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Capão Redondo faz a lição de casa

Por Paula Cunha / Diário do Comércio   8 de junho de 2005
Quando alguém sai do estágio de reclamar da situação social do país, passa para a ação junto à sua comunidade e alcança a fase em que tem a satisfação de encontrar as pessoas que foram ajudadas e que estão evoluindo, ela então atingiu, para especialistas em Terceiro Setor, a consciência da importância de participar de ações que transformam os seres humanos.

É baseado neste princípio que o Rotary Club trabalha em todo o mundo e também no Brasil. Ele atua no país como Rotary desde 1923. Atualmente, seus mais de 2.130 clubes contam com cerca de 53 mil associados. Desenvolve atividades de auxílio às comunidades carentes, de orientação profissionalizante a jovens e em projetos educacionais e de saúde.

Um destes programas auxiliados pelo Rotary é a casa Criança e Consciência. Localizada no bairro de Capão Redondo, na periferia da zona Sul da capital paulista, ela fornece reforço escolar e aulas de teatro, futebol, ginástica, expressão corporal e poesia desenvolvidos principalmente por voluntários.

A fundadora da entidade, Sônia Suliara Silva, explica que começou o trabalho individualmente há mais de dez anos, quando notou o número de crianças brincando nas ruas do bairro e constatou que elas necessitavam de orientação e ajuda nas tarefas escolares já que as mães precisavam trabalhar o dia todo. "Cuidava dos meus filhos e comecei o trabalho em minha própria casa. Minha família sempre me ajudou."

Segundo Sônia, a construção da sede já está no seu quarto ano e, atualmente, atende 108 crianças e adolescentes de segunda a sábado. Ela conta com a ajuda do Rotary tanto na aquisição de material, como o freezer e a geladeira e todo o equipamento da cozinha quanto nas tarefas desenvolvidas pelos voluntários.

Sônia avalia que a maioria das crianças atendidas estão em situação de risco, já que o bairro é violento e elas não contam com a presença dos pais após o término das aulas porque estes precisam trabalhar. Segundo ela, a maioria tem apenas a mãe.

Por isso, ela recebe muitas crianças que apresentam dificuldades para acompanhar as aulas na escola. Ajudada pelos voluntários, Sônia avalia quais as principais dificuldades e cria um método para ajudar cada pequeno aluno. As lições passadas pela escola são feitas na instituição. Nenhuma sai sem ter terminado todas as tarefas. "Criei um método para ajudar cada criança. Recortamos revistas e invento uma cartilha personalizada para cada um."

Ela mostra, orgulhosa, os cadernos de cada um e ressalta quais os progressos obtidos até agora. E cita o exemplo de Vicente, de dez anos, que chegou à instituição com dificuldade para ler e agora já consegue fazer exercícios sozinho. As demais crianças contam, também, com alegria os seus progressos.

Voluntários – Todo este trabalho era desenvolvido apenas por Sônia até há cerca de quatro anos. Agora, a entidade conta com dez voluntários que se revezam durante a semana. Muitos são profissionais liberais e alguns são participantes do Rotary.

É o caso de Dácio Pretoni. Membro do Rotary desde a adolescência, ele é presidente do Rotary Clube de São Paulo Novas Gerações. Formado por pessoas de 28 a 40 anos, o núcleo desenvolve atividades de orientação para os jovens da casa.

"Conseguimos a cozinha e os equipamentos para a entidade. Procurei a instituição porque acho muito fácil apenas doar dinheiro. Meus pais também são rotarianos e cresci com a consciência de que é importante ajudar o próximo. Escolhi o Rotary porque é uma instituição séria, a única com uma cadeira na ONU", explica.

O mesmo sentimento de necessidade de participação moveu a dentista Ana Luísa Frizza. Ela freqüenta a entidade três vezes por semana e não se limita ao tratamento dentário das crianças, mas também às atividades culturais. E ressalta que "o voluntariado que mais vale é o que faz com que você doe o seu tempo para os outros".

Thaís Tiglia Gastaldi, formada em administração e com conhecimentos de yoga e expressão corporal, conheceu a entidade em fevereiro. Como outras pessoas, começou contribuindo financeiramente. "Quando conheci o projeto me apaixonei e passei a vir uma vez por semana. Já estou ajudando o grupo de teatro formado por 13 pré-adolescentes. A gratificação pessoal é muito grande."

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