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Aldeias Infantis: um lar para crianças de todo o mundo

Por Paula Cunha    16 de fevereiro de 2005
Um projeto que proporciona um lar estruturado com uma mãe social para crianças abandonadas. Este é o modelo adotado pelas Aldeias Infantis SOS. Há 38 anos no Brasil, a entidade, fundada na Europa após a Segunda Guerra Mundial, constrói as moradias das famílias substitutas e oferece às comunidades de seu entorno orientação e oficinas para o seu desenvolvimento. Em fase de expansão, as Aldeias estão procurando novos parceiros entre empresas que desejam vincular sua marca à instituição e também mais mães sociais. Seu objetivo é alcançar a auto-suficiência financeira.

As Aldeias estão habilitadas a oferecer estrutura familiar para as crianças com assistência médica e odontológica. A base do seu funcionamento é a figura da mãe social, que se dedica integralmente ao projeto. É ela que orienta os novos filhos e os encaminha para estudar. Cada casa abriga uma família formada pela mãe e por nove filhos. O objetivo é reduzir o número de crianças abandonadas e encaminhadas a instituições públicas.

Cada aldeia é composta de dez casas. Em cada uma destas mora uma família, totalizando dez famílias. Este agrupamento é coordenado por um diretor que tem um termo de guarda das crianças que vivem nela. Cada mãe elabora um orçamento com os gastos com cada filho e recebe uma verba mensal que administra de acordo com as suas necessidades.

O diretor da instituição localizada no bairro de Interlagos na capital paulista, Carlos Alberto Esch, explica que as Aldeias têm o perfil de longa permanência das crianças assistidas, ou seja, acolhe órfãos que já passaram por outras instituições e ultrapassaram a idade em que possuíam mais chance de ser adotados.

Segundo Esch, existem crianças que são encaminhadas pelos Fóruns da Infância e que têm família. Nestes casos, as Aldeias Infantis trabalham para tentar reintegrar estes menores.

Todas as crianças que vivem na entidade freqüentam as escolas e os centros sociais do bairro, além de participar das atividades do Sesc Interlagos. Com isso, o objetivo é manter o vínculo das mães sociais e das crianças com a comunidade local. O objetivo, explica o diretor, não é isolar as novas famílias dentro das sedes.

Ao mesmo tempo, a instituição mantém uma creche e oficinas com cursos para a população local e palestras para os pais com o objetivo de proporcionar a ela um atendimento preventivo para evitar a desagregação das famílias. Os funcionários e professores destas unidades são contratados e também há a participação de voluntários em atividades específicas como as oficinas profissionalizantes.

Perfil da mãe – Segundo Esch, a escolha das mães é conseqüência de um processo rigoroso de seleção que obedece a legislação que reconhece a figura da mãe social. Para ser aceita nas Aldeias Infantis SOS Brasil, a candidata precisa ter ensino médio completo, idade superior a 25 anos e apresentar disponibilidade para morar na Aldeia. Ela não pode ser casada nem ter filhos menores de 18 anos. Este perfil de mulheres que já criaram seus filhos é uma constante na instituição, explica Esch.

Todas as candidatas passam por um processo de avaliação que inclui entrevistas com uma psicóloga e uma visita domiciliar. Além disso, elas são avaliadas por outras mães que já moram na Aldeia. A entidade fornece a todas as pessoas aceitas acompanhamento pedagógico e psicológico. O período de capacitação dura dois anos. "Temos uma escola de mães que funciona na própria Aldeia. Ela oferece capacitação e elabora um plano de carreira para as candidatas aceitas", explica o diretor.

Exemplo de mãe – "Sempre quis ter a minha própria vida." Com esta afirmação, Maria de Fátima Bastos começa a relatar a sua trajetória e a opção por se transformar em mãe de nove crianças nas Aldeias Infantis.

Ela conta que viu um anúncio das Aldeias na revista "Família Cristã" há 16 anos e se interessou pelo projeto. "Naquela época, meus pais já haviam falecido e eu vivia nas casas de irmãos casados, mas estava insatisfeita porque queria uma perspectiva diferente", explica.

Dentro da Aldeia, Maria de Fátima diz ter encontrado sua própria vida e objetivos que literalmente preenchem todo o seu dia. Com nove filhos, ela organiza a casa, supervisiona os estudos das crianças, administra os gastos mensais e ainda encontra energia para viajar com todos nas férias de janeiro.

"Passei por diversas casas antes de assumir esta. A mãe anterior ficou apenas um ano aqui e, quando cheguei, as crianças estavam um pouco desconfiadas. Com o tempo, viram que eu ficaria, mas no começo a maioria das crianças desta e de outras casas têm um pouco de dificuldade para se adaptar. O importante é criar os vínculos, que variam mas permanecem para sempre", conclui ela.

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