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Protagonismo Juvenil

Por Clóvis Henrique - Grupo Interagir   3 de maio de 2004
O Portal do Protagonista Juvenil

Personagem Principal: Isis Lima Soares - Projeto Cala-Boca Já Morreu



- Nome, Idade, onde nasceu e onde mora.

Muito prazer! Meu nome é Isis Lima Soares, sou paulistana da gema, tenho 16 anos completados no dia 10 de novembro, e moro no Jaguaré, zona oeste da capital.

- Quando e como você começou a atuar na área social? Houve alguma influência da família, de amigos, da escola etc? Comecei com 8 anos, justamente quando o Cala-boca já morreu nasceu. Na época, eu não tinha a menor idéia que estava entrando numa coisa que seria determinante na escolha dos meus gostos e opiniões durante toda a vida... Fazer rádio permitiu me envolver com a comunicação social, e isso é fantástico! Minha família foi e é essencial para a minha formação... Não conheço ninguém que seja envolvido com questões além do próprio umbigo que não tenha tido momentos de conversa, esclarecimento e aprendizado com o pai, a mãe, os avós, @s irmã@s...

- Como você se envolveu no Cala-boca?

Estou no projeto desde 1995, quando tudo começou... A coordenação desse trabalho é da minha mãe, e como eu sempre fui meio 'grudinho', passei a acompanhá-la em suas idas a Rádio Cidadã, emissora comunitária do nosso bairro, onde ela fazia a coordenação pedagógica de um dos programas... Certo dia, surge a oportunidade de fazer acontecer um programa inteiramente realizado por crianças (e outro por adolescentes). Entrei nessa história e aí tudo começou...

- Qual a sua participação hoje em dia?

Dentro do Cala-boca eu sou coordenadora do Núcleo de Rádio, que está com diversos projetos que visam a fornecer instrumentos para que outras crianças e adolescentes entendam como funcionam os meios de comunicação e passem a produzi-los. Estou na coordenação do Projeto JAÊ, uma parceria GENS/Cala-boca/OBORÉ e que atingirá toda uma rede de rádios comunitárias e rádios-escolas, com programas de rádio feitos por e para crianças e adolescentes, falando sobre meio ambiente, saúde, qualidade de vida... Sou monitora de dança de salão na academia Passos & Compassos e amo fazer isso! Em maio estarei analisando, junto com outros consultores da ANDI, uma série de programas de tv que tem como foco o público adolescente... Estou envolvida também na formação de um comitê de juventude dentro da Rede IPAZ, que pretende ser uma Agência Mundial de Notícias pela Paz...

- Quem é a Isis?

Uma escorpiana extremamente feliz com tudo o que faz, sonhadora 24 horas por  dia, otimista e empolgada com a vida! Apaixonada por dança de salão, atenta a tudo para que consiga aproveitar ao máximo cada momento que passa.

Sobre o Cala Boca...

- O que é o projeto Cala-boca já morreu!?

O Cala-boca é um projeto que tem intenção de fazer com que crianças e adolescentes não sejam apenas consumidores de informação, mas que passem a produzir informação, a partir dos seus próprios pontos de vista, através de diferentes mídias. O subtítulo do projeto explica muito bem o que o que nós queremos, que é mostrar "que nós também temos o que dizer" e também podemos, temos o direito de editar o mundo, tanto quanto qualquer adulto.

- Quando e como surgiu o Cala-boca já morreu!?

O Cala-boca nasceu em agosto de 1995, em São Paulo. Na época, o projeto era uma ação social sem fins lucrativos do GENS - Serviços Educacionais que fez uma parceria com a Cidadã FM, uma rádio Comunitária do Butantã para que fosse ao ar um programa feito inteiramente por crianças. A idéia era que as crianças aprendessem a produzir, apresentar, operar equipamentos e, inclusive, atender o ouvinte.

- Que resultados já foram alcançados com os trabalhos?

A gente já aprendeu muita coisa, mas talvez a mais importante seja esta: existe sim um outro jeito de produzir informação. Um jeito diferente da maioria das empresas de comunicação, onde um pequeno grupo decide sozinho o que seus locutores vão dizer, as músicas que vão tocar... Aprendemos que uma comunicação que queira contribuir, de verdade, para a construção de uma sociedade mais legal, mais justa, tem que ser fruto de muita conversa, de discussão, de negociação. No Cala-boca, somos nós que fazemos levantamento de pauta, produzimos, apresentamos e também avaliamos todas as atividades do projeto. Esse exercício, que a gente vem fazendo há quase oito anos, levou a uma outra coisa muito bacana: aprendemos a gostar e a respeitar muito os amigos que integram o projeto, independente das diferenças que temos e... que não são poucas...

- Quantos jovens fazem parte do projeto hoje em dia? Quais as idades? Contamos com 20 integrantes, entre 7 e 18 anos, das mais diversas realidades, classes sociais, escolas e famílias...

- Que atividades vocês estão desenvolvendo atualmente?

Hoje o projeto está dividido em 4 núcleos: rádio, jornal, tv e internet. Cada núcleo desse é coordenado por uma dupla de integrantes e está desenvolvendo oficinas com outros grupos de crianças e adolescentes. Está produzindo material a ser divulgado principalmente no nosso site

(www.portalgens.com.br) e estabelecendo novas parcerias para viabilização da Rádio Cala-boca já morreu, um sonho que temos e que está prestes a ser realizado.

