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Eficiência física marca Paraolimpíada
Por Katia Azevedo   9 de setembro de 2004
Atletas brasileiros dizem que alcançar o topo do pódio é desafio menor perto das dificuldades diárias, como a pouca acessibilidade ao transporte público
O fim das Olímpiadas não encerrou a festa do esporte em Atenas. A partir do dia 17, a capital da Grécia vai retomar a rotina de competições e quebra de recordes, e dessa vez com atletas habituados a superar limites também no cotidiano. Será o início das Paraolimpíadas, segundo maior evento esportivo do mundo, que reúne apenas competidores com algum tipo de deficiência física.
Este ano o evento reunirá quatro mil atletas de 143 países, disputando 19 modalidades. O Brasil, que participa pela oitava vez levará sua maior delegação, com 98 atletas, classificados em 13 modalidades. A expectativa é que eles superem o desempenho dos Jogos Paradesportivos de Sidney, trazendo na bagagem ainda mais medalhas do que as 22, que renderam ao País a 24ª colocação na época. Foram 6 de ouro, 10 de prata e 6 de bronze –10 a mais do que a equipe olímpica.
Muitos podem imaginar que as Paraolímpiadas ofereçam desafios menores do que os jogos convencionais. É um engano e tanto. Várias das modalidades têm exatamente as mesmas regras das praticadas por atletas sem deficiência e outras sofrem apenas adaptações, como o basquete. Nesse caso as dimensões da quadra e a altura das cesta são as mesmas exigidas nas Olimpíadas. A diferença é que os atletas além de dominarem a bola, dominam também as cadeiras de rodas que usam para se locomover.
Recordes – E com toda essa dificuldade é de um atleta paraolímpico o recorde de cestas numa única partida. Trata-se do australiano Troy Sachs. Na final dos Jogos Paraolímpicos de Atlanta, marca nunca antes alcançada por um jogador, com ou sem deficiência.
Outro exemplo impressionante é o do corredor americano Marlon Shirley, que teve a perna amputada abaixo do joelho em conseqüência de um acidente. Com a ajuda de uma prótese, Shirley correu os 100 metros rasos em 10,97 segundos. Apenas 86 centésimos de segundo a mais do que o grego Angelo Pavlakis, atleta sem deficiência, detentor do recorde mundial.
Já o australiano John MacLean, portador de paraplegia, é o único atleta em cadeira de rodas a terminar três vezes o Triatlon Iron Man, uma das provas mais difíceis do mundo, com ciclismo, natação e maratona.
Desafio maior – "Quem assiste a uma Paraolímpiada muitas vezes não vê mais graça numa Olimpíada. Os desafios são bem maiores, há mais emoção", diz o professor de Educação Física Steven Dubner, fundador da Associação Desportiva para Deficientes.
A ADD é uma instituição sem fins lucrativos, empenhada em proporcionar o desenvolvimento físico e emocional do portador de deficiência por meio do esporte adaptado e da educação. "Quando uma pessoa deficiente descobre que pode praticar um esporte, percebe que pode fazer várias outras coisas também, como trabalhar ou namorar. É uma forma de abrir espaço no mundo e derrubar preconceitos."
É uma batalha gigantesca, levando-se em conta a população de deficientes no mundo: 25 milhões de pessoas, segundo a Organização Mundial de Saúde. E esse número só faz aumentar. Estima-se que diariamente 850 pessoas fiquem com seqüelas permanentes, vítimas de acidente de carros, tiros e acidentes de trabalho.
Exemplos – Adriano Gomes de Lima, foi vítima de acidente de carro. Aos 17 anos, ele ficou paraplégico, em conseqüência de uma colisão de carros. Deprimido, passou três anos sem sair de casa, mas conseguiu virar o jogo graças à natação. Os treinos tornaram-se constantes e Lima virou um profissional. Hoje, aos 31 anos, é um veterano das Paraolimpíadas, com quatro medalhas no currículo.
Em Atenas, ele irá brigar pelo pódio em nove provas. "O esporte mudou minha vida. Hoje chego a dar graças a Deus por se deficiente. Sou mais feliz do que era antes. Conquistei respeito e reconhecimento."
