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Livros transformam vidas na periferia e também no Metrô

Por Paula Cunha   11 de maio de 2005
Foto de Paulo Pampolin / Digna Imagem "Antes, tinha dificuldades em me expressar e agora gosto de escrever poesias e versos de amor" Vanessa Araújo Clemente
Projetos de incentivo à leitura estão levando obras literárias até os potenciais leitores; um plano do governo do estado, por exemplo, alcança na próxima sexta-feira a meta de ter uma biblioteca em cada município de São Paulo; de seu lado, o Metrô está implantando bibliotecas em algumas estações como estratégia para alcançar um maior número de pessoas; só a primeira dessas unidades, a da estação Paraíso, já cadastrou sete mil usuários desde sua inauguração, em setembro de 2004

Para convencer crianças e adolescentes de que "o homem que lê vale mais", diversas iniciativas de incentivo à leitura estão sendo colocadas em prática em São Paulo. Da inauguração de bibliotecas até no Metrô a oficinas de poesia, passando por editoras que doam livros, todas querem aumentar o número de leitores no Brasil, estimado em 26 milhões de pessoas que leram ao menos um livro nos últimos três meses.

Este dado alarmante, se for levada em conta a população brasileira, de 183,6 milhões de habitantes, é da Câmara Brasileira de Livros (CBL), no final de 2001. Para reverter este quadro tanto órgãos públicos (secretarias de cultura) quanto privados (editoras, entidades filantrópicas e ongs) criaram mecanismos para atrair adolescentes que, se não adquirirem o hábito de ler agora, passarão a fazer parte do lado triste da estatística da CBL.

Exemplo deste esforço é o programa voltado para jovens do bairro de Capão Redondo, na zona Sul da capital paulista. Ele está apresentando poetas como Vinícius de Moraes, Pablo Neruda, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Frederico García Lorca, Olavo Bilac, João Cabral de Mello Neto e canções de Tom Jobim e Chico Buarque aos jovens moradores do bairro.

Os efeitos já estão sendo detectados. A oficina de poesia, viabilizada pelo Rotary Club Novas Gerações, ofereceu a adolescentes carentes da região uma oportunidade de entrar em contato com a poesia e, também, se expressar através dela.

Transformação – Este é o caso de Vanessa Araújo Clemente. A estudante da sétima série do ensino fundamental conta que a participação na oficina realizada na sede da Associação Criança e Consciência no Capão Redondo transformou a sua vida. "Antes, tinha dificuldade em me expressar e agora gosto de escrever poesias e versos de amor", explica, citando sua maior inspiração, o poema Soneto da Fidelidade, de Vinícius de Moraes.

Segundo Vanessa, a leitura mudou o seu dia-a-dia. Ela explica que antes ficava muito triste por não ter nada para fazer. "Agora, não fico mais resmungando pelos cantos. Estou lendo 'Poema de Amor', de Andrea Campos, a coordenadora da oficina." Ela afirma que está gostando porque a autora conta o que aconteceu em sua vida e transformou estes fatos em poesia. A jovem já está escrevendo seus primeiros versos e também utilizou seus sentimentos, como a falta que sente do pai, e escreveu o poema "Saudades de Ti".

Além disso, Vanessa também está contribuindo para alterar a realidade das pessoas à sua volta. Ela recomenda os livros que lê para as colegas da escola. Até agora, apenas uma pediu um emprestado. E também já está pensando na carreira profissional, que certamente terá que ter alguma relação com a arte. "Já pensei em ser professora, mas estou indecisa. Neste momento penso em ser atriz", explica.

Segunda fase – Para multiplicar exemplos como este a criadora e coordenadora do programa, Andréa Campos, planeja uma segunda fase. Nela, as jovens passarão a escrever seus próprios poemas. Na opinião de Andréa, a possibilidade de escrever levou as meninas a um processo de conscientização sobre diversos temas como o meio ambiente na comunidade em que vivem. "Elas passaram a utilizar as palavras dos poemas que liam na oficina em seu dia-a-dia."

Para Andréa, todo o processo teve um sentido mais amplo porque ele contribuiu para uma conscientização social e política das adolescentes. Com um mestrado em políticas públicas e a prática das aulas em ciências sociais, ela considera o projeto um meio de fazer com que suas participantes se transformem em transmissoras dos conhecimentos que adquiriram. "Na formatura, as meninas vestiram trajes de teatro grego e a imagem de transformação deve se reproduzir na comunidade."

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