- Quais os parceiros do projeto? Como conseguiram os apoios?

O GENS continua sendo o nosso maior parceiro, dando a maior força em todos os sentidos. Estamos com uma parceria com a OBORÉ - Projetos Especiais, para a realização do Projeto JAÊ, uma série de programas de rádio que será distribuída para o Brasil inteiro com foco nas emissoras comunitárias e nas rádio-escolas. Contamos também com o apoio da Fundação SOS Mata Atlântica, Faculdade de Saúde Pública da USP, todos conquistados graças à admiração e ao respeito mútuo.

Opiniões...

- O que é protagonismo juvenil? Há diferença entre este termo e o voluntariado? Tem algo a favor ou contra o conceito? Protagonismo juvenil é assumir de frente a idealização e realização de um sonho coletivo, seja ele dentro de casa, da escola, da rua ou do país. Voluntariado é ter disposição para fazer algo - e realmente FAZER, mas não necessariamente assumindo a chamada 'linha de combate'. Infelizmente, o termo voluntariado é visto hoje como sinônimo de assistencialismo. Muita gente acha que ser voluntário é 'fazer o bem para alguém', quando na verdade, é você deixar de ser objeto de uma cena para ser sujeito.

- Como estimular a participação social de jovens?

Acredito que a partir do momento que não só os jovens, mas a população em geral tenha mais informação sobre o mundo em que vivemos, e se torne crítica dessa realidade que lhes é passada, muita coisa será diferente... O que percebemos hoje é que o fato dos meios de comunicação pertencerem a poucas pessoas, e sempre passarem as informações de acordo com seus próprios interesses, faz com que tod@s tenhamos noção de apenas UM ponto de vista de tudo... Conseqüentemente, muitos não fazem nada pra mudar nada porque muitas vezes não vêem nenhuma relação da guerra, por exemplo, com o próprio cotidiano. Estabelecer relação entre o mundo 'lá fora' com a minha vida 'aqui dentro' é o primeiro passo. Mas como fazer isso? O exercício da comunicação é o grande caminho.

- Você que trabalha com comunicação, como vê o tratamento que a mídia dá aos jovens? Como a mídia tem abordado a questão do voluntariado / protagonismo juvenil? Estamos num momento muito importante em que os meios de comunicação, por oportunismo ou não, relatam, noticiam e divulgam inúmeras ações desenvolvidas por jovens. De certa forma isso é muito bom, pois contribui para que mude a visão que existe hoje de que os jovens são alienados, não querem nada com nada... Mas não ficarei feliz enquanto a grande mídia continuar a insistir que a maioria das atividades realizadas pelas juventudes é assistencialista, para ajudar o outro... Afinal, grande parte dos programas de tv que temos hoje existem porque as grandes empresas nos vêem como consumidores importantíssimos para o mercado, e aí não investem numa programação diferente, porque o que interessa em si é vender isso ou aquilo...

- Muitos dizem que a juventude de hoje é alienada e individualista. O que você pensa sobre isso? Acho complicado generalizar a situação. Desde muito pequenos, ouvimos nossos pais, professores, que viveram principalmente na época da ditadura militar,

dizerem: 'na minha época as coisas não eram assim, ninguém ficava em casa vendo tv, todo mundo era politizado... blá, blá, blá!'. Sabemos que desde quando o mundo é mundo, existem pessoas que se incomodam e fazem de tudo pra mudar determinada situação e que existem pessoas que não querem nem saber o que tá acontecendo na rua do lado. Se todas as juventudes da década de 70 tivessem sido tão organizadas desse jeito, com certeza hoje nós teríamos adultos muito mais conscientes e envolvidos... Mas não é assim! Essa geração a que nós pertencemos está chegando com uma leva gigantesca de pessoas que se juntam, se mobilizam e fazem mudanças. Mas também tem outra leva gigantesca de gente que não tá nem aí pra nada, só quer saber de shopping e balada!

- Qual a questão prioritária para o desenvolvimento do Brasil? Enquanto nós não conseguirmos mudar a educação brasileira, dificilmente grandes mudanças poderão acontecer... Hoje em dia, passamos mais de 11 anos indo pra escola e não vemos NENHUM sentido pra isso... São mais de 4000 dias praticamente jogados fora! Tudo isso porque a escola ainda não conseguiu entender que está completamente ultrapassada, que a televisão fez com que surgissem outras maneiras mais legais e mais interessantes de aprendermos sobre tudo e todos (a mistura de imagens, sons e sensações é sensacional). Ficar sentado em fileiras, um olhando pra nuca do outro, ouvindo apenas uma pessoa falar é um absurdo! A escola deveria ser um lugar de conversa, de partilha, de vivência, de relações...

- O que te alegra e o que te entristece em nosso país?

Me alegra muito ver que existem pessoas da mesma idade que eu que sonham, que lutam e que perceberam que é falso dizer 'os jovens são o futuro da nação'. Nós estamos aqui hoje, vivendo tudo que temos direito e construindo o que queremos viver pra sempre. Mas é muito triste ver que em pleno século 21, com o Brasil completando 503 anos, ainda existem pessoas que nem sequer tem o que comer, onde morar... É algo que não tem mais cabimento! Tô botando muita fé que as coisas agora podem mudar...

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