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Literatura pura no corpo, na voz e na mente dos jovens

Por Camila Doretto / Diário do Comércio   13 de novembro de 2003
Foto de Fotos Newton Santos/Digna Imagem Magna virou Miguilim aos 16 anos e hoje, aos 21 anos, estuda Letras
Jovens de faces calmas e comuns crescem em proporções imensas quando no palco assumem voz, gesto e expressão dos mais sinceros dizeres das estórias de João Guimarães Rosa.

O grupo Contadores de Estórias Miguilim nasceu em 1995, por iniciativa de Calina Guimarães, então presidente da Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa, em Cordisburgo, MG.

"Quando eles começaram a ler, eu percebi uma facilidade imensa por causa da linguagem. Mesmo nas palavras que Guimarães Rosa criou, pelo menos um pedacinho os Miguilins conheciam porque já tinham ouvido a avó falar ou o boiadeiro bradar", diz Calina.

Pouco a pouco, os meninos e meninas da primeira turma de Miguilins se entregaram às palavras e às estórias. Sob a orientação de Dôra Guimarães, também prima do escritor, eles logo começaram a decorar pequenos trechos do texto que estudavam.

"É impressionante como eles captam a obra. Eles lêem, identificam as falas, o cenário, sentem o personagem e, finalmente, se entregam ao universo roseano", explica Dôra.

Hoje, cerca de 30 Miguilins são a atração da cidade e do Museu. "O grupo me fez pensar numa profissão e num futuro. Quando eu vou a outras cidades e me perguntam de onde eu sou, respondo rápido e cheio de orgulho: eu sou da terra de Guimarães Rosa", diz o entusiasmado Tiago Goulart, de 17 anos.

"Ex-Miguilim, sempre Miguilim", todos dizem. Quem legitima a paixão é Magna Martins, que se tornou uma contadora de estórias aos 16 anos de idade. Hoje, aos 21, ela mora em Belo Horizonte, onde estuda Letras na Universidade Federal de Minas Gerais, mas sempre retorna à cidade e mantém contato auxiliando os Miguilins na missão roseana.

"Conhecer Guimarães Rosa foi enxergar com a ajuda da arte outras possibilidades do mundo. Os 'causos' que ele conta estavam ali para serem ouvidos. Mas ele fez a diferença registrando as intrigas narradas pelo vaqueiro Manuelzão, a quem seguiu em viagem pelo sertão em 1952", relata com muita autoridade Magna.

"Como ele mesmo dizia", continua Magna, "quem cresce num mundo que é literatura pura, bela, real e verdadeira, deve algum dia começar a escrever. E o cenário do sertão, com uma riquíssima composição de cenas protagonizadas por bandoleiros, caçadores e justiceiros, com certeza seria palco para o nascimento da literatura e, conseqüentemente, da perpetuação da arte que ali nasceu".

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