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Princípios da Educação Inclusiva

Por Comunicação REBRAF / DEGRAU   31 de maio de 2004
Sentimo-nos felizes em poder compartilhar com os numerosos amigos que recebem nossos e-mails diários dados importantes sobre os rumos da educação inclusiva, de que muito se fala no Brasil, mas que, na prática, oferece muitos obstáculos, ou melhor, desafios aos professores, muitos deles receosos de encarar a educação inclusiva por considerá-la um esforço grande e pouco compensador.

Todavia, todos nós que no país estamos envolvidos em debater a educação inclusiva sabemos que estamos crescendo com essas pesquisas, esses debates, porque é através de estratégias de sala de aula e de uma visão holística do ser humano nosso irmão é que iremos, de fato, dar passos largos na estrada da inclusão.

Texto da educadora espanhola Pilar Arnáis Sánchez, Universidade de Murcia, Espanha (extraído das páginas 30/31 de artigo publicado na revista SIGLO CERO, V. 27(2).

4. Princípios da educação inclusiva.

Entre os princípios que conferem à entidade a educação inclusiva, queremos destacar os seguintes:


Classes que acolhem a diversidade

A inclusão implica em estabelecer e manter comunidades escolares que dêem as boas vindas à diversidade e que honrem as diferenças. Os professores que se preocupam em criar aulas nas quais todos os estudantes se encontram totalmente incluídos, tendem a enfatizar a atmosfera social dentro da classe servindo de exemplo e ensinando a respeitar as diferenças. Os mesmos estudantes que aprendem que "uma criança utiliza um tabuleiro para se comunicar porque é incapaz de falar" podem aprender rapidamente que na classe podem ser lidos livros de níveis diferentes sobre o mesmo tema.

As discussões abertas acerca do preconceito, os estereótipos e a exclusão têm o potencial de melhorar a atmosfera da classe para todos os alunos, chegando a conclusões tais como: não julguemos ninguém pela aparência, busquemos traços comuns, etc.

A inclusão e o respeito pela diversidade não são princípios limitados aos estudantes com deficiências ou aos estudantes com talento; as diferenças de raça, religião, etnia, entorno familiar, nível econômico e capacidade, estão presentes em todas as classes. Nas classes inclusivas, os companheiros podem aprender e se ajudarem entre si em todas estas dimensões com uma instrução eficaz e um apoio forte.

Um Currículo mais amplo

A inclusão significa implementar uma modalidade de currículo multinível. Ensinar uma classe arrojadamente heterogênea implica em mudanças profundas na natureza do currículo (Stainbach & Stainback, 1992). Os professores de classes inclusivas estão se afastando, constantemente, do rígido método de ensino frontal baseado num livro de texto e estão se articulando para adotar o método de aprendizado cooperativo, a instrução temática, o pensamento crítico, a resolução de problemas e a valorização autêntica.

Por exemplo, um grupo de professores senta-se para planejar uma lição do sexto grau da escola primária sobre a Espanha. Usando o mapa da Espanha como ponto de partida, fazem com que sejam colocadas em comum idéias aplicáveis à leitura, escrita, ortografia, resolução criativa de problemas, ciências, estudos sociais, arte, música, teatro e matemática. Suas idéias incluem dramatização, pesquisas cooperativas em grupo sobre vários temas, construção de diagramas e criação de murais, escrever canções e danças, fazer viagens ao campo, escrever cartas aos funcionários estatais para pesquisar legislação, planejar viagem calculando a quilometragem e os gastos, etc. Estas atividades, pelo fato de terem muitas modalidades e estarem centradas na criança, são interativas, participativas e divertidas. Não só estão relacionadas com as disciplinas tradicionais mas incluem também desafios acadêmicos e cognitivos em muitos níveis.

Dentro de um currículo amplo como este, é mais fácil incluir alunos com necessidades educacionais variadas. Assim, por exemplo, nesta mesma atividade, um menino com paralisia cerebral que está trabalhando suas habilidades motoras, pode recortar e colar sinais, marcas, sobre o mapa da Espanha. Outro menino, que chegou recentemente de Marrocos, aprende a mesma coisa que os outros sobre a Espanha, ensinando à classe os equivalentes ou sinônimos de "cidade", "aldeia", "rio" em árabe, etc. Um grupo pequeno está preparando uma atualização sobre a história da Espanha, analisando seus diferentes povoadores, as guerras passadas, as fronteiras, as diferentes línguas, culturas, pessoas de outros países que moram aqui, etc. Uma aluna, considerada superdotada, está preparando uma folha informativa sobre o projeto. Com esta finalidade, enquanto trabalha as próprias habilidades de pesquisa e escrita, está entrevistando os companheiros e aprendendo a escutar com atenção os outros, bem como a parafrasear e transcrever conversas.

