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A Psicologia a serviço das vítimas do trânsito
Por Paula Cunha / Diário do Comércio   26 de fevereiro de 2004
Centro de Psicologia Aplicada ao Trânsito (Cepat) auxilia familiares de vítimas de acidentes a superar traumas
O psicólogo clínico Salomão Rabinovich é um daqueles paulistanos que consideram os problemas do trânsito – em especial o grande número de acidentes com vítimas – uma questão de segurança nacional. A diferença é que ele já não se contenta em divulgar estatísticas dramáticas, que mostram que o trânsito no Brasil nas últimas décadas matou mais do que a Guerra do Vietnã. A consciência desse caos que envolve os grandes centros e também as estradas que cortam o País o levou a criar o Centro de Psicologia Aplicado ao Trânsito (Cepat) e a Associação das Vítimas de Trânsito no Estado de São Paulo (Avitran). Essas entidades atuam hoje em duas grandes frentes: promovem campanhas educacionais, para ver as tragédias reduzidas, e auxiliam os familiares de vítimas fatais a enfrentar os muitos traumas provocados pelas perdas.
Causas humanas - Todas estas iniciativas tiveram origem na década de 70, quando Rabinovich começou a atender em seu consultório um grande número de pacientes afetados por acidentes de trânsito. Eram pessoas que tinham sofrido traumas diretos em colisões ou que tinham perdido entes queridos nessa guerra. O tratamento rotineiro desses pacientes o levou a uma constatação fundamental para seu estudo: a de que 90% dos acidentes têm causas humanas. Desde então, passou a desenvolver terapias específicas para estes motoristas envolvidos em acidentes. Além disso, Rabinovich começou a defender uma tese restritiva: carteiras de habilitação só deveriam ser concedidas após uma rigorosa avaliação psicológica. Para ele, a transformação da mentalidade de quem dirige, que muitas vezes usa o carro como um instrumento de poder, é uma batalha a ser vencida.
Dados do Detran mostram que, somente no ano 2000, 5.155 pessoas morreram e 148.359 ficaram feridas em acidentes de trânsito no Estado de São Paulo – números considerados altíssimos e que denotam, segundo o psicólogo, não somente a falta de conhecimentos técnicos dos motoristas, mas também a falta de estrutura emocional.
Atendimento - As vítimas e famílias que procuram a Avitran recebem orientação de um grupo de psicólogos voluntários, selecionados em diversas faculdades de Psicologia. Ajudam nos casos mais graves, apoiando familiares de vítimas fatais, mas também prestam assistência com o objetivo de integrar acidentados que ficaram com seqüelas permanentes ou temporárias.
A Avitran atua em quase todo o território nacional e está buscando parcerias com empresas para ampliar suas atividades e o campo de atuação. Rabinovich não divulga o número de pessoas que já passaram pelas entidades, mas afirma que o total é alto e seria ainda maior se as pessoas afetadas por este tipo de tragédia fossem mais informadas sobre a existência de entidades que oferecem esse tipo de ajuda.
AA do trânsito - Quanto ao método de trabalho de recuperação das vítimas, ele explica que o processo terapêutico é semelhante ao utilizado pelo Alcoólicos Anônimos (AA). "As pessoas que passam por esses traumas desenvolvem processos de isolamento, insônia e depressão. Por isso, precisam saber que há outras que passaram pelos mesmos problemas", afirma o psicólogo. Elas ouvem os relatos de outros acidentados e sentem que não estão passando por essa experiência sozinhas.
Rabinovich também orienta as vítimas para que evitem a superexposição de seus dramas na mídia, o que, segundo ele, não ajuda na recuperação. "Quando as pessoas se dão conta realmente do que lhes aconteceu, elas se vêem sozinhas, pois os jornais sensacionalistas já não se interessam mais pelo seu caso", afirma.
Ao mesmo tempo, elas são conscientizadas sobre o poder ilusório que a direção proporciona ao motorista.
O objetivo das duas entidades é transformar a mentalidade dos motoristas, que encaram o automóvel como um sinal exterior de poder.
Em razão do atual quadro de violência e caos no trânsito, o Cepat e a Avitran trabalham pela valorização do cidadão, seja ele pedestre, motorista ou trabalhador do trânsito.
Planos – Para manter e ampliar todas estas atividades, Salomão Rabinovich pretende procurar empresas que fabricam material educativo para crianças e criar uma espécie de material didático para orientá-las desde cedo. Além disso, pretende sensibilizar o sindicato das seguradoras que, agora, está considerando a possibilidade de formar uma parceria com a Cepat e a Avitran. O psicólogo afirma que já procurou as montadoras de automóveis, mas que estas empresas não demonstraram interesse por seus projetos.
