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A vida conectada depois dos 50 anos
Por Teresinha Matos    9 de março de 2005
O HD (memória do computador) transformou-se em companheiro inseparável. Ela não sai a passeio sem antes colocá-lo na bolsa. "O computador é meu amigão." Parece frase de uma adolescente. Mas não é. É de Neusa Antonio Morra, a Neusinha, como é tratada pelos amigos da "net". Viúva, 66 anos, 3 filhos e netos, a paulistana mudou seu jeito de ser nos últimos seis anos, quando descobriu um novo meio de fazer amigos: o mundo digital.
No Brasil, até há bem pouco tempo conhecido como país de jovens, a pirâmide populacional está mudando. E a sociedade ainda não se deu conta disso, apesar da promulgação do Estatuto do Idoso no fim de 2003. "A oferta de serviços e lazer para o consumidor com mais de 50 anos é muito pequena. Os bailes de terceira idade acontecem durante a tarde, o que torna impossível a freqüência. Hoje muitos idosos com 60 e 70 anos ainda trabalham", diz Suzete Spíndola, 55 anos.
São quase 15 milhões de brasileiros com 60 anos ou mais, representando 8,6% da população. Em 1991, eles eram apenas 10.722.705 (7,3%). A maioria (81%) vive em grandes cidades, conforme o Censo 2000 do IBGE. As mulheres são maioria: 55,1% dos idosos, ante os 54% da década de 90. Elas respondem pela maioria dos domicílios comandados por idosos (62,4%, ou 8,9 milhões). A expectativa é que nos próximos 20 anos esse segmento da população chegue a 30 milhões, ou 13% dos brasileiros.
Encontros – Sites e agências de eventos se voltam para esse público. No próximo final de semana, um grupo da terceira idade com representantes do país todo estará em Penedo, Rio de Janeiro, para mais um encontro. Alguns irão se conhecer pessoalmente no evento já que costumam conversar pela web. Psicólogos, médicos e outros especialistas vão ajudar o grupo –com integrantes com mais de 50 anos– a refletir sobre suas vidas e a se aproximar. Estão previstos ainda passeios, bailes e brincadeiras. A promoção é do site www.maisde50.com.br .
"A sociedade ainda não está preparada para lidar com o envelhecimento da população, pois esse é um fenômeno novo. Por isso, há carência de todo tipo de aparato", diz a editora do portal Mais de 50, Maria da Luz Miranda. Segundo ela, há grupos de toda ordem nessa faixa de público –aqueles que ainda trabalham, os que acessam a internet, os que estão na fila do SUS etc.– e nenhuma dessas categorias é atendida satisfatoriamente. Os interessados em fazê-lo também não sabem como começar e que tipo de serviço oferecer.
O portal Mais de 50, lançado pela Site Verticais Interativos em 1999, detectou essa carência. "As metas da publicação: ampliar a discussão e o debate sobre o envelhecimento e suas implicações sociais, culturais, biológicas e psíquicas", disse a editora. Traz artigos e reportagens sobre saúde, cultura e lazer, nutrição, auto-ajuda, economia etc. Também tem ferramentas de interação possibilitando bate-papo, fórum de discussão, além de mural de recados e seção de encontros.
A partir de 2002, o Mais de 50 passou a promover encontros presenciais. "A idéia não é levá-los a uma excursão. Mas reuni-los em local agradável e com apelo turístico, com ênfase no trabalho de articulação, para que discutam o que é o envelhecimento hoje, além de aproximá-los", explica Maria da Luz. Segundo ela, há muitos aposentados recolhidos em suas casas, a procura de uma oportunidade.
Renascimento – "Eu me sentia como uma flor murchando." Essa é a descrição da profissional de telemarketing Suzete Spíndola, de 55 anos. De repente, ela se viu sem amigos e sem coragem ou possibilidade de sair para encontrá-los. "Minha vida era da casa para o trabalho e vice-versa. No máximo, participava de um happy hour com os amigos do escritório ou de festas familiares." A filha deu o endereço do site.
Foi a senha para Suzete sair do casulo. Agora, ela vai a eventos do Mais de 50, entre outros. "É uma oportunidade de falar sobre o nosso cotidiano e aprender sobre saúde, comportamento, nutrição. Isso vai me ajudar a atingir a terceira idade com mais qualidade de vida." Suzete até pensa em voltar a estudar. "Antes não tinha coragem de ir a um cinema sozinha. No final de semana, não tirava o carro da garagem."
"Aprendi a verdade desse ditado escandinavo: 'Visite os amigos com freqüência. O mato cresce depressa nos caminhos pouco percorridos'." Ela lembra que nem sempre tem oportunidade de visitar amigos do Rio ou de Santa Catarina, mas pode conversar com eles pela internet.
Dinâmica, assim que percebe a quietude dos amigos da "net", Neusinha manda logo um e-mail. Viúva há 13 anos, ela começou acessar a internet há seis anos. Foi se atualizando e hoje praticamente é uma consultora para amigos, filhos e netos. "Fiz muitos cursos, mas aprendi mesmo navegando sozinha", disse a aposentada que é diretoria executiva da Creche São Mateus, em Pinheiros, um trabalho voluntário que abraçou após a aposentadoria. O objetivo de Neusinha ao participar dos encontros do Mais de 50: fazer amigos.