A história é parecida com a de Thiago Fernando de Oliveira, 27 anos. Aos 18, ele sofreu um queda e teve lesão medular, ficou paraplégico e só reencontrou a alegria de viver quando descobriu o basquete em cadeira de rodas, por meio da ADD. Em pouco tempo, Oliveira se sobressaiu, conquistando um lugar na equipe brasileira que vai a Atenas. Ele vai competir ao lado de Erick Epaminondas, outro paratleta lançado pela entidade. "Foram quatro anos de treinos puxados. Tenho confiança de que traremos uma medalha", diz Oliveira.
O desafio de conquistar o pódio, segundo ele, é até pequeno diante as dificuldades encontradas no dia-a-dia. "O maior problema é a falta de acessibilidade, especialmente no transporte", queixa-se. Outra crítica é quanto a falta de divulgação dos feitos realizados por atletas deficientes. "No Brasil , o paraesportista ainda é pouco valorizado. Só se fala no assunto quando é época de Paraolimpíada."
Promessa – Às vesperas de embarcar para Atenas, Oliveira e o restante da delegação brasileira ouviram do presidente Luis Inácio Lula da Silva a promessa de que esse quadro deve ser modificado, a começar por reformas na legislação de incentivos fiscais para garantir mais apoio aos atletas brasileiros. "Isso é investimento. O retorno é na auto-estima do nosso País", afirmou o presidente.
Se adotada, a medida deve contribuir para acelerar um processo já em curso e bastante positivo segundo o chefe da delegação brasileira que vai a Atenas, Alberto Martins da Costa. "A sociedade está descobrindo que não é só a busca de medalhas que importa. Estão aprendendo a apreciar a plasticidade dos atletas paraolímpicos e valorizar a superação alcançada por eles."
Mas mesmo que as medalhas não sejam o mais importante, Costa acredita que elas virão e serão muitas. "É a maior delegação brasileira da história. Tanto em quantidade quanto em qualidade. As expectativas são as melhores possíveis", afirma. "Estou muito honrado em trabalhar com esses atletas. Além de serem campeões esportistas, superam barreiras sociais, arquitetônicas e preconceitos. São verdadeiros guerreiros."
Outro motivo de entusiasmo para o chefe da delegação, é o esquema de cobertura dos jogos Paraolímpicos. Só no Brasil serão oito emissoras transmitindo o evento. Já a ADD montou um site (www.add.org.br/paraolimpiadas) especial para contar as notícias da vila paraolímpica na Grécia, com direito a crônicas, artigos, entrevistas e comentários, tudo coordenado pelo próprio Steven Dubner.
O fim das Olímpiadas não encerrou a festa do esporte em Atenas. A partir do dia 17, a capital da Grécia vai retomar a rotina de competições e quebra de recordes, e dessa vez com atletas habituados a superar limites também no cotidiano. Será o início das Paraolimpíadas, segundo maior evento esportivo do mundo, que reúne apenas competidores com algum tipo de deficiência física.
Este ano o evento reunirá quatro mil atletas de 143 países, disputando 19 modalidades. O Brasil, que participa pela oitava vez levará sua maior delegação, com 98 atletas, classificados em 13 modalidades. A expectativa é que eles superem o desempenho dos Jogos Paradesportivos de Sidney, trazendo na bagagem ainda mais medalhas do que as 22, que renderam ao País a 24ª colocação na época. Foram 6 de ouro, 10 de prata e 6 de bronze –10 a mais do que a equipe olímpica.
Muitos podem imaginar que as Paraolímpiadas ofereçam desafios menores do que os jogos convencionais. É um engano e tanto. Várias das modalidades têm exatamente as mesmas regras das praticadas por atletas sem deficiência e outras sofrem apenas adaptações, como o basquete. Nesse caso as dimensões da quadra e a altura das cesta são as mesmas exigidas nas Olimpíadas. A diferença é que os atletas além de dominarem a bola, dominam também as cadeiras de rodas que usam para se locomover.
Recordes – E com toda essa dificuldade é de um atleta paraolímpico o recorde de cestas numa única partida. Trata-se do australiano Troy Sachs. Na final dos Jogos Paraolímpicos de Atlanta, marca nunca antes alcançada por um jogador, com ou sem deficiência.
Outro exemplo impressionante é o do corredor americano Marlon Shirley, que teve a perna amputada abaixo do joelho em conseqüência de um acidente. Com a ajuda de uma prótese, Shirley correu os 100 metros rasos em 10,97 segundos. Apenas 86 centésimos de segundo a mais do que o grego Angelo Pavlakis, atleta sem deficiência, detentor do recorde mundial.
