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Por que celebrar os pais ?
Por    12 de agosto de 2005
A família foi submetida a dinâmicas de mudanças desde a sua origem. O que hoje chamamos de família, por exemplo, é bem diferente da família romana. Tão diferente que nenhum pai contemporâneo ousaria se espelhar no modelo do longínquo "paterfamilias", que vivia à margem, acima da família, gestor de uma máquina para adquirir e manter riquezas.
O próprio modelo de constituição da família se alterou enormemente. Será que todos nos lembramos que o rapto já foi prática corrente - e legítima - para a constituição de lares ? Mais comum que o rapto foram os expedientes dos arranjos patrimoniais familiares e a compra. Ainda hoje, em várias partes do mundo, a instituição do dote é de tal modo imperativa que podemos considerá-la como sucedâneo da compra.
Os avanços no aperfeiçoamento do regime familiar não impediu, contudo, que certas práticas arcaicas - e que hoje são consideradas "modernas" - se mantivessem como realidades sociais, tais como o divórcio, o concubinato, as relações extraconjugais.
A partir do século XI, sobretudo com o desenvolvimento das universidades em toda a Europa, renovaram-se os saberes filosóficos, jurídicos e teológicos, possibilitando substancial remodelagem de idéias sobre sexualidade, matrimônio e família. Impensável, hoje, ou pelo menos inadmissível, que uma família seja constituída ao arrepio do mútuo consentimento entre um homem e uma mulher, que chamamos de matrimônio-aliança.
Não obstante, os tempos atuais lançam uma série de novos desafios para a família. Para alguns, vivemos numa sociedade pós-matrimonial. As relações sexuais fora do matrimônio não chegam a causar tanto espanto, inclusive porque as modernas tecnologias facilitam o controle da natalidade. A estabilidade já nem sequer é considerada em várias camadas da sociedade, tomando-se todas as precauções jurídicas para o "day after" da separação, mesmo porque o divórcio, essa pérola militarista legada pelo governo Geisel, mediante voto secreto de um parlamento desde aquela época com vocação para a falta de grandeza moral, é concedido com bastante facilidade.
Os intelectuais propõem novos horizontes derivados dos estudos psicológicos sobre a natureza da afetividade humana, chegando-se mesmo à aspiração de, como se diz, "uma sociedade sem pai".
As grandes mudanças sociais, históricas, políticas, econômicas repercutem na vida familiar. Poderíamos lembrar, dentre outros, a revolução agrícola (que propiciou diversas formas de estar juntos marido, mulher, filhos e agregados), a revolução industrial, os fluxos migratórios, as políticas salariais, habitacionais, sanitárias etc.
A comemoração do Dia dos Pais, atualmente, nos coloca vários tipos de reflexões. É claro que todo pai gosta de ser paparicado. Mas, para além dos almoços, desenhos das crianças, gravatas, cintos, carteiras, meias, garrafas de vinho, porta-retratos e camisetas de times de futebol ..., o que mais deve ser comemorado? Será que os pais ainda são os garantidores daquele espaço de convívio, cumplicidade, sociabilidade, liberdade e sobretudo diálogo e amor sem os quais a vida torna-se invivível? Será que o lar que os pais proporcionam aos filhos ainda é o espaço humanizante, de re-fontização e de alegria, que nos distancia da servidão de muito chefete, de certos patrões, do escritório, da fábrica, do governo?
A família mudou e ainda vai mudar. Mas há algo que não muda e que assegura o princípio da continuidade evolutiva: os pais. Não existe pai sem mãe. Se for verdade, como nos ensinam os cientistas, que num certo momento deve ter havido uma auto-reprodução, a partir de então todo ser vivo tem um pai. E quem diz "pai" diz fonte de vida. Quem tem fé religiosa vai mais longe e identifica em Deus a fonte da vida.
É claro que a nossa maior alegria volta-se para o pai que temos mais próximo, que é a fonte imediata de nosso nascimento. É verdade que o registro do nascimento não nos leva muito longe. Mas com a nossa imaginação refazemos o percurso de uma alucinante aventura, que remonta a bilhões de anos e nos projeta na origem da própria vida em nosso planeta. Velho ou jovem, o nosso pai tem, de fato, uma história bilenar. Somos os derradeiros rebentos da imensa e misteriosa árvore da vida.
Não nos impressionemos com a vertigem das quantidades. Deixemo-nos inebriar pela qualidade da sempre nova criação paterna, expressa - como dizem os filósofos - "pelo pathos (afetividade), pelo logos (razão), pelo eros (paixão), pelo daimon (voz interior) e pelo ethos (ética) com que nossos pais nos fizeram seres irredutíveis (indivíduos), mas sempre abertos à comunicação (pessoas)".
