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ONG dá "novo olhar" a crianças e jovens

Por Paula Cunha/Diário do Comércio   4 de fevereiro de 2004
Foto de Evandro Monteiro/Digna Imagem Luiz Alberto conheceu o trabalho e os cursos da Novolhar quando era interno da Febem
Integrar crianças e adolescentes no mundo do trabalho e dar a eles a possibilidade de construir um projeto de vida é o objetivo da Associação Novolhar. A entidade oferece cursos de vídeo e rádio para adolescentes e já produz vídeos institucionais para o Sebrae-SP, Petrobras e Computer Associates.

O coordenador do projeto, Paulo Santiago, explica que a instituição pretende tornar a produtora de vídeo auto-sustentável e, para atingir este objetivo, está divulgando a entidade através de sua newsletter mensal na internet. A produtora atende grupos de menores da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem) e tem convênio firmado com o Serviço de Ação Social (SAS) através do qual atende 50 crianças e 50 adolescentes moradores do bairro do Bixiga, na capital paulista, em sua sede.

Santiago explica que todos os projetos são concebidos e desenvolvidos pelos adolescentes, que têm origens variadas. Alguns saíram da Febem e estão passando por um período de monitoramento e outros são de famílias carentes e que procuraram o projeto para desenvolver suas potencialidades e obter formação mais especializada para enfrentar o mercado de trabalho.

Este perfil de criança e de adolescente assistido tem se mantido desde o início das atividades da Novolhar, há cinco anos. O coordenador do projeto lembra que, inicialmente, foi formado um grupo de 15 adolescentes para criar um programa de TV. Dentro deste grupo, quatro jovens eram moradores de rua e 11 eram menores de baixa renda que viviam com suas famílias na periferia de São Paulo.

Segundo Santiago, o programa de 30 minutos produzido pelos adolescentes passou a ser veiculado pelo canal universitário TV PUC, que cede o horário e concede o direito a oito reapresentações durante o mês. A elaboração dos programas continua até os dias de hoje e, com isso, ele espera atrair a atenção para a produtora e conseguir desenvolver projetos para outras empresas além dos contratos já firmados com a Computer Associates, o Sebrae e a Petrobras. Para esta última, os adolescentes produziram o vídeo institucional de comemoração dos 50 anos de existência da empresa estatal.

O convênio com a Febem veio mais tarde e se mantém até hoje. A instituição indica os menores que participam do projeto e a produtora faz os vídeos institucionais da entidade.

Este é o caso de Luiz Alberto Gregório. Ele já completou 20 anos e faz parte do projeto há dois. Seus trabalhos em vídeo elaborados para o Museu da Pessoa já estão sendo remunerados e a experiência proporcionou uma viagem ao Rio de Janeiro e o convite para participar da equipe responsável por um vídeo para a Votorantim.

Depois de realizar estes trabalhos, Luiz pretende se especializar nesta área e aprender técnicas de produção e de edição. "Ganhei aulas de vídeo no Senac e começo a estudar lá neste ano", conta. Segundo ele, o contato com técnicos profissionais de emissoras como a Cultura e a Globo o estimulou a querer continuar estudando.

"Conheci o projeto quando ainda estava no regime de semi-liberdade da Febem. Fui indicado pela direção para fazer o curso. Conheci muitas pessoas e isso mudou minha vida. Voltei a morar com a minha família e a Novolhar me deu a oportunidade de conhecer novas pessoas. Agora, quero mostrar para as pessoas que existe um trabalho que é feito para que os programas que se vê na televisão cheguem a elas", conclui.

Outros resultados – Na avaliação dos adolescentes que participam do projeto e de seu coordenador, os resultados positivos obtidos até agora são conseqüência do trabalho conjunto de profissionais da área com os adolescentes. "Nosso objetivo é ensinar os adolescentes, produzir material de qualidade e oferecê-lo ao mercado", diz Paulo Santiago. Para ele, a diversidade das experiências pessoais de cada adolescente é um fator que contribuiu bastante para o sucesso do empreendimento.

Os adolescentes que atualmente fazem o curso de rádio da Novolhar têm uma perspectiva mais positiva quanto às chances de entrar no mercado de trabalho. Para eles, esta formação é muito importante e poderá abrir portas. Muitos estão tão entusiasmados que já planejam a volta aos estudos.

Aos 13 anos, Tuane Silva está gostando do curso de rádio porque era muito tímida e as aulas a estão ajudando a conhecer gente nova e a aprender um ofício.

Todos, segundo Santiago, estão resgatando a possibilidade de modificar sua vida. Por isso, conclui, o site da entidade tem os versos de Raul Seixas que dizem que "basta ser sincero e desejar profundo e você será capaz de sacudir o mundo".

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