Já o australiano John MacLean, portador de paraplegia, é o único atleta em cadeira de rodas a terminar três vezes o Triatlon Iron Man, uma das provas mais difíceis do mundo, com ciclismo, natação e maratona.
Desafio maior – "Quem assiste a uma Paraolímpiada muitas vezes não vê mais graça numa Olimpíada. Os desafios são bem maiores, há mais emoção", diz o professor de Educação Física Steven Dubner, fundador da Associação Desportiva para Deficientes.
A ADD é uma instituição sem fins lucrativos, empenhada em proporcionar o desenvolvimento físico e emocional do portador de deficiência por meio do esporte adaptado e da educação. "Quando uma pessoa deficiente descobre que pode praticar um esporte, percebe que pode fazer várias outras coisas também, como trabalhar ou namorar. É uma forma de abrir espaço no mundo e derrubar preconceitos."
É uma batalha gigantesca, levando-se em conta a população de deficientes no mundo: 25 milhões de pessoas, segundo a Organização Mundial de Saúde. E esse número só faz aumentar. Estima-se que diariamente 850 pessoas fiquem com seqüelas permanentes, vítimas de acidente de carros, tiros e acidentes de trabalho.
Exemplos – Adriano Gomes de Lima, foi vítima de acidente de carro. Aos 17 anos, ele ficou paraplégico, em conseqüência de uma colisão de carros. Deprimido, passou três anos sem sair de casa, mas conseguiu virar o jogo graças à natação. Os treinos tornaram-se constantes e Lima virou um profissional. Hoje, aos 31 anos, é um veterano das Paraolimpíadas, com quatro medalhas no currículo.
Em Atenas, ele irá brigar pelo pódio em nove provas. "O esporte mudou minha vida. Hoje chego a dar graças a Deus por se deficiente. Sou mais feliz do que era antes. Conquistei respeito e reconhecimento."
A história é parecida com a de Thiago Fernando de Oliveira, 27 anos. Aos 18, ele sofreu um queda e teve lesão medular, ficou paraplégico e só reencontrou a alegria de viver quando descobriu o basquete em cadeira de rodas, por meio da ADD. Em pouco tempo, Oliveira se sobressaiu, conquistando um lugar na equipe brasileira que vai a Atenas. Ele vai competir ao lado de Erick Epaminondas, outro paratleta lançado pela entidade. "Foram quatro anos de treinos puxados. Tenho confiança de que traremos uma medalha", diz Oliveira.
O desafio de conquistar o pódio, segundo ele, é até pequeno diante as dificuldades encontradas no dia-a-dia. "O maior problema é a falta de acessibilidade, especialmente no transporte", queixa-se. Outra crítica é quanto a falta de divulgação dos feitos realizados por atletas deficientes. "No Brasil , o paraesportista ainda é pouco valorizado. Só se fala no assunto quando é época de Paraolimpíada."
Promessa – Às vesperas de embarcar para Atenas, Oliveira e o restante da delegação brasileira ouviram do presidente Luis Inácio Lula da Silva a promessa de que esse quadro deve ser modificado, a começar por reformas na legislação de incentivos fiscais para garantir mais apoio aos atletas brasileiros. "Isso é investimento. O retorno é na auto-estima do nosso País", afirmou o presidente.
Se adotada, a medida deve contribuir para acelerar um processo já em curso e bastante positivo segundo o chefe da delegação brasileira que vai a Atenas, Alberto Martins da Costa. "A sociedade está descobrindo que não é só a busca de medalhas que importa. Estão aprendendo a apreciar a plasticidade dos atletas paraolímpicos e valorizar a superação alcançada por eles."
Mas mesmo que as medalhas não sejam o mais importante, Costa acredita que elas virão e serão muitas. "É a maior delegação brasileira da história. Tanto em quantidade quanto em qualidade. As expectativas são as melhores possíveis", afirma. "Estou muito honrado em trabalhar com esses atletas. Além de serem campeões esportistas, superam barreiras sociais, arquitetônicas e preconceitos. São verdadeiros guerreiros."
Outro motivo de entusiasmo para o chefe da delegação, é o esquema de cobertura dos jogos Paraolímpicos. Só no Brasil serão oito emissoras transmitindo o evento. Já a ADD montou um site (www.add.org.br/paraolimpiadas) especial para contar as notícias da vila paraolímpica na Grécia, com direito a crônicas, artigos, entrevistas e comentários, tudo coordenado pelo próprio Steven Dubner.