mínimo por mês.

Mario Martini, coordenador da Cooperfest, explica que nas imediações do Jardim Educandário, foco do projeto capitaneado pela Liga das Senhoras Católicas, 66% dos moradores têm renda inferior a 4 salários mínimos. Desse total, 33% são crianças e jovens com até 17 anos. "Precisávamos capacitá-los e criar um mecanismo de inserção no mercado de trabalho. Optamos por uma cooperativa".

O cooperativismo, segundo ele, aguça a responsabilidade e recupera a auto-estima. "É um mecanismo eficaz que mostra ao jovem o que é o mercado de trabalho, como funciona. Ao mesmo tempo ensina a trabalhar em grupo, a respeitar diferenças e crescer em conjunto".

Alternativa – Num universo de 20 milhões de trabalhadores com carteira assinada e 40 milhões de informais, os cooperados são 5,5 milhões no Brasil, distribuídos em cerca de 7500 cooperativas. "A experiência nacional no cooperativismo está apenas começando mas vai alavancar", lembra Marco Aurélio Fuchida, chefe de gabinete da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras).

Para ele, a criação de postos de trabalho em grupos cooperados é a saída mais inteligente para o Brasil. " Resolve um grave problema social pelo lado econômico, gerando renda e resgatando a cidadania dos excluídos".

As cooperativas são um modelo de empreendedorismo por excelência. "Unem um conjunto de práticas de produção centradas na solidariedade e democracia com o objetivo de gerar renda e acabar com a exclusão social", lembra Evaristo Machado Netto, presidente do Sescoop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo).

Apoio – A Ambev é uma das empresas que acredita no modelo, tanto que investe boa parte da verba destinada a ações sociais para o desenvolvimento de cooperativas de catadores de lixo. A primeira experiência foi realizada no ano passado com 11 cooperativas de catadores de lixo do Rio de Janeiro.

Cada uma recebeu uma prensa para otimizar o trabalho, além de treinamento e orientação de técnicos especializados. Como resultado, as cooperativas registraram um aumento médio de 153% no volume de embalagens Pet coletadas e 88% no valor do quilo vendido.

"Esse desempenho nos animou a ampliar o programa para outras regiões do Brasil", explica Carla Coelho, gerente de comunicação corporativa da Ambev. Este ano, além do Rio de Janeiro, Goiás, Mato Grosso, Distrito Federal , Espírito santo e Rio Grande do Sul estão passando pela experiência.

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