Neusinha e Suzete fizeram amigos no Brasil e em outros países. "Falo com gente do Recife, da Bahia, da Suíça, do Canadá, de Portugal e do Japão", disse Neusinha. Foi assim que a aposentada espantou o temor da depressão depois da viuvez. "Fico bem com o meu 'menino' (o computador). E se ele dá problema, desligo", concluiu.
No Brasil, até há bem pouco tempo conhecido como país de jovens, a pirâmide populacional está mudando. E a sociedade ainda não se deu conta disso, apesar da promulgação do Estatuto do Idoso no fim de 2003. "A oferta de serviços e lazer para o consumidor com mais de 50 anos é muito pequena. Os bailes de terceira idade acontecem durante a tarde, o que torna impossível a freqüência. Hoje muitos idosos com 60 e 70 anos ainda trabalham", diz Suzete Spíndola, 55 anos.
São quase 15 milhões de brasileiros com 60 anos ou mais, representando 8,6% da população. Em 1991, eles eram apenas 10.722.705 (7,3%). A maioria (81%) vive em grandes cidades, conforme o Censo 2000 do IBGE. As mulheres são maioria: 55,1% dos idosos, ante os 54% da década de 90. Elas respondem pela maioria dos domicílios comandados por idosos (62,4%, ou 8,9 milhões). A expectativa é que nos próximos 20 anos esse segmento da população chegue a 30 milhões, ou 13% dos brasileiros.
Encontros – Sites e agências de eventos se voltam para esse público. No próximo final de semana, um grupo da terceira idade com representantes do país todo estará em Penedo, Rio de Janeiro, para mais um encontro. Alguns irão se conhecer pessoalmente no evento já que costumam conversar pela web. Psicólogos, médicos e outros especialistas vão ajudar o grupo –com integrantes com mais de 50 anos– a refletir sobre suas vidas e a se aproximar. Estão previstos ainda passeios, bailes e brincadeiras. A promoção é do site www.maisde50.com.br .
"A sociedade ainda não está preparada para lidar com o envelhecimento da população, pois esse é um fenômeno novo. Por isso, há carência de todo tipo de aparato", diz a editora do portal Mais de 50, Maria da Luz Miranda. Segundo ela, há grupos de toda ordem nessa faixa de público –aqueles que ainda trabalham, os que acessam a internet, os que estão na fila do SUS etc.– e nenhuma dessas categorias é atendida satisfatoriamente. Os interessados em fazê-lo também não sabem como começar e que tipo de serviço oferecer.
O portal Mais de 50, lançado pela Site Verticais Interativos em 1999, detectou essa carência. "As metas da publicação: ampliar a discussão e o debate sobre o envelhecimento e suas implicações sociais, culturais, biológicas e psíquicas", disse a editora. Traz artigos e reportagens sobre saúde, cultura e lazer, nutrição, auto-ajuda, economia etc. Também tem ferramentas de interação possibilitando bate-papo, fórum de discussão, além de mural de recados e seção de encontros.
A partir de 2002, o Mais de 50 passou a promover encontros presenciais. "A idéia não é levá-los a uma excursão. Mas reuni-los em local agradável e com apelo turístico, com ênfase no trabalho de articulação, para que discutam o que é o envelhecimento hoje, além de aproximá-los", explica Maria da Luz. Segundo ela, há muitos aposentados recolhidos em suas casas, a procura de uma oportunidade.
Renascimento – "Eu me sentia como uma flor murchando." Essa é a descrição da profissional de telemarketing Suzete Spíndola, de 55 anos. De repente, ela se viu sem amigos e sem coragem ou possibilidade de sair para encontrá-los. "Minha vida era da casa para o trabalho e vice-versa. No máximo, participava de um happy hour com os amigos do escritório ou de festas familiares." A filha deu o endereço do site.
Foi a senha para Suzete sair do casulo. Agora, ela vai a eventos do Mais de 50, entre outros. "É uma oportunidade de falar sobre o nosso cotidiano e aprender sobre saúde, comportamento, nutrição. Isso vai me ajudar a atingir a terceira idade com mais qualidade de vida." Suzete até pensa em voltar a estudar. "Antes não tinha coragem de ir a um cinema sozinha. No final de semana, não tirava o carro da garagem."
"Aprendi a verdade desse ditado escandinavo: 'Visite os amigos com freqüência. O mato cresce depressa nos caminhos pouco percorridos'." Ela lembra que nem sempre tem oportunidade de visitar amigos do Rio ou de Santa Catarina, mas pode conversar com eles pela internet.
Dinâmica, assim que percebe a quietude dos amigos da "net", Neusinha manda logo um e-mail. Viúva há 13 anos, ela começou acessar a internet há seis anos. Foi se atualizando e hoje praticamente é uma consultora para amigos, filhos e netos. "Fiz muitos cursos, mas aprendi mesmo navegando sozinha", disse a aposentada que é diretoria executiva da Creche São Mateus, em Pinheiros, um trabalho voluntário que abraçou após a aposentadoria. O objetivo de Neusinha ao participar dos encontros do Mais de 50: fazer amigos.
Neusinha e Suzete fizeram amigos no Brasil e em outros países. "Falo com gente do Recife, da Bahia, da Suíça, do Canadá, de Portugal e do Japão", disse Neusinha. Foi assim que a aposentada espantou o temor da depressão depois da viuvez. "Fico bem com o meu 'menino' (o computador). E se ele dá problema, desligo", concluiu.