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Uma carta e o sonho de fazer um novo amigo
Por Márcia Rodrigues    19 de outubro de 2005
Todos os meses, o senhor Otaviano Sousa Brito, de 82 anos, aguarda ansioso pelas voluntárias dos programas "Escreve Cartas" e "Adote um Idoso" na instituição de caridade A Mão Branca para se corresponder com seus familiares, amigos e outros idosos que também participam da iniciativa. "Tem mês que ele escreve cerca de sete cartas", conta a voluntária Ângela Maria Chiquetto, que visita periodicamente as sete instituições de caridade cadastradas no projeto.
Inspirado na personagem Dora que o diretor Walter Salles levou às telas de cinema de todo o país, com o filme Central do Brasil, o programa foi implantado em outubro de 2001 em dois Poupatempos da cidade: Santo Amaro e Itaquera. Desde então, Dora, que no filme foi interpretada por Fernanda Montenegro, e escrevia cartas para migrantes analfabetos na estação carioca de trens, vem inspirando uma legião de voluntários a participar do projeto.
Ao todo, 120 voluntários escrevem cartas e preenchem formulários gratuitamente, durante duas horas por dia, com direito a selo, papel, envelope e postagem, por conta de uma parceria feita com os Correios.
Desde a sua criação, mais de 61 mil cartas foram escritas e vários idosos puderam conhecer novas pessoas por meio da escrita, além de se corresponder com parentes e amigos. Todos os meses, religiosamente as instituições recebem a visita dos voluntários. Mas o atendimento aos idosos não é feito por todos os participantes do projeto.
Para participar é preciso passar por uma triagem, que inclui cursos e avaliação psicológica. Para os mais ocupados que também desejam se incorporar ao programa, outra opção é se corresponder com os idosos diretamente de casa. "Eles adoram quando chegam cartinhas de outros voluntários interessados em saber um pouco sobre sua vida", diz Ângela. Neste caso, basta entrar em contato com um dos Poupatempo, dar seu nome e endereço que receberá uma carta com os dados do idoso com quem vai começar a se corresponder.
As "moças das cartas", como os idosos chamam as voluntárias, vão às instituições para redigir novas correspondências e ler as que eles receberam de parentes e amigos. Além, é claro, de ouvir suas histórias e conversar com eles. "Nós temos os idosos cativos, que escrevem cartas sempre que visitamos a instituição, e os que às vezes se aproximam para acompanhar o nosso trabalho e enviar a sua cartinha", diz Angela, que realiza este trabalho há três anos e meio.
Ela conta que o contato inicial é sempre feito por elas porque normalmente o idoso é muito reservado. "Claro que tem os que brincam e levam a vida com muita tranquilidade e perseverança mesmo tendo problemas de saúde muito sérios", acrescenta.
As voluntárias Maria Zélia e Maria José contam que os idosos ficam muito felizes quando recebem cartas de seus novos amigos. Uma parceria feita com duas escolas particulares e outros asilos, também possibilitou o intercâmbio entre crianças e idosos. "O mais interessante é que quando estamos redigindo uma carta e percebemos que aquele idoso tem muita afinidade com um que atendemos em outra instituição, sugerimos que comecem a trocar cartas", conta Ângela.
A reportagem do Diário do Comércio acompanhou a visita dos voluntários na casa "A Mão Branca" para ver como é um dia de quatro voluntárias: Ângela, Maria José, Maria Zélia e Margot Molnar Cintra, coordenadora do Projeto Escreve Carta.
Surpresa – Logo que chegamos ao local, nos surpreendemos com o carinho com que foram recebidas pelos idosos, que já estavam acostumados com suas visitas. Alguns, inclusive, eram tratados pelos seus nomes.
A primeira que procurou o grupo foi Regina Ferreira, de 71 anos, com a triste notícia de que sua irmã Rosalina, de 84 anos, que também morava no asilo, tinha falecido há 25 dias. As voluntárias conversaram um pouco com ela, que foi ao seu quarto buscar antigos envelopes com as cartas que tinha recebido para responder. A escolhida para receber sua próxima carta foi sua sobrinha de segundo grau que sempre se corresponde com ela.
Regina conta que sabe ler e escrever, mas "não consegue ordenar as palavras corretamente", por isso precisa do auxílio das voluntárias para elaborar uma carta. "Elas são muito atenciosas e conseguem escrever o que a gente quer, mas tem dificuldades para colocar no papel", diz.
Enquanto Regina era atendida por Maria José, a idosa Conceição Luiz da Costa, de 80 anos, escrevia uma carta para uma das crianças que participam do programa, com a ajuda de Maria Zélia. "Sempre digo para meus amiguinhos que estou rezando por eles e que minha oração é muito forte", comenta.
Pela primeira vez, desde o início das visitas das voluntárias ao asilo, o senhor Silvio Fiusa, de 82 anos, resolveu mandar uma "cartinha" carinhosa para uma de suas filhas. "Eu morei um tempo com a Ivone antes de vir para cá. Ela não queria que eu viesse, mas achei melhor para não incomodá-la", lembrou. Ele, com o apoio de Ângela, quis saber como estão os netinhos e os outros irmãos: Roberto, Neusa e Silvio, o mais velho. "Apesar de morar aqui, sempre encontro meus filhos, principalmente a Ivone", conta.
No final do dia, as voluntárias terminam o seu trabalho, voltam ao Poupatempo com uma kombi, cedida justamente para seu transporte, deixam o material e vão para suas casas com o sentimento de "dever cumprido". "É muito gratificante esta troca de experiência. Ainda mais quando sabemos que estamos ajudando alguém", finaliza Margot.
