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Estágio é atalho para o primeiro emprego

Por Katia Azevedo / Diário do Comércio   25 de agosto de 2004
Foto de Paulo Pepe / Digna Imagem Dândara Nunes Marsiglia está contratada pela Proservi, empresa que efetivou 55% dos 113 estagiários que recebeu em 2003
Melhor garoto propaganda não poderia existir. Há 40 anos, logo depois de haver se formado em Direito, Luiz Gonzaga Bertelli recebeu um convite para estagiar numa Entidade Não Governamental recém criada, o Centro de Integração Empresa Escola (CIEE). Dedicado, Bertelli ajudou a elaborar o estatuto da ONG e tratou de aprimorar seu desempenho a cada dia. Resultado: seu trabalho tornou-se imprescindível e a carreira só fez evoluir, a ponto de ele assumir a presidência da entidade, onde está até hoje.

Como o próprio nome diz, a proposta do CIEE é fazer uma ponte entre o mundo da educação e o do fazer (escola e empresa), oferecendo aos estudantes chances de colocar seu aprendizado em prática, adquirir vivência empresarial. Por outro lado, os patrões têm a oportunidade de descobrir e formar novos talentos, utilizando-os para elevar o desempenho dos negócios.

Essa ponte são os estágios, sempre remunerados no caso do CIEE, que em quase 60% dos casos acabam dando origem ao primeiro emprego formal do adolescente. Uma ajuda e tanto num país que tem o desemprego como um de seus maiores problemas e onde rapazes e moças com idades entre 15 e 29 anos respondem por 22% do contigente de desocupados.

A legislação que regulamenta os estágios surgiu praticamente junto com o CIEE, em meados de 1964 e a entidade se orgulha de ser a líder do gênero no País, com 254 unidades espalhadas por todos os Estados e mais de 5 milhões de bolsas concedidas no período, por meio de parcerias com 160 mil empresas.

Atualmente o número de jovens cadastrados que aguardam uma oportunidade de estágio chega a 1 milhão. Mas desses, apenas 30% conseguem atingir o objetivo. A culpa, segundo Bertelli, é da "falta de consciência de parte dos empresariado", que ainda impõe restrições ao ingresso de estagiários. "Precisaríamos de pelo menos dobrar o número de empresas conveniadas", diz. "Hoje, além do balanço financeiro, há exigência de um balanço social. É necessário que a empresa seja uma aliada da comunidade, especialmente nos setores em que o Estado se mostra mais ausente."

O presidente do CIEE acha ainda que as iniciativas públicas para estimular o emprego aos jovens são tímidas. "O Programa Primeiro Emprego do Governo Lula demonstra que há preocupação com o assunto, mas a proposta é burocrática, precisa ser aperfeiçoada."

Mais simples e eficiente, na opinição de Bertelli, seria incentivar as empresas a oferecerem mais estágios remunerados e dissipar, por meio da modernização das leis, as suspeitas que alguns setores ainda mantém em relação à prática. "Existe uma certa confusão entre estágio e trabalho informal. Por falta de esclarecimentos, algumas empresas rejeitam o programa, temendo represálias por parte da fiscalização."

Não é o caso da Cosipa. Há algumas década a Companhia Siderúrgica Paulista firmou parceria com o CIEE. E os resultados só merecem elogios por parte do superintendente de Recursos Humanos da Empresa José Antonio Oliveira de Rezende. "A metodologia do CIEE agiliza o processo de seleção da Cosipa e as facilidades de comunicação ajudam o estudante a se preparar melhor para a vida profissional", afirma. "A empresa também acredita que investindo no desenvolvimento de potencialidades e talentos dos estagiários estará gerando inovação contínua de suas práticas organizacionais."

Os estágios têm duração variada, de seis meses a dois anos e carga horária de 4 a 8 horas, dependendo das exigências escolares. Na Cosipa, quem passa pelo processo tem prioridade nas contratações. Em 2003, 74 ex-estagiários viraram empregados da empresa.

Foi o mesmo ano em que o aluno da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Santos (UniSantos), Maurício Mendes, conseguiu uma vaga como estagiário na Superintendência de Marketing da empresa, dentro do Núcleo do Aço na Construção. "Tenho a oportunidade de trabalhar em análise de projetos, acompanhamento de obras, feiras e eventos", relata o universitário. "Estou ampliando minha área de atuação como profissional de arquitetura."

Planos – Já Dândara Nunes Marsiglia, de 16 anos, ainda está no segundo grau mas já tem certeza de que irá fazer uma faculdade, de Ciências Contábeis. O que há pouco tempo era apenas um sonho distante ficou mais perto de se tornar realidade graças a um estágio, obtido via CIEE, na Proservi, empresa especializada na automação de serviços bancários.

Hoje ela é funcionária da empresa, e com o dinheiro ajuda a família e faz uma poupança para pagar a faculdade. "Minha vida mudou 100%. Foi tudo muito rápido. Fiz a inscrição e em menos de uma semana fui chamada para estagiar. Me dediquei ao máximo e acabei contratada. Gostaria que todos tivessem a mesma oportunidade."

Além de Dândara, outros 113 jovens ingressaram como estagiários na Proservi, em 2003. Desses 55% acabaram efetivados, segundo o gerente de Recursos Humanos da empresa, Raí Machado Cunha. "É uma parceria que traz vantagens a todos. Preparamos os candidatos para o mundo profissional e com sua capacidade eles nos ajudam a encontrar soluções novas e mais eficientes", justifica Cunha. "Acreditamos que o estágio é uma forma de inclusão social. Caso todas as empresas agissem assim, tenho certeza que o Brasil seria bem melhor."

É a mesma convicção do presidente do CIEE. O empenho de Luiz Gonzaga Bertelli para atrair novos parceiros empresariais é diário, mas não só: a entidade toca também vários projetos sociais, como programa de alfabetização de adultos, campanhas anti-drogas e aulas de inglês e espanhol para alunos carentes. "Usamos o dinheiro da taxa administrativa paga pelas empresas. Nossa administração é eficiente. Até hoje não precisamos de um centavo do poder público", orgulha-se.

Para saber mais sobre o CIEE e as formas de cadastramento, basta acessar o site www.ciee.org.br ou então telefonar para (11) 3040- 9800.

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