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Trabalho voluntário é essencial na geriatria

Por Cyro Queiroz Fiuza   18 de maio de 2005
O sistema público de saúde brasileiro, hoje representado principalmente pelo atendimento do SUS com 90 milhões de cadastrados, tende a cuidar de um número cada vez maior de idosos. Isso porque avança a expectativa de vida da chamada terceira idade –em torno de 70 anos, contra 47 no início do século 20, segundo dados da Associação Paulista de Medicina. Até 2025, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, o Brasil será o sexto país do mundo com maior número de idosos. Um fenômeno como esse preocupa os médicos geriatras e todo o pessoal especializado em lidar com problemas relacionados ao avanço da idade, como mal de Alzheimer, mal de Parkinson, osteoropose, reumatismos e acidentes com quedas.

"Com os avanços da medicina, que propiciam maior longevidade, o profissional da área passa a ser mais requisitado, assim como o trabalho do voluntariado", assinala Sueli Luciano Pires, diretora técnica do Hospital Geriátrico e de Convalescentes D. Pedro II, no Jaçanã, que integra o complexo hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Atualmente, são 62% dos pacientes com mais de 60 anos. Os outros 38% convalescem de acidentes politraumáticos.

Fundado em 1911, o Hospital D. Pedro II é uma instituição de longa permanência –o termo asilo deixou de ser adotado. Seu modelo é um dos mais avançados do mundo. Avançado e ao mesmo tempo simples. Quem chega ao Jaçanã tem a impressão de estar em uma fazenda –o projeto é de Ramos de Azevedo. Tirando os doentes mais graves que permanecem acamados, a maioria transita livremente pelo hospital, a pé ou em cadeiras de rodas. Nas enfermarias, não se vêem aparelhos sofisticados. Quando há necessidade de um exame mais acurado, os pacientes são levados a outro hospital.

Empenhados em melhorar o atendimento, os geriatras e os voluntários procuram dar o melhor de si, sobretudo quando o efetivo não é o desejado. O Hospital D. Pedro II já teve 70 voluntários. Hoje conta com apenas 24 membros ativos, incluindo três médicos. Segundo Sueli, muitos candidatos vêm uma semana ou duas e depois páram. "É um trabalho para o qual a pessoa deve estar preparada e decidida a enfrentar." Depois de preencher a ficha de inscrição, o candidato é submetido a entrevista e daí segue para um curso de orientação. O passo seguinte é assinar um termo de adesão e acompanhar o trabalho voluntário.

Entre os eventos promovidos com apoio do voluntariado estão confraternizações como do Natal, Ano Novo e Páscoa. Algumas instituições, como a Polícia Militar, organizam almoços em datas especiais. Algumas empresas, sobretudo laboratórios farmacêuticos, também fazem doações.

Se o corpo de voluntários precisa aumentar, o número de médicos geriatras, em nível nacional, ainda é insuficiente. "São apenas seis mil especialistas em todo o País", diz Milton Luiz Gorzoni, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Clínico geral de formação, Milton Gorzoni criou o Núcleo de Estudos do Envelhecimento da Santa Casa, embrião do Departamento de Geriatria, há 20 anos. Hoje são 15 profissionais efetivos mais seis residentes da Faculdade de Ciências Médicas e outros seis da residência médica em clínica geral. "Significa um avanço em relação a quando começamos", diz Gorzoni.

"É um hospital-escola não apenas para os residentes como também para enfermagem, fonoaudiologia e fisioterapia", destaca Sueli Pires. No fundo, a prática da medicina geriátrica e da gerontologia depende da multidisciplinariedade de todas essas carreiras, pois baseia-se sempre em "ações preventivas com o objetivo de promover e manter a independência da pessoas", ensina Gorzoni, que lembra que a medicina geriátrica foi criada pela médica inglesa Marjory Warren, que há 50 anos ganhou a missão de cuidar de um asilo e em dois anos deu alta à metade dos pacientes.

O D. Pedro II tem hoje 476 de seus 500 leitos ocupados, sem contar a enfermaria e um ambulatório. As internações são feitas com base nos pedidos da central de vagas do SUS. O hospital é referência para o tratamento da doença de Alzheimer, para o qual possui ambulatório especializado. E detém um modelo único de divisão, com as categorias Mínima (para doentes que andam e são considerados autônomos em sua locomoção), Intermediária (em cadeiras de roda ou dependentes de locomoção em algum momento), Total (dependência total) e Agudos (ligados a respiradores ou torpedos de oxigênio). Essa separação facilita o trabalho no dia-a-dia.

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