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Baccarelli, a orquestra que nasceu das cinzas
Por Cláudio Marques / Diário do Comércio   25 de março de 2004
Incêndio que atingiu favela inspirou maestro a formar projeto social para ensinar música e uma profissão
Católico, com estudos feitos em um seminário, o maestro Silvio Baccarelli não podia imaginar que ao chegar em casa para almoçar, naquele distante dia de maio de 1996, sua vida e a de uma das maiores comunidades carentes da cidade de São Paulo iriam começar a mudar.
"Foi uma surpresa. Cheguei em casa para almoçar e vi na tevê um incêndio que tomava conta da Favela Heliópolis. Vi o pessoal em cima daqueles prédios populares construídos pelo Jânio Quadros e que pareciam revestidos de papelão. Era um desespero total. O pessoal lá em cima esperando para ser içado por helicópteros", conta o maestro.
"O que posso fazer para ajudar essa gente?", se perguntou. "O que a gente pode oferecer é o que a gente faz. A música. É doar um pouco da nossa vida", relembra.
Dessa pulsão movida pelo espírito cristão e por aquilo que o maestro chama de "sucessão genética" –ele vem de uma família de músicos– nasceu, quatro meses depois, o projeto de ensinar músicas às crianças e jovens da favela e, assim, tirá-los das ruas.
Com o tempo, tomou forma o Instituto Bacarelli, que hoje atende 220 jovens de 7 a 21 anos divididos entre a Orquestra Jovem, Orquestra Didática e o coral. "Foi o melhor presente que Deus me deu na velhice. Estou realizado", diz Baccarelli. Os elogios não param. "Eles são tão conscientes que não têm a menor inibição para subir em qualquer palco. Já tocaram no Municipal, no Sérgio Cardoso e no Alfa. E no dia 2 de junho estarão se apresentando na Sala São Paulo."
Formar cidadãos – O maestro lembra que o objetivo do Instituto não é apenas o de ensinar música, mas também oferecer uma profissão. O diretor-executivo do instituto, Edílson Ventureli, acrescenta outro objetivo: formar cidadãos. "Nem todos que sairão daqui serão músicos profissionais, mas 100% serão pessoas melhores."
Para esta alquimia interior, o método do instituto aliado à força de vontade de cada um funciona como o fogo e o cadinho que levam à transmutação de um jovem carente, que vive num ambiente hostil, em um músico e um cidadão. O estudo da música começa pelo coral, pois a proposta do instituto é formar um "músico completo", que saiba cantar, tocar e ler.
"Depois de dois anos no coral, a criança, ou o jovem, começa a perceber que sozinho não é nada. Precisa dos companheiros para produzir algo interessante", conta Ventureli.
Nesses dois anos, os alunos aprendem a ouvir, a ter percepção rítmica e a despertar a afinação. Depois, começam a estudar um instrumento, em aulas de uma hora e em grupos de cinco ou seis. Ao mesmo tempo, tocam na orquestra didática.
No terceiro estágio, participam da orquestra jovem, têm aulas individuais e dois ensaios de orquestra por semana e são orientados a estudar pelo menos quatro horas por dia, todos os dias, em casa. Nessa fase, recebem bolsa de R$ 250 mensais.
Segundo o instituto, a melhora no comportamento dos jovens é visível, pois tornam-se mais disciplinados, responsáveis e participantes. Segundo Ventureli, os jovens também elevam a auto-estima. "Temos garotos que estão conosco há 7, 8 anos. Moram em comunidades de risco, mas a incidência de garotos envolvidos com crime que estão na orquestra é zero."
As famílias aprovam as mudanças. Uma mãe escreveu ao maestro para dizer que "tudo que tem feito aos nossos filhos tem nos deixado muito felizes". Reconhece a "inteligência e talento que faz desta arte um dom divino, mudando a realidade de cada jovem e criança que tem ajudado neste tempo". E acrescenta: "É por isso que me orgulho de ter a minha filha fazendo parte do seu sonho, que agora também é um sonho dela".
