Notícias
Nas estradas do Brasil, o sertão de João Guimarães Rosa
Por Camila Doretto / Diário do Comércio   13 de novembro de 2003
O Brasil descobre e é descoberto pela história do sertão traduzida em olhos atentos e palavras realçadas pelo sotaque encantador dos jovens de Cordisburgo, "pequenina terra sertaneja" de Minas Gerais, berço de nascimento de João Guimarães Rosa.
Esses jovens, que formam o grupo de Contadores de Estórias Miguilim, desbravam e floreiam as terras pelas quais passam contando as narrativas do sertão convertidas em arte por Guimarães Rosa.
Eles já passaram por escolas, livrarias e bibliotecas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Florianópolis, Porto Alegre e Brasília.
Da boca dos Miguilins flui a literatura das estórias –como preferia o escritor– criadas a partir do relato da dura realidade da terra onde ele nasceu. Literatura muitas vezes injustamente conhecida pela dificuldade de compreensão, mas facilmente entendida quando contada por aqueles que falam com a peculiaridade dos habitantes de Cordisburgo.
A idéia de dar asas aos moradores da pequena cidade, localizada a 120 km de Belo Horizonte, brotou da visita de Calina Guimarães, médica e prima do escritor, que por uma tarefa do destino retornou à cidade natal em 1995.
Ela encontrou a casa em que o escritor passou a infância, de portas fechadas. No local deveria funcionar a sede do Museu Casa de Guimarães Rosa.
Tal cenário provocou inquietação suficiente para que ela optasse pela aposentadoria e trouxesse de volta à vida a memória da cidade.
Na mesma época, Calina fundou a Associação do Museu Casa Guimarães Rosa, um grupo de voluntários que se empenha na supervisão do local e na orientação dos jovens narradores do sertão.
"No começo, a visita ao Museu não era um programa interessante. Então, resolvi reunir um grupo de jovens para que conhecessem a obra e vida de Guimarães Rosa e se tornassem guias dos visitantes curiosos pelos corredores da memória. Eles ficaram muito entusiasmados, porque a maioria não esperava por um futuro promissor ou de muitas opções. Eu escolhi algumas histórias que se passavam no cenário de Cordisburgo e eles rapidamente compreenderam as palavras, pois falavam aquela língua e reconheciam os lugares descritos", relata Calina Guimarães.
Hoje, os Contadores de Estórias Miguilim, além de narrar a vida da família dos Rosa, que viveu até 1923 na casa onde está o Museu, ao final da visita, presenteiam os curiosos com uma prazerosa "contação" de histórias. As narrativas percorrem desde contos do livro "Primeiras Estórias" até trechos de "Grande Sertão: Veredas".
Todo o trabalho é voluntário, inclusive o dos Miguilins, que hoje viajam pelo Brasil traduzindo a "rica cultura de um povo sem cultura", nas palavras de Calina.
Homenagens – Com o carimbo da admiração, Cordisburgo certifica o orgulho de ser berço de Guimarães Rosa oferecendo três anos de homenagens pela comemoração do aniversário da obra "Grande Sertão: Veredas", que faz 50 anos em 2006.
O grupo de voluntários, guiados pela paixão à literatura, organizam eventos a fim de divulgar a obra do autor e resgatar o gosto de ouvir histórias e estimular a leitura.
Entre os projetos, estão as viagens dos Contadores de Estórias Miguilim, o lançamento de uma leitura integral da obra em CD e, no último ano, o sonho de um Seminário Internacional de Guimarães Rosa.
Também fará parte das comemorações um evento que já tem tradição na cidade de Cordisburgo: a Semana Roseana, que acontece todo ano, no mês de julho.
Durante a Semana, a cidade é absorvida pelo espírito literário. Tem oficina de linguagem, palestras, oficina de contadores de histórias e de memória para a terceira idade.
"Tamanha dedicação é para que Guimarães Rosa, um homem que falava sete línguas e conhecia 12 idiomas, seja prestigiado pelo povo da terra à qual ele tanto se refere. O objetivo é divulgar a obra e desmistificar a fama de que é uma leitura muito difícil. O segredo que ele esconde, eu revelo a todos os meus alunos: leia Guimarães Rosa em voz alta e desbrave o sertão", revela Elizabeth Ziani, pesquisadora da obra de Guimarães Rosa no Instituto de Estudos Brasileiros, na Universidade de São Paulo.
Trechos – "Diria a vocês que procurem ler os livros. Os livros é que são importantes, os autores não. O autor é uma sombra a serviço de coisas mais altas que, às vezes, ele nem mesmo entende. Arte e céu sim são assuntos muito sérios. Países de primeira necessidade".
