Notícias

ONG leva brincadeira de criança a sério

Por Camila Doretto   12 de novembro de 2004


Dona de uma imaginação infinita, a criança projeta seu tesouro interno de sentimentos, sensações, lembranças e sonhos quando coloca seu corpo à disposição da brincadeira. Foi percebendo a relevância da linguagem universal da criança, o brincar, como um dos caminhos para dar liberdade à expressividade humana, que a OCA - Associação da Aldeia de Carapicuíba abriu em 1996 as portas de um galpão, em área cedida pela Prefeitura de Carapicuíba, para gerar um espaço onde a cultura infantil é o referencial.

Num lugar privilegiado, em meio ao Parque Cultural e Ecológico da Aldeia de Carapicuíba, a OCA oferece às crianças que moram na região a oportunidade de levar a espontaneidade do brincar às diversas atividades do espaço, que tem como proposta ser uma escola cultural.

Dezenas de crianças passam por lá diariamente freqüentando aulas de dança, música, capoeira, artes plásticas ou participando do horário reservado às brincadeiras. "Todas as atividades são integradas. Na dança, na música e em todas as outras artes eles estão brincando e na brincadeira estão dançando, cantando e criando", conta Lucilene Silva, professora da OCA que faz um trabalho de resgate das brincadeiras entre as crianças.

Logo nos primeiros passos dentro do galpão, já é possível ver o colorido e a rica diversidade de brinquedos. Mas não são apenas brinquedos prontos, que chegam às mãos das crianças para terem uso determinado. São sim também muitos brinquedos criados por eles e que por eles podem ser explorados de infinitas maneiras: um pedaço de pano na brincadeira de casinha pode ser uma saia ou um bebê balançando nos braços de criança.

A criança traz consigo a coragem de poder transformar um desejo ou um sonho, muitas vezes impossível aos olhos cansados de um adulto, em algo possível, apostando numa solução criativa para se ter, ser e viver o que se quer.

Na OCA há crianças de todas as idades. O mais novo, Doni Rafael Souza Brito, de 2 anos, brinca sob os olhos atenciosos do irmão Daniel, de 6 anos, e da mãe Maria Cleide Souza Brito. "Às vezes até entro na brincadeira, ajudo a bater corda", conta Maria Cleide. "É muito importante que eles tenham atividades e eu prefiro que eles fiquem aqui. É um bom lugar. Me sinto segura."

As crianças pulam corda, amarelinha, fazem brincadeiras de mão e casinha. Todos vão tão longe quanto a imaginação puder levar. A experiência de dar liberdade para que elas criem, escolham o brinquedo que têm vontade e experimentem, sem regras que tolham sua imaginação, acaba gerando cenas inéditas: crianças de 4 a 12 anos, adolescentes e adultos brincando juntos. "Tem senhoras que moram aqui perto e que às vezes vêm brincar com a gente", conta Carla de Oliveira Souza, 11 anos. "Nós temos de aproveitar ao máximo enquanto podemos", completa.

Numa das atividades, velas coloridas são colocadas à disposição para que a cera derretida pingue numa cuia com água e forme os mais diferenciados desenhos. "Quero a vela vermelha. Quem quer trocar?", pergunta um. Logo alguém se manifesta e aceita a troca. E assim eles vão se organizando, brincando e assumindo responsabilidades como, por exemplo, o cuidado com a mais novinha da mesa, Letícia Gabriela da Silva, de 4 anos. Durante a atividade, Letícia se distrai e logo uma outra criança lhe chama a atenção: "Cuidado Letícia! Cuidado com a vela!".

"Ao brincar, a criança experimenta sentimentos como ternura, afeto, solidariedade, o lado agressivo, o sentimento de posse, entre outros. O cuidar do outro, por exemplo, surge espontaneamente quando crianças de idades diferentes brincam juntas", explica Maria Amélia Pereira, uma das fundadoras da OCA.

Comentários dos Leitores