Serviços:
O Projeto Escreve Cartas está com inscrições abertas para novos voluntários. Para participar é preciso ter mais de 18 anos, ser paciente e bom ouvinte. Os interessados devem participar de uma palestra. A inscrição deve ser feita pelo telefone: (11) 6859-3124.
Inspirado na personagem Dora que o diretor Walter Salles levou às telas de cinema de todo o país, com o filme Central do Brasil, o programa foi implantado em outubro de 2001 em dois Poupatempos da cidade: Santo Amaro e Itaquera. Desde então, Dora, que no filme foi interpretada por Fernanda Montenegro, e escrevia cartas para migrantes analfabetos na estação carioca de trens, vem inspirando uma legião de voluntários a participar do projeto.
Ao todo, 120 voluntários escrevem cartas e preenchem formulários gratuitamente, durante duas horas por dia, com direito a selo, papel, envelope e postagem, por conta de uma parceria feita com os Correios.
Desde a sua criação, mais de 61 mil cartas foram escritas e vários idosos puderam conhecer novas pessoas por meio da escrita, além de se corresponder com parentes e amigos. Todos os meses, religiosamente as instituições recebem a visita dos voluntários. Mas o atendimento aos idosos não é feito por todos os participantes do projeto.
Para participar é preciso passar por uma triagem, que inclui cursos e avaliação psicológica. Para os mais ocupados que também desejam se incorporar ao programa, outra opção é se corresponder com os idosos diretamente de casa. "Eles adoram quando chegam cartinhas de outros voluntários interessados em saber um pouco sobre sua vida", diz Ângela. Neste caso, basta entrar em contato com um dos Poupatempo, dar seu nome e endereço que receberá uma carta com os dados do idoso com quem vai começar a se corresponder.
As "moças das cartas", como os idosos chamam as voluntárias, vão às instituições para redigir novas correspondências e ler as que eles receberam de parentes e amigos. Além, é claro, de ouvir suas histórias e conversar com eles. "Nós temos os idosos cativos, que escrevem cartas sempre que visitamos a instituição, e os que às vezes se aproximam para acompanhar o nosso trabalho e enviar a sua cartinha", diz Angela, que realiza este trabalho há três anos e meio.
Ela conta que o contato inicial é sempre feito por elas porque normalmente o idoso é muito reservado. "Claro que tem os que brincam e levam a vida com muita tranquilidade e perseverança mesmo tendo problemas de saúde muito sérios", acrescenta.
As voluntárias Maria Zélia e Maria José contam que os idosos ficam muito felizes quando recebem cartas de seus novos amigos. Uma parceria feita com duas escolas particulares e outros asilos, também possibilitou o intercâmbio entre crianças e idosos. "O mais interessante é que quando estamos redigindo uma carta e percebemos que aquele idoso tem muita afinidade com um que atendemos em outra instituição, sugerimos que comecem a trocar cartas", conta Ângela.
A reportagem do Diário do Comércio acompanhou a visita dos voluntários na casa "A Mão Branca" para ver como é um dia de quatro voluntárias: Ângela, Maria José, Maria Zélia e Margot Molnar Cintra, coordenadora do Projeto Escreve Carta.
Surpresa – Logo que chegamos ao local, nos surpreendemos com o carinho com que foram recebidas pelos idosos, que já estavam acostumados com suas visitas. Alguns, inclusive, eram tratados pelos seus nomes.
A primeira que procurou o grupo foi Regina Ferreira, de 71 anos, com a triste notícia de que sua irmã Rosalina, de 84 anos, que também morava no asilo, tinha falecido há 25 dias. As voluntárias conversaram um pouco com ela, que foi ao seu quarto buscar antigos envelopes com as cartas que tinha recebido para responder. A escolhida para receber sua próxima carta foi sua sobrinha de segundo grau que sempre se corresponde com ela.
Regina conta que sabe ler e escrever, mas "não consegue ordenar as palavras corretamente", por isso precisa do auxílio das voluntárias para elaborar uma carta. "Elas são muito atenciosas e conseguem escrever o que a gente quer, mas tem dificuldades para colocar no papel", diz.
Enquanto Regina era atendida por Maria José, a idosa Conceição Luiz da Costa, de 80 anos, escrevia uma carta para uma das crianças que participam do programa, com a ajuda de Maria Zélia. "Sempre digo para meus amiguinhos que estou rezando por eles e que minha oração é muito forte", comenta.
Pela primeira vez, desde o início das visitas das voluntárias ao asilo, o senhor Silvio Fiusa, de 82 anos, resolveu mandar uma "cartinha" carinhosa para uma de suas filhas. "Eu morei um tempo com a Ivone antes de vir para cá. Ela não queria que eu viesse, mas achei melhor para não incomodá-la", lembrou. Ele, com o apoio de Ângela, quis saber como estão os netinhos e os outros irmãos: Roberto, Neusa e Silvio, o mais velho. "Apesar de morar aqui, sempre encontro meus filhos, principalmente a Ivone", conta.
No final do dia, as voluntárias terminam o seu trabalho, voltam ao Poupatempo com uma kombi, cedida justamente para seu transporte, deixam o material e vão para suas casas com o sentimento de "dever cumprido". "É muito gratificante esta troca de experiência. Ainda mais quando sabemos que estamos ajudando alguém", finaliza Margot.
Serviços:
O Projeto Escreve Cartas está com inscrições abertas para novos voluntários. Para participar é preciso ter mais de 18 anos, ser paciente e bom ouvinte. Os interessados devem participar de uma palestra. A inscrição deve ser feita pelo telefone: (11) 6859-3124.