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Doe um capítulo do seu amor

Por Maria Eugenia Rocha - FAAP/SP   10 de dezembro de 2003
São Paulo - A responsabilidade social tem sido pauta entre muitas das reuniões de empresas. Entidades de classe como a Associação Viva e Deixe Viver, que completou este ano 6 anos de existência, vem ajudando a sociedade.

Formada na sua maioria por voluntários ela tem a missão de promover entretenimento e a informação educacional, transformando o tempo de internação de crianças em hospitais ou suas vivências em casas de apoio em um período mais leve, agradável e alegre.

Em uma pequena casa da rua Ministro Ferreira Alves, número 136, no bairro de Perdizes, funciona a sede. Conversando com uma das voluntárias do 'Viva', Marta, coordenadora da célula de integração e contadora de histórias, é que se percebe a importância e a dedicação de todos.

"Fui uma das primeiras a realizar o trabalho junto aos diretores, sócios - mantenedores e ao fundador, e hoje presidente, Valdir Cimino. No começo foi uma batalha: os voluntários não levavam o projeto a sério, faltavam com seus compromissos. Nós trabalhamos sempre com planejamento estratégico, enfim, com uma organização que pudesse ser viável estar controlando o processo. Até chegarmos no estágio que estamos hoje não foi fácil."- comenta Marta.

“Aos poucos todos os administradores foram entendendo a forma como se deveria desenvolver as atividades para que os objetivos fossem alcançados com sucesso. Afim de manter o contato com todo nosso mailing mandamos, hoje em dia, uma mala direta mensal para todos os cadastrados informando os eventos 'abertos' - para o público em geral - e os 'fechados” - somente para voluntários, acrescenta Marta.

Para se tornar um voluntário não é nada fácil, e a seleção dura em média 6 meses para garantir responsabilidade e comprometimento do voluntário, normas e práticas do 'Viva', o que é estar em um ambiente hospitalar, o que é ser voluntário e até que ponto as pessoa estão preparada para entrar no hospital.

Na 1 ª etapa o candidato preenche um teste escrito- uma espécie de cadastro aprofundado -, elaborado por terapeutas, tendo um relance do seu perfil; recebe neste dia uma lista de coisas a fazer. A 2 ª e 3 ª etapa constam em comparecer a duas palestras gratuitas - "o que é ser voluntário no Brasil" e "Mestre do Tempo" , nas quais recebem os certificados e passam para uma 4 ª etapa.

Nesta, conta com a palestra "Conhecendo o Hospital" - que apresenta a importância da equipe multidisciplinar, com a presença de um médico infectologista, uma psicóloga, uma nutricionista e uma chefe de enfermagem.

A 5 ª etapa passa a ser uma "Vivência Terapêutica", na qual o candidato é submetido a uma dinâmica em grupo, coordenada por um grupo de terapeutas, que tem o objetivo de analisar a preparação psicológica para a atuação junto às crianças hospitalizadas.

Os voluntários não aprovados pelos terapeutas recebem uma resposta por meio de carta ou email. Os aprovados passam para as próximas etapas: escolha de hospital, dia e horário onde pretendem atuar.

A 6ª etapa pode ser considerada como uma vivência prática ou estágio, que consiste em 5 visitas ao I.I. Emílio Ribas, junto com um contador de histórias mais experiente. Durante um mês, uma vez por semana, o voluntário tem a oportunidade de entrar no hospital, já interagindo com as crianças e trocando experiências com outros voluntários.

Por fim, a última etapa desse longo e decisivo processo de se dedicar a ajuda dessas indefesas e tristes crianças: o curso "Apreendendo a pensar positivamente" da Organização Brahma Kumaris , trabalha-se a questão da auto-estima e pensamento positivo - elementos essenciais para o voluntário.

E, finalmente a formatura, quando, em uma nova integração, com a presença de familiares, antigos contadores de histórias, fazedores de estórias, responsáveis pelos hospitais, são entregues os 'símbolos' de voluntário do 'Viva': os aventais coloridos e os crachás.

Uma vez terminado o processo os candidatos se tornam contadores de estórias e passam a fazer parte dessa história. Segundo Clarice Schcoolnic e Fernando Bezerra, contadores profissionais, o 'Movimento a Hora do Conto', pode ser considerada uma das ferramentas de aprimoramento – nome dado ao encontro mensal de todos os funcionários da associação. Hoje existem 378 voluntários e chegar nesse número com seriedade e vontade de crescer cada vez mais foi um árduo percurso.

O Movimento a Hora do Conto trabalha para o resgate, a valorização e o desenvolvimento da arte de contar estórias. “Não fazemos curso de contadores, apreendemos uns com os outros, nos exercitamos e até chegamos a alguns conceitos, que podem ou não ser incorporados ao trabalho individual. Mas, o que é considerado mais importante são as descobertas, o processo e o movimento que se desencadeia quando toma-se consciência do que é este trabalho”, explica Clarice.

Além das informações da estória quem conta, pensa a respeito e transmite do seu modo. Quem escuta, acrescenta algo mais. Então, uma nova experiência acontece. E ela nunca se repete, pois cada uma, ao ser recontada, é o resultado de outras cabeças que falam e escutam.

Portanto, é um processo vivo e mutante, com possibilidades infinitas. “A arte de contar histórias é muito bonita porque não discrimina ninguém - nenhum tipo de cultura ou classe social; não existe preconceito. É boa quando serve para todos, quando todo mundo pode ouvir, dar uma opinião, refletir e chegar às suas próprias conclusões.” – diz Fernando. Uma das funções do contador é propiciar uma evolução nas pessoas e, consequentemente, na sociedade.

O ser humano nunca esteve tão longe das artes, como a de contar histórias, por exemplo. E nunca precisou tanto delas. Quando você conta histórias, transporta as pessoas do mundo real para o mundo do faz-de-conta.

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