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Mundo tira nota 3 em programas sociais

Por Mídia Independente    19 de janeiro de 2004
GENEBRA, SUÍÇA, 16/01/2004 - O mundo caminha com excessiva lentidão para resolver seus problemas sociais. Numa avaliação de 0 a 10, ficaram com nota 3 o combate à fome, a paz, a segurança, a educação, o ambiente e os direitos humanos. Mereceram nota 4 a eliminação da pobreza e a melhoria da saúde.

A avaliação está em relatório divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, em Genebra. Ele criou um organismo sobre a governabilidade em escala planetária, que leva em conta os esforços dos governos, da sociedade civil, das empresas e dos organismos internacionais.

A avaliação sobre as sete áreas sociais partiu de um grupo de 40 especialistas. Eles tomaram por base as metas que 189 países fixaram em setembro de 2000 na chamada Cúpula do Milênio, conferência da ONU entre chefes de governo e de Estado. Se determinada área merecesse nota 10, ela poderia facilmente atingir as metas definidas para 2015. Mas o resultado é decepcionante. O mundo foi reprovado. Recebeu, na média, nota 3.

O Fórum Econômico Mundial decidiu mergulhar na avaliação de políticas sociais como forma de neutralizar a imagem, que os ativistas antiglobalização procuram atribuir a ele, de encontro de banqueiros e de grandes interesses corporativos. O estudo não leva em conta o quadro de crescimento insuficiente da economia mundial nos últimos anos e a forma pela qual isso afetou a capacidade de intervenção social de governos e empresas.

Com relação à paz e à segurança, o relatório diz "haver um evidente enfraquecimento do apoio a regras internacionais que limitam o uso da força". A ONU perde credibilidade, e sem ela perdem força as regras de convívio. O Iraque é citado. A comunidade internacional "não conseguiu prevenir ou punir" a guerra promovida naquele país. Atentados da Al Qaeda e de grupos associados "continuam a provocar perda de vidas". Elogio foram feitos ao Reino Unido, pelo sucesso das discretas negociações que levaram a Líbia a desmontar seu programa nuclear.

Quanto ao combate à pobreza, o problema é simples: dos 6 bilhões de humanos, 2,8 bilhões vivem com menos de US$ 2 por dia e 1,2 bilhão com menos da metade disso. Três quartos da pobreza e da miséria se concentram em área rural. Favorecer o livre comércio, emperrado pelo sistema de subsídios nos países ricos, levaria a uma maior produção e exportação agrícolas. O que seria sinônimo de combate à pobreza. A pobreza diminuiu na Índia, mas cresceu em Bangladesh, no Sri Lanka e no Nepal. Na China, a pobreza rural caiu de 31% para 11% em oito anos. Elogio ao Brasil pelos 3,6 milhões de domicílios que deveriam, no final de 2003, estar recebendo alguma forma de suplementação de renda.

Os números da fome são eloqüentes. Cerca de 90% de suas vítimas concentram-se em 34 países. A China e a Nigéria conseguiram reduzi-las pela metade. A América Latina tende a atingir o objetivo de acabar com a fome em 2015. Mas a fome cresce em cinco países, entre os quais o Congo e a Coréia do Norte. Novo elogio ao Brasil, com menção ao programa Fome Zero.

A universalização do ensino fundamental é problemática. Em 2000, último ano com estatísticas globais, 648 milhões de crianças estavam matriculadas, mas não era o caso de outras 104 milhões. "A América Latina atingiu o objetivo [da universalização do ensino], mas a qualidade do ensino continua a ser tão baixa que são necessárias grandes mudanças." O país elogiado é Honduras, um dos 18 problemáticos que aceitaram um programa do Banco Mundial, pelo qual receberiam ajuda maior e mais rápida, em troca de um aumento substancial em seus gastos com educação.

O quadro na saúde é desencorajador. Segundo o relatório, 11 milhões de crianças morrem anualmente antes de completar 5 anos. A malária imobiliza por ano 300 milhões e mata 1 milhão. Dentro de seis anos, 45 milhões estarão infectados com o HIV, e 70 milhões morrerão até 2020. Mas, ao menos quanto a esse grupo, há uma crescente consciência de governos africanos e ainda o fato de, em sete anos, os países pobres terem multiplicado por 24 seus gastos no combate à epidemia.

O meio-ambiente é um problema agudo. Desde a Rio-92, conferência ambiental da ONU, os países pobres se mobilizaram para programas que os ricos deveriam financiar. Não o fizeram, o que deixou os mais pobres desmotivados. Menção negativa aos EUA e à Rússia, que deixaram o Protocolo de Kyoto sobre a emissão de poluentes e aquecimento global.

Quanto aos direitos humanos, o documento se preocupa com o enfraquecimento da ONU e com os prisioneiros dos EUA em Guantánamo. Também menciona a ineficiência do Judiciário e o alcance reduzido de formas de transparência que inibam a corrupção dos governantes.

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