Realmente, temos de venerar e celebrar os nossos pais!
O próprio modelo de constituição da família se alterou enormemente. Será que todos nos lembramos que o rapto já foi prática corrente - e legítima - para a constituição de lares ? Mais comum que o rapto foram os expedientes dos arranjos patrimoniais familiares e a compra. Ainda hoje, em várias partes do mundo, a instituição do dote é de tal modo imperativa que podemos considerá-la como sucedâneo da compra.
Os avanços no aperfeiçoamento do regime familiar não impediu, contudo, que certas práticas arcaicas - e que hoje são consideradas "modernas" - se mantivessem como realidades sociais, tais como o divórcio, o concubinato, as relações extraconjugais.
A partir do século XI, sobretudo com o desenvolvimento das universidades em toda a Europa, renovaram-se os saberes filosóficos, jurídicos e teológicos, possibilitando substancial remodelagem de idéias sobre sexualidade, matrimônio e família. Impensável, hoje, ou pelo menos inadmissível, que uma família seja constituída ao arrepio do mútuo consentimento entre um homem e uma mulher, que chamamos de matrimônio-aliança.
Não obstante, os tempos atuais lançam uma série de novos desafios para a família. Para alguns, vivemos numa sociedade pós-matrimonial. As relações sexuais fora do matrimônio não chegam a causar tanto espanto, inclusive porque as modernas tecnologias facilitam o controle da natalidade. A estabilidade já nem sequer é considerada em várias camadas da sociedade, tomando-se todas as precauções jurídicas para o "day after" da separação, mesmo porque o divórcio, essa pérola militarista legada pelo governo Geisel, mediante voto secreto de um parlamento desde aquela época com vocação para a falta de grandeza moral, é concedido com bastante facilidade.
Os intelectuais propõem novos horizontes derivados dos estudos psicológicos sobre a natureza da afetividade humana, chegando-se mesmo à aspiração de, como se diz, "uma sociedade sem pai".
As grandes mudanças sociais, históricas, políticas, econômicas repercutem na vida familiar. Poderíamos lembrar, dentre outros, a revolução agrícola (que propiciou diversas formas de estar juntos marido, mulher, filhos e agregados), a revolução industrial, os fluxos migratórios, as políticas salariais, habitacionais, sanitárias etc.
A comemoração do Dia dos Pais, atualmente, nos coloca vários tipos de reflexões. É claro que todo pai gosta de ser paparicado. Mas, para além dos almoços, desenhos das crianças, gravatas, cintos, carteiras, meias, garrafas de vinho, porta-retratos e camisetas de times de futebol ..., o que mais deve ser comemorado? Será que os pais ainda são os garantidores daquele espaço de convívio, cumplicidade, sociabilidade, liberdade e sobretudo diálogo e amor sem os quais a vida torna-se invivível? Será que o lar que os pais proporcionam aos filhos ainda é o espaço humanizante, de re-fontização e de alegria, que nos distancia da servidão de muito chefete, de certos patrões, do escritório, da fábrica, do governo?
A família mudou e ainda vai mudar. Mas há algo que não muda e que assegura o princípio da continuidade evolutiva: os pais. Não existe pai sem mãe. Se for verdade, como nos ensinam os cientistas, que num certo momento deve ter havido uma auto-reprodução, a partir de então todo ser vivo tem um pai. E quem diz "pai" diz fonte de vida. Quem tem fé religiosa vai mais longe e identifica em Deus a fonte da vida.
É claro que a nossa maior alegria volta-se para o pai que temos mais próximo, que é a fonte imediata de nosso nascimento. É verdade que o registro do nascimento não nos leva muito longe. Mas com a nossa imaginação refazemos o percurso de uma alucinante aventura, que remonta a bilhões de anos e nos projeta na origem da própria vida em nosso planeta. Velho ou jovem, o nosso pai tem, de fato, uma história bilenar. Somos os derradeiros rebentos da imensa e misteriosa árvore da vida.
Não nos impressionemos com a vertigem das quantidades. Deixemo-nos inebriar pela qualidade da sempre nova criação paterna, expressa - como dizem os filósofos - "pelo pathos (afetividade), pelo logos (razão), pelo eros (paixão), pelo daimon (voz interior) e pelo ethos (ética) com que nossos pais nos fizeram seres irredutíveis (indivíduos), mas sempre abertos à comunicação (pessoas)".
Realmente, temos de venerar e celebrar os nossos pais!