Católico, com estudos feitos em um seminário, o maestro Silvio Baccarelli não podia imaginar que ao chegar em casa para almoçar, naquele distante dia de maio de 1996, sua vida e a de uma das maiores comunidades carentes da cidade de São Paulo iriam começar a mudar.
"Foi uma surpresa. Cheguei em casa para almoçar e vi na tevê um incêndio que tomava conta da Favela Heliópolis. Vi o pessoal em cima daqueles prédios populares construídos pelo Jânio Quadros e que pareciam revestidos de papelão. Era um desespero total. O pessoal lá em cima esperando para ser içado por helicópteros", conta o maestro.
"O que posso fazer para ajudar essa gente?", se perguntou. "O que a gente pode oferecer é o que a gente faz. A música. É doar um pouco da nossa vida", relembra.
Dessa pulsão movida pelo espírito cristão e por aquilo que o maestro chama de "sucessão genética" –ele vem de uma família de músicos– nasceu, quatro meses depois, o projeto de ensinar músicas às crianças e jovens da favela e, assim, tirá-los das ruas.
Com o tempo, tomou forma o Instituto Bacarelli, que hoje atende 220 jovens de 7 a 21 anos divididos entre a Orquestra Jovem, Orquestra Didática e o coral. "Foi o melhor presente que Deus me deu na velhice. Estou realizado", diz Baccarelli. Os elogios não param. "Eles são tão conscientes que não têm a menor inibição para subir em qualquer palco. Já tocaram no Municipal, no Sérgio Cardoso e no Alfa. E no dia 2 de junho estarão se apresentando na Sala São Paulo."
Formar cidadãos – O maestro lembra que o objetivo do Instituto não é apenas o de ensinar música, mas também oferecer uma profissão. O diretor-executivo do instituto, Edílson Ventureli, acrescenta outro objetivo: formar cidadãos. "Nem todos que sairão daqui serão músicos profissionais, mas 100% serão pessoas melhores."
Para esta alquimia interior, o método do instituto aliado à força de vontade de cada um funciona como o fogo e o cadinho que levam à transmutação de um jovem carente, que vive num ambiente hostil, em um músico e um cidadão. O estudo da música começa pelo coral, pois a proposta do instituto é formar um "músico completo", que saiba cantar, tocar e ler.
"Depois de dois anos no coral, a criança, ou o jovem, começa a perceber que sozinho não é nada. Precisa dos companheiros para produzir algo interessante", conta Ventureli.
Nesses dois anos, os alunos aprendem a ouvir, a ter percepção rítmica e a despertar a afinação. Depois, começam a estudar um instrumento, em aulas de uma hora e em grupos de cinco ou seis. Ao mesmo tempo, tocam na orquestra didática.
No terceiro estágio, participam da orquestra jovem, têm aulas individuais e dois ensaios de orquestra por semana e são orientados a estudar pelo menos quatro horas por dia, todos os dias, em casa. Nessa fase, recebem bolsa de R$ 250 mensais.
Segundo o instituto, a melhora no comportamento dos jovens é visível, pois tornam-se mais disciplinados, responsáveis e participantes. Segundo Ventureli, os jovens também elevam a auto-estima. "Temos garotos que estão conosco há 7, 8 anos. Moram em comunidades de risco, mas a incidência de garotos envolvidos com crime que estão na orquestra é zero."
As famílias aprovam as mudanças. Uma mãe escreveu ao maestro para dizer que "tudo que tem feito aos nossos filhos tem nos deixado muito felizes". Reconhece a "inteligência e talento que faz desta arte um dom divino, mudando a realidade de cada jovem e criança que tem ajudado neste tempo". E acrescenta: "É por isso que me orgulho de ter a minha filha fazendo parte do seu sonho, que agora também é um sonho dela".