O psicólogo clínico Salomão Rabinovich é um daqueles paulistanos que consideram os problemas do trânsito – em especial o grande número de acidentes com vítimas – uma questão de segurança nacional. A diferença é que ele já não se contenta em divulgar estatísticas dramáticas, que mostram que o trânsito no Brasil nas últimas décadas matou mais do que a Guerra do Vietnã. A consciência desse caos que envolve os grandes centros e também as estradas que cortam o País o levou a criar o Centro de Psicologia Aplicado ao Trânsito (Cepat) e a Associação das Vítimas de Trânsito no Estado de São Paulo (Avitran). Essas entidades atuam hoje em duas grandes frentes: promovem campanhas educacionais, para ver as tragédias reduzidas, e auxiliam os familiares de vítimas fatais a enfrentar os muitos traumas provocados pelas perdas.
Causas humanas - Todas estas iniciativas tiveram origem na década de 70, quando Rabinovich começou a atender em seu consultório um grande número de pacientes afetados por acidentes de trânsito. Eram pessoas que tinham sofrido traumas diretos em colisões ou que tinham perdido entes queridos nessa guerra. O tratamento rotineiro desses pacientes o levou a uma constatação fundamental para seu estudo: a de que 90% dos acidentes têm causas humanas. Desde então, passou a desenvolver terapias específicas para estes motoristas envolvidos em acidentes. Além disso, Rabinovich começou a defender uma tese restritiva: carteiras de habilitação só deveriam ser concedidas após uma rigorosa avaliação psicológica. Para ele, a transformação da mentalidade de quem dirige, que muitas vezes usa o carro como um instrumento de poder, é uma batalha a ser vencida.
Dados do Detran mostram que, somente no ano 2000, 5.155 pessoas morreram e 148.359 ficaram feridas em acidentes de trânsito no Estado de São Paulo – números considerados altíssimos e que denotam, segundo o psicólogo, não somente a falta de conhecimentos técnicos dos motoristas, mas também a falta de estrutura emocional.
Atendimento - As vítimas e famílias que procuram a Avitran recebem orientação de um grupo de psicólogos voluntários, selecionados em diversas faculdades de Psicologia. Ajudam nos casos mais graves, apoiando familiares de vítimas fatais, mas também prestam assistência com o objetivo de integrar acidentados que ficaram com seqüelas permanentes ou temporárias.
A Avitran atua em quase todo o território nacional e está buscando parcerias com empresas para ampliar suas atividades e o campo de atuação. Rabinovich não divulga o número de pessoas que já passaram pelas entidades, mas afirma que o total é alto e seria ainda maior se as pessoas afetadas por este tipo de tragédia fossem mais informadas sobre a existência de entidades que oferecem esse tipo de ajuda.
AA do trânsito - Quanto ao método de trabalho de recuperação das vítimas, ele explica que o processo terapêutico é semelhante ao utilizado pelo Alcoólicos Anônimos (AA). "As pessoas que passam por esses traumas desenvolvem processos de isolamento, insônia e depressão. Por isso, precisam saber que há outras que passaram pelos mesmos problemas", afirma o psicólogo. Elas ouvem os relatos de outros acidentados e sentem que não estão passando por essa experiência sozinhas.
Rabinovich também orienta as vítimas para que evitem a superexposição de seus dramas na mídia, o que, segundo ele, não ajuda na recuperação. "Quando as pessoas se dão conta realmente do que lhes aconteceu, elas se vêem sozinhas, pois os jornais sensacionalistas já não se interessam mais pelo seu caso", afirma.
Ao mesmo tempo, elas são conscientizadas sobre o poder ilusório que a direção proporciona ao motorista.
O objetivo das duas entidades é transformar a mentalidade dos motoristas, que encaram o automóvel como um sinal exterior de poder.
Em razão do atual quadro de violência e caos no trânsito, o Cepat e a Avitran trabalham pela valorização do cidadão, seja ele pedestre, motorista ou trabalhador do trânsito.
Planos – Para manter e ampliar todas estas atividades, Salomão Rabinovich pretende procurar empresas que fabricam material educativo para crianças e criar uma espécie de material didático para orientá-las desde cedo. Além disso, pretende sensibilizar o sindicato das seguradoras que, agora, está considerando a possibilidade de formar uma parceria com a Cepat e a Avitran. O psicólogo afirma que já procurou as montadoras de automóveis, mas que estas empresas não demonstraram interesse por seus projetos.