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ONG dá uma nova voz (e vida também) aos jovens da Febem

Por Camila Doretto / Diário do Comércio   11 de dezembro de 2003
Os adolescentes da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem), no Complexo Tatuapé, zona leste de São Paulo, ganharam a oportunidade de se expressar de forma crítica e responsável através do projeto “Rádio Fique Vivo, uma questão de cidadania”.

A rádio experimental resultou de uma parceria entre a Febem, a ONG Fique Vivo e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que possibilitou a instalação de um estúdio de rádio, inaugurado no mês passado.

Orientados por um radialista e um sonoplasta, eles são responsáveis por pautar, produzir e editar o programa, que é gravado em CD e transmitido nos intervalos de aula. O curso tem duração de dois meses e os temas tratados são escolhidos pelos próprios jovens.

Além de aprender a técnica, o grupo faz reuniões para a discussão de pauta e é orientado por educadores e psicólogos, que aproveitam o momento para estimular debates sobre comportamento, o mundo do trabalho, a conquista de conhecimentos e perspectivas de futuro, entre outros assuntos.

O grupo de alunos do primeiro módulo do curso esbanjou criatividade. Entre os variados temas estavam uma novela em que interpretavam um caso de traição entre marido e mulher, outro que contava a história do rap, da própria rádio, da violência nas escolas e até um programa sobre cacofonia (repetição de sons).

Aprendizado – “Colocar as idéias pra fora, no papel, foi uma grande descoberta. Hoje, tudo que vejo penso que pode ser transformado em uma história”, diz D.A.F.P., de 18 anos, integrante da primeira turma de alunos da oficina.

“A maioria dos temas escolhidos faz parte do universo deles, o jovem. Nosso papel é orientá-los no desenvolvimento da matéria. Muitos querem contar histórias em clima de denúncia, geralmente associando-as à sua trajetória. A denúncia pode ser feita sim, mas mostramos a eles que devem ter um olhar crítico sobre os fatos, ou seja, ouvir todos os lados. Caso contrário, estaremos fechando as portas para o diálogo”, diz Cristina de Miranda Costa, representante da área escolar da Febem e uma das coordenadoras do Projeto.

“Aprender a soltar as idéias exige também que organizemos o pensamento. Hoje, eu estou mais maduro e essa oportunidade me fez pensar em outros rumos para a minha vida quando eu estiver lá fora”, afirma E.R.R.C., de 18 anos.

Além de profissionalizar e estimular os estudos, o curso traz ao universo desses meninos os princípios de cidadania. “O trabalho com a rádio é o que chamamos de 'educomunicação', a educação pela comunicação. Nosso maior desafio é despertá-los para o interesse pelo conhecimento, pois muitos já estão há algum tempo longe das salas de aula. Nosso maior cuidado é como dar voz de liberdade a quem está em regime de privação de liberdade”, conta Fernando da Silveira, coordenador da ONG Fique Vivo.

O futuro – Para todos os cursos, a Escola do Complexo Tatuapé emite um certificado profissionalizante e muitos deles são feitos em parceria com o Senac e Senai. Mas a Febem alerta a sociedade para a necessidade de firmar parcerias.

“O certificado não leva o nome da Febem, pois não queremos que carreguem esse estigma. Fazemos o nosso lado e lutamos pela recolocação deles na sociedade. Mas não podemos garantir sozinhos a continuidade desse trabalho lá fora”, diz Celso Vieira, diretor geral do Complexo Tatuapé.

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