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Basquete tira crianças da rua num "Passe de Mágica"

Por Por Rachel Melamet    16 de março de 2005
Durante 25 anos, seus passes perfeitos encantaram multidões de fãs da seleção brasileira de basquete feminino. Afastada das quadras desde 2000, Maria Paula Gonçalves da Silva, a Magic Paula, agora se preocupa com a armação de outra jogada vitoriosa: ajudar crianças carentes a desenvolver o corpo e a personalidade através do esporte que a consagrou.

Desde os tempos de jogadora, Paula sempre colaborou com entidades assistenciais, através da cessão de direitos de uso de imagem e engajamento em campanhas para arrecadar fundos. Mas seu maior sonho era criar um projeto em que pudesse aliar o basquete –sua maior paixão– ao trabalho de formação de novos cidadãos.

"A minha idéia é formar a pessoa, e não apenas o atleta, porque o mundo vai muito além de uma coleção de títulos. O esporte ensina a conviver em grupo, respeitar os companheiros e a hierarquia, conviver com vitórias e derrotas", explica Paula.

Em 1998, quando começou a se preparar para encerrar a carreira, Paula e a irmã, Branca, também jogadora de basquete, colocaram as idéias no papel e começaram a correr atrás de patrocínio, mas não tiveram sorte. "Nas fundações e ONGs todos querem investir, porque têm certeza que é um sucesso. Mas conseguir recursos para começar não é fácil."

Apesar das dificuldades, as irmãs perseveraram. Paula pediu ajuda ao amigo Washington Olivetto, para criar um nome. E assim surgiu o Passe de Mágica.

Sorte no interior – Lá foram elas de novo, com suas pastinhas à caça de investidores. No ano passado, deram sorte. A Coop - Cooperativa de Consumo, rede supermercadista com mais de um milhão de cooperados, prestes a se estabelecer em Piracicaba, convidou Paula para estrelar a campanha publicitária de lançamento.

Paula aceitou, desde que a Coop se tornasse parceira do Passe de Mágica. A vocação social da Coop ajudou, e o negócio foi fechado. Em 9 de agosto de 2004, no espaço cedido pelo Tiro de Guerra do Exército em Piracicaba, as cem primeiras crianças receberam as camisetas, bonés, lanches e puderam conhecer as quadras de esporte.

Menos de um mês depois, após uma parceria com o Sesi de Piracicaba, mais uma unidade, também com capacidade para atender cem crianças, foi inaugurada.

O sucesso no interior animou as irmãs, que começaram a sonhar em fazer o Passe de Mágica na periferia de uma metrópole como São Paulo. Aí entrou em cena a Farnell-Newark InOne, multinacional anglo-americana distribuidora de componentes eletrônicos.

Ajuda inglesa – Fanático por futebol, o inglês Stuart Silk, gerente geral da Farnell-Ne-wark no Brasil, também sonhava em ajudar crianças carentes através do esporte. Foi quando sua assessora de marketing, Marli Brochini, sugeriu a contratação de Paula para divulgar o novo site de vendas da empresa.

E lá veio a atleta de novo. Desta vez não houve dificuldade: Stuart topou na hora e o convênio foi firmado. A Farnell vai doar para o Passe de Mágica 1% do valor de cada venda acima de R$ 100 feita no site e, com isso, agregou valor à marca, passando a ser reconhecida pela sua responsabilidade social.

Assim nasceu o terceiro núcleo do Passe de Mágica, que funciona desde fevereiro no Senai de Diadema. A Farnell adiantou uma verba para a compra de material, mas Silk acredita que, em um ano, o núcleo estará se auto-gerindo com doações.

O objetivo do Passe de Mágica é exclusivamente social, voltado ao desenvolvimento integral de jovens, englobando educação, saúde, superação, sociabilidade, disciplina, resgate da auto-estima, cidadania e integração. No caso de surgirem talentos, serão encaminhados para formação profissional.

Segundo Paula, o número de crianças foi limitado a cem, divididas em quatro grupos de 25, para que a qualidade do ensino e treinos seja mantida. As atividades, que duram duas horas e incluem lanche, acontecem de terça a sexta. Cada núcleo tem uma equipe formada por dois técnicos, quatro estagiários, uma coordenadora e uma supervisora.

Querido tênis – Foi difícil fazer a triagem e escolher cem crianças, entre tantas que se apresentaram para uma vaga em Diadema. Mas, no dia em que Paula e Branca, coordenadora do núcleo, visitaram o local, surgiu um problema: "Tia, a gente não tem tênis pra jogar".

E toca batalhar um jeito de complementar o uniforme. A ajuda veio da Fábrica de Calçados Bical, que doou não apenas os cem pares necessários para Diadema, mas 300 pares, para os três Passes de Mágica. Os tênis roubaram a festa na inauguração do núcleo de Diadema. Cem pares de olhos admiravam encantados os pezinhos com o novo visual, que recebeu mais atenção que o lanche.

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