O trecho é contado na apresentação dos Contadores de Estórias pelo Miguilim Tiago Goulart. O texto é baseado em recortes de entrevistas, organizados por Neuma Cavalcante, reunidos em uma "Autobiografia Adulta de João Guimarães Rosa". Neuma é a organizadora do arquivo do escritor no Instituto de Estudos Brasileiros, na USP.
Esses jovens, que formam o grupo de Contadores de Estórias Miguilim, desbravam e floreiam as terras pelas quais passam contando as narrativas do sertão convertidas em arte por Guimarães Rosa.
Eles já passaram por escolas, livrarias e bibliotecas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Florianópolis, Porto Alegre e Brasília.
Da boca dos Miguilins flui a literatura das estórias –como preferia o escritor– criadas a partir do relato da dura realidade da terra onde ele nasceu. Literatura muitas vezes injustamente conhecida pela dificuldade de compreensão, mas facilmente entendida quando contada por aqueles que falam com a peculiaridade dos habitantes de Cordisburgo.
A idéia de dar asas aos moradores da pequena cidade, localizada a 120 km de Belo Horizonte, brotou da visita de Calina Guimarães, médica e prima do escritor, que por uma tarefa do destino retornou à cidade natal em 1995.
Ela encontrou a casa em que o escritor passou a infância, de portas fechadas. No local deveria funcionar a sede do Museu Casa de Guimarães Rosa.
Tal cenário provocou inquietação suficiente para que ela optasse pela aposentadoria e trouxesse de volta à vida a memória da cidade.
Na mesma época, Calina fundou a Associação do Museu Casa Guimarães Rosa, um grupo de voluntários que se empenha na supervisão do local e na orientação dos jovens narradores do sertão.
"No começo, a visita ao Museu não era um programa interessante. Então, resolvi reunir um grupo de jovens para que conhecessem a obra e vida de Guimarães Rosa e se tornassem guias dos visitantes curiosos pelos corredores da memória. Eles ficaram muito entusiasmados, porque a maioria não esperava por um futuro promissor ou de muitas opções. Eu escolhi algumas histórias que se passavam no cenário de Cordisburgo e eles rapidamente compreenderam as palavras, pois falavam aquela língua e reconheciam os lugares descritos", relata Calina Guimarães.
Hoje, os Contadores de Estórias Miguilim, além de narrar a vida da família dos Rosa, que viveu até 1923 na casa onde está o Museu, ao final da visita, presenteiam os curiosos com uma prazerosa "contação" de histórias. As narrativas percorrem desde contos do livro "Primeiras Estórias" até trechos de "Grande Sertão: Veredas".
Todo o trabalho é voluntário, inclusive o dos Miguilins, que hoje viajam pelo Brasil traduzindo a "rica cultura de um povo sem cultura", nas palavras de Calina.
Homenagens – Com o carimbo da admiração, Cordisburgo certifica o orgulho de ser berço de Guimarães Rosa oferecendo três anos de homenagens pela comemoração do aniversário da obra "Grande Sertão: Veredas", que faz 50 anos em 2006.
O grupo de voluntários, guiados pela paixão à literatura, organizam eventos a fim de divulgar a obra do autor e resgatar o gosto de ouvir histórias e estimular a leitura.
Entre os projetos, estão as viagens dos Contadores de Estórias Miguilim, o lançamento de uma leitura integral da obra em CD e, no último ano, o sonho de um Seminário Internacional de Guimarães Rosa.
Também fará parte das comemorações um evento que já tem tradição na cidade de Cordisburgo: a Semana Roseana, que acontece todo ano, no mês de julho.
Durante a Semana, a cidade é absorvida pelo espírito literário. Tem oficina de linguagem, palestras, oficina de contadores de histórias e de memória para a terceira idade.
"Tamanha dedicação é para que Guimarães Rosa, um homem que falava sete línguas e conhecia 12 idiomas, seja prestigiado pelo povo da terra à qual ele tanto se refere. O objetivo é divulgar a obra e desmistificar a fama de que é uma leitura muito difícil. O segredo que ele esconde, eu revelo a todos os meus alunos: leia Guimarães Rosa em voz alta e desbrave o sertão", revela Elizabeth Ziani, pesquisadora da obra de Guimarães Rosa no Instituto de Estudos Brasileiros, na Universidade de São Paulo.
Trechos – "Diria a vocês que procurem ler os livros. Os livros é que são importantes, os autores não. O autor é uma sombra a serviço de coisas mais altas que, às vezes, ele nem mesmo entende. Arte e céu sim são assuntos muito sérios. Países de primeira necessidade".
O trecho é contado na apresentação dos Contadores de Estórias pelo Miguilim Tiago Goulart. O texto é baseado em recortes de entrevistas, organizados por Neuma Cavalcante, reunidos em uma "Autobiografia Adulta de João Guimarães Rosa". Neuma é a organizadora do arquivo do escritor no Instituto de Estudos Brasileiros, na USP.