Ensino e Aprendizado Interativo

A inclusão implica em preparar e apoiar os professores para que ensinem interativamente. As mudanças no currículo estão ligadas, estreitamente, às mudanças em sua pedagogia. O modelo de aula de um professor que procura satisfazer as necessidades de uma classe inteira de crianças por si só está sendo substituído por estruturas nas quais os estudantes trabalham juntos, ensinam uns aos outros mutuamente, e participam ativamente de sua própria educação e da dos companheiros. A relação entre as classes inclusivas e o aprendizado cooperativo está começando a ficar bastante clara (Sapon-Shevin, 1994); não queremos alunos incluídos em classes para competir com os demais e sim para que aprendam com os outros e dos outros.

O modelo muda de: " sou o professor e não quero ver ninguém aprendendo nada se eu não estiver à frente" para ser: "Sou um professor, minha tarefa é facilitar o aprendizado de vocês, e existem mais trinta fontes de conhecimento, apoio e ensino." Também são reconhecidas as inteligências múltiplas e elas são apoiadas para que as crianças " que ajudam " e as crianças " às quais se presta ajuda" não sejam sempre as mesmas.

Nenhuma criança deveria ter de suportar a inflexibilidade, os currículos aborrecidos, a falta de criatividade, a regulamentação excessiva, o excesso de padronização e as concepções limitadas do que é ensino e aprendizado. A melhora nestas áreas dentro de um contexto de reforma estrutural e coerente dará como resultado maior aceitação e aprendizado de todos os alunos.

O apoio dado aos professores

A inclusão implica em proporcionar apoio contínuo aos professores nas classes e romper as barreiras do isolamento profissional. Ainda que os professores estejam rodeados de gente, ensinar pode ser um trabalho incrivelmente solitário. Um dos sinais que definem a inclusão é o ensinamento em grupo, a colaboração e a consulta, bem como outras formas de atingir as habilidades, o conhecimento e o apoio de muitas pessoas encarregadas de educar um grupo de crianças.

Vários modelos de inclusão tornam extensivo o uso da equipe e da cooperação dada a professores, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, orientadores, etc. Ainda que aprender, com sucesso, a trabalhar com outros adultos exija com freqüência preparação, apoio e valorização contínua, a natureza cinegética da colaboração adulta é muito interessante. Quando um fonoaudiólogo, um especialista da linguagem torna-se membro da equipe, é capaz de fazer sugestões não somente sobre como melhorar a linguagem de uma criança com necessidades especiais, mas também sobre como incorporar atividades de enriquecimento da linguagem em todos os aspectos da jornada escolar.

Freqüentemente, os professores podem assumir um aumento de responsabilidade na era na qual são especialistas, ou idealizar serviços quando têm oportunidades e apoio para integrar essas atividades em suas classes. Muitos professores informam que as modificações e os ajustamentos que foram feitos para um estudante específico têm tido impacto positivo sobre um grupo maior de estudantes; por exemplo, escrever as palavras-chave no quadro negro antes de uma lição ajuda o estudante com problemas de aprendizado e também os outros. O método de ensino exemplar que ocorre em muitas classes inclusivas é, com freqüência, uma função da experiência compartilhada e da colaboração de várias pessoas, ocasião em que cada um compartilha livre e abertamente suas habilidades e especializações.

Participação dos pais

Finalmente, a inclusão implica na participação dos pais de forma significativa no processo de planejamento. Os programas de educação inclusiva têm confiado muito na informação obtida dos pais sobre a educação dos filhos. Por exemplo, muitos programas educacionais para superdotados têm, também, se beneficiado dos altos índices de participação dos pais, ( participação essa algumas vezes exigida para que a criança seja aceita no programa).

Traduzido do espanhol e digitado em São Paulo por Maria Amélia Vampré Xavier, Rebraf; Fenapaes, Brasília; Inclusion InterAmericana e Inclusion International, em 5 de